sábado, 19 de dezembro de 2009

MENSAGEM DE NATAL

O fim do ano chega e, junto com o cansaço pela correria desenfreada do ano todo, vem a sensação de que tudo se repete. Novamente os shoppings enfeitados, novamente as pessoas se endividando para comprar presentes, novamente nossos corações se enchendo da esperança de que, no outro ano, as coisas venham a ser diferentes.
A mágica do sonho toma forma de fé e passamos mesmo a acreditar que as pessoas se respeitarão mutuamente, cuidarão da natureza como de suas próprias casas, conseguirão se colocar no lugar umas das outras e, assim, compreender mais, tolerar mais, confiar mais. A questão é que ter fé implica numa ação posterior, em serviço, em doação de dons, em amor. Não podemos acreditar que o amor vai se derramar de forma instantânea (como instantâneas são a maioria das coisas que a sociedade nos oferece hoje – instantâneas e automáticas!) porque amor é relação, é comportamento, é gesto concreto.
Amor, sentimento recheado de devaneios e florido de coisas abstratas deve ficar no encanto dos contos de fadas. Amor de verdade implica em cuidar, em respeitar as diferenças, em reconhecer a existência dos espinhos nas rosas que plantamos em nossos jardins, compreendendo os porquês e para quês deles (ou simplesmente aceitando-os) e, ao mesmo tempo, não permitindo que a existência deles sobrepuje o perfume e o colorido das pétalas.
Toda vez que olho um presépio fico encantada porque sinto o amor retratado na simplicidade daquela cena... Viajo na nossa incoerência: enquanto o Menino Deus nasce num estábulo, nós corremos pela contramão, colocando cada vez mais condições e senões para que as coisas aconteçam.
Olhando para o presépio, sinto saudades da simplicidade da vida, da possibilidade de conversar com um vizinho na porta de casa, da emoção por receber uma carta surpresa de um amigo distante, de andar a pé pelas ruas, sem destino, de dar gargalhadas de uma piada sem graça numa roda de amigos, de olhar as estrelas e ficar pensando em qual delas estará a rosa do Pequeno Príncipe...
Perdemos a ingenuidade, a singeleza das coisas simples do dia-a-dia. Perdemos a ternura, a experiência de comunhão, a atitude de presença contidas em valores como família e amizade. E encontramos o quê no lugar disso?
É...É, sim, mais um fim de ano que chega e, mais uma vez, eu me inspiro e me inquieto com o desejo de mudar, de ser uma pessoa melhor, de dizer SIM para as “coisas de Deus” com a mesma firmeza, determinação e confiança com que Maria respondeu ao anjo.
Mais uma vez eu entrego meu pacote de limitações, erros e espinhos nas mãos de Deus, pedindo que Ele seja sempre a minha força motriz e que me transforme em alguém melhor. Que eu seja capaz de trabalhar, em cada gesto do meu dia-a-dia, por um mundo onde justiça, dignidade e paz não sejam utopias esquecidas nas folhas de um dicionário.Finalmente, mais uma vez, mas a cada vez de uma forma mais intensa, eu desejo que o Menino Jesus nasça no coração de cada um de nós, transformando sofrimentos em consolo, turbulências em tranquilidade, desalentos em esperança e esperanças em certezas.
Assim, e somente assim, com Ele vivo dentro de nós, seremos capazes de ser, efetivamente, instrumentos de paz. E refletiremos, genuinamente, o amor que se consolida na verdade de nossas intenções e na gratuidade de nossas ações.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Mudança de Estação

O tempo fechou,
o céu que era azul nublou
e a luminosidade caiu.
A vida ganhou um tom acinzentado,
neblina, falta de visibilidade...
Na estrada, somente a possibilidade de enxergar
o palmo seguinte
mais nada !
No coração, apenas a certeza do presente
mais nada !
Esperança e confiança
teimando em ganhar o espaço ocupado pelo medo.
E o dedo de Deus a indicar um rumo
onde há brilho,
um trilho
que leva a um lugar de paz.
Trilho que vai e volta,
que chega e sai,
e entre curvas diversas
chega em travessas escondidas,
esquecidas dentro de mim.
Choveu ! Chove forte...
A brisa rapidamente se fez ventania,
desabamentos,alagamentos,
tempestade levando embora
sonhos de um amanhã
abafados em um agora sem chão.
Sem chão !
Emoções misturadas,
sensações indecifráveis,
desejos confundidos entre vontades não compreendidas,
experimentadas na ânsia de soluções,
na dor das indefinições,
na mistura de sentimentos sem nomes,
que ora me levam pra fora
e despertam em mim a necessidade de asas
que me permitam alçar vôo sem bússolas;
mas ora me acasulam num fio que me fecha
e me guarda
num tempo que está além do cronômetro
e das surpresas de cada dia.
Cada dia...
Cada dia com suas surpresas e suas emoções,
cada dia com seus abraços e seus tropeços,
cada dia com a magia que une corações
num laço que irmana
e emana o amor de Deus,
cada dia com a alegria de um amor
que traz novos significados sempre,
sempre !
Sol de primavera e chuva de verão,
luz e escuridão
e a bela certeza de que a vida
se compõe com a soma de cada estação.
Que venha a chuva...
Toda chuva passa
e só a chuva renova a vida,
por mais que haja destruição;
só a chuva garante a vida
das sementes que dormem ao chão.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Santa Teresa de Ávila



Santa Madre, Madre Santa
Santa Madre da beleza de uma fé incandescente,
Tereza da entrega, da humildade e da superação,
da força que vence o corpo doente,
da energia que vibra em sua entrega incondicional.
Certeza do bem que vence o mal,
presença forte e frágil, sem contradição...
Tereza: testemunho de vida vivida em oração.
Santa Madre do perfume que se exala por todos os cantos,
seu encanto se esconde no que está além de nós,
sua voz, sua força, sua determinação.
Tereza que exercita a obediência na adversidade,
que cultiva a paciência nas horas de tribulação,
Tereza que se supera no sofrimento,
que encontra alento no Colo de Jesus,
Tereza que encara sua cruz com a grandeza
de quem sente a dimensão da luz
que transcende a dor !
Santa Madre da resignação e da tolerância,
Tereza da fragrância do paraíso,
de um sorriso que nasce da alma que se despoja de tudo o que é superficial.
Resplandece com o brilho de quem, em tudo que toca, transforma
pela grandeza de sua força espiritual.
Santa Tereza D’Ávila, santa beleza mágica,
Santa Madre do puro amor.



sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Reflexão sobre a Oração de São Francisco



Senhor, fazei-me um instrumento de vossa paz
... em todos os lugares, em todos os momentos, no tumulto, nos desencontros, na correria do cotidiano, assim como na simplicidade de cada encontro com amigos, com a família e na intimidade de nosso próprio “eu”.
Onde houver ódio que eu leve o amor
... o amor que é generoso, que não pede recompensas, que é palavra e atitude, presença que transforma, vida que reconstroi a vida a cada instante.
Onde houver ofensa que eu leve o perdão
... perdão que exige despojamento e humildade, coragem e entrega, revisão de vida, reconciliação.
Onde houver discórdia que eu leve a união
... a consciência de que nossas diferenças nos fazem crescer, que a diversidade de talentos, de opções, de opiniões não devem desagregar nossa grande família mas sim, pelo contrário, devem nos fazer perceber o quanto temos a aprender uns com os outros.
Onde houver dúvida que eu leve a fé
... a certeza de que “depois da noite, vem o amanhecer”, a confiança de que o comandante do barco é nosso Pai, Pai que é amor e que, justamente por isso, jamais no abandona.
Onde houver erro que eu leve a verdade
... mesmo sabendo que errar faz parte de nossa lição diária, que cair faz parte de nossa caminhada, é preciso sempre apontar para a verdade, buscá-la e testemunhá-la.
Onde houver desespero que eu leve a esperança
... resgatar a criança adormecida em nossos corações, a criança que levanta pra correr e sorri (mesmo depois de chorar!) após cada queda; a criança que acredita nos seus sonhos e, mais ainda, no poder de torná-los realidade.
... abandonar-se no amor desse Pai que nos acaricia a cada alegria e nos carrega no colo a cada dor.
Onde houver tristeza que eu leve a alegria
... aquela alegria que transforma nossa face, recarrega nossas energias, que se muiltiplica e nos mostra a possibilidade de trocarmos as lentes com que vemos o mundo.
Onde houver trevas que eu leve a luz
... sendo sol em dias de chuva, sendo estrela nas noites escuras, sendo, ainda que apenas a chama de um fósforo, uma fagulha de luz a iluminar os cantos escuros de cada coração.
Ó Mestre, fazei que eu procure mais
Consolar que ser consolado,
Compreender que ser compreendido
Amar que ser amado
Pois é dando que se recebe
É perdoando que se é perdoado
... que vençamos o desafio de deixar de olhar para nossos próprios umbigos, que saiamos da posição de quem espera para a de quem caminha, que descubramos que o bem que fazemos aos outros nos revigora, nos alimenta, nos proporciona a experiência mais plena de nos sentirmos os filhos muito amados de Deus.
E é morrendo que se vive para a vida eterna
... aprender que a nossa cruz é caminho de salvação. Lembrar sempre, a todo instante, a cada dificuldade, a cada noite nossa de cada dia, que a lagarta precisa do escuro do casulo... e precisa morrer para se tornar, então, borboleta.... conhecer o colorido e o perfume de cada flor e a liberdade de abrir as asas e ganhar o céu.
Amém !

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Maria das Dores



Quais são as dores de tantas Marias ?
Quem são as Marias de tantas dores ?
A dor do parto e da partida, a dor do medo e da aflição, a dor do susto e da incerteza, a dor de surpresas e de angústias, a dor da vida de cada dia, a dor dos dias de cada vida.
Maria da dor do filho com fome...que chora por um copo de leite ou um pedaço de pão. Maria desempregada que não tem como trazer o sustento e sofre no desalento da impossibilidade de saciar a fome daquele que gerou.
Maria da dor do filho perdido... largado na rua em meio às más companhias, sabe-se lá se perdido nas drogas, nas pontes, nas ondas das ofertas que a rua expõe e nada propõe a favor da vida... Maria incansável nos conselhos e nas orações, vencendo as preocupações na eterna e intensa tentativa de pastorear sua ovelha de volta ao rumo da luz.
Maria do filho desempregado, assustado com a agressiva competitividade, em que mais vale quem mais pode, onde mais pode quem mais tem... Maria que insiste na importância do conhecimento, da ética e da dignidade e ensina diariamente seu guerreiro a não desistir das batalhas ( por mais duras que sejam) e a acreditar em cada vitória,( por menor que pareçam aos olhos dos homens comuns).
Maria do filho agoniado de saudade e carente de um abraço apertado ou do colo macio que só mãe pode dar... Maria presa no engarrafamento ou atropelada nas exigências de sua profissão, Maria que briga com o relógio, tenta driblar afazeres, ganhando cada segundo a seu favor, conciliando compromissos e responsabilidades, desafiando-se a superar as adversidades que a mulher do século XXI encontra em cada esquina dessa louca realidade.
Maria do filho que vai para o deserto...tantos são os desertos de nosso tempo....Maria do filho que vence as tentações...tantas são as tentações de nosso tempo !
Maria do filho traído e negado por amigos, Maria do filho que cai e sangra a dor de cada queda, de cada espinho, de cada desafeto.
Maria do filho maltratado, indefeso e injustiçado,.... Maria do filho pregado na cruz.... tantas são as cruzes de nosso tempo ! Com certeza, entretanto, nenhuma delas mais pesada que a de Jesus.
Maria de Nazaré....mãe das Marias de nosso tempo, de tantas cruzes, de tantos medos, de tantas dores...
Maria das Dores , Maria da Fé, Maria do Amor que tudo suporta, tudo transforma e tudo transcende.
Maria que ensina e aprende a aceitar, a assumir a dor, a transformar a dor em caminho de lapidação.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Conviver


Grupos,tribos,guetos,
multidão
gente, raças, muros,
solidão.
Grupos, gente, times,
comunhão,
pontes, laços, vidas,
celebração.
Tantas diferenças, crenças,
tanto a discordar,
tantas coincidências,
tanto a criar.
Elos, pontes, laços,
fios a bordar.
Risos, sonhos, abraços,
traços a formar.
Tantos sofrimentos, lamentos,
vivências de dor,
paz de acolhimento
a trazer novo sabor.
Em cada caminho, ninhos
a juntar calor
sempre há espinhos
mesmo quando há flor.
Lutas desarmadas, caladas,
entre cada ser
lanças disparadas
pra sobreviver.
Brotos de esperança, confiança,
vontade de viver,
novas alianças
fazer acontecer.
Sonhos, planos, risos,
tempo de paz.
Partos, portos, pontes,
povos em paz.

Sonho de Paz

Sonho de paz
que embala nossa ânsia de felicidade
no desejo de viver, no centro da cidade,
a alegria dos encontros que alimentam a alma
e dão um colorido novo ao desafio de existir.
Sonho que nasce brotando no peito
buscando um jeito de ser mais feliz.
Sonho que brota nascendo na alma
a calma que ensina a ser sempre aprendiz.
Sonho de paz que incomoda e inquieta
é movimento de transformação.
Sonho que não se vende, que não se compra,
que não se ensina nem manipula.
Sonho que nasce livre e liberta,
sonho que desaperta o nó da angústia
e da desilusão.
Sonho que vibra sorrindo,
pulsando em cada coração.
Sonho que embala nossa ânsia de felicidade
no desejo de encontrar, no centro da cidade,
sonhadores conscientes trabalhando pela paz.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Pai Nosso pelos nossos pais


Pai Nosso que estais no céu,
olhai para nossos pais aqui na terra!
Que caia sobre eles, o Vosso Reino
e que, sempre, seja feita a Vossa vontade
de vê-los, sendo pais,
semear a felicidade no coração de seus filhos.
Dai a eles,
a força para lutar pelo pão de cada dia
e perdoa-lhes, cada vez que errarem.
Ajuda-os a se levantarem
e permite-lhes o conforto
de encontrar, no Vosso amor,
a fonte da paternidade que os torna grandes
grandes seres humanos,
grandes homens,
grandes pais.
Amém !
Renata Villela

terça-feira, 21 de julho de 2009

Desafio do silêncio

Nem sempre ouvir o silêncio é fácil...
Acostumados à surdez
imposta pelos barulhos constantes
é sempre um desafio
permitir-se o vazio
a ser preenchido pelo que chegar
na percepção do que nos é dito
pelas vozes que só falam
quando damos espaço para que nos envolvam
e nos abracem
dizendo-nos o que é preciso ser dito.
Que venha o rito do calar para ouvir,
a disciplina para não permitir
que ruídos externos exterminem
a essência do que há de essencial dentro de nós.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Desde sempre...amigos....
















Amigos de coração







Amigo

Vivemos uma vida muito corrida, atropelada entre os compromissos e os horários marcados. Estamos sempre nos desafiando a encontrar tempo para cultivarmos a alegria do compromisso que assumimos com aqueles que nos cativaram.
Amigo - como é maravilhosa a certeza da presença desse “outro” que transforma nossas vidas.
Conhece nossos méritos, admira nossos talentos e está sempre nos impulsionando a realizar, a conquistar, a construir uma vida mais feliz.
Conhece nossos espinhos, nossas falhas, nossos erros e está sempre nos dando aquele merecido puxão de orelhas que somente quem verdadeiramente ama é capaz de dar. Repreende-nos quando sabe que erramos porque acredita que podemos ser melhores do que estamos sendo.
Nos sustos, no medo..... como faz bem apertar firme a mão estendida de um amigo que nos diz: “Estou aqui!”
Na dor, na angústia, na tristeza..... como é acolhedor o abraço do amigo que nos faz sentir o calor de sua presença, nos trazendo a certeza dessa comunhão que tranqüiliza e anima.
Nas festas, nas alegrias....como emociona ver o sorriso do amigo que comemora, a nosso lado, cada uma de nossas vitórias.
Em todo e qualquer momento de nossas vidas, como é, realmente, maravilhoso perceber que não caminhamos sozinhos e que cativamos amigos que nos fazem crescer!
Que quando esse amigo chorar , estejamos presentes para consolá-lo e mostrar-lhe que toda tristeza é passageira.
Que quando esse amigo errar, sejamos firmes a lhe lembrar a direção da luz.
Que quando esse amigo sorrir, festejar e cantar, comemoremos, bem de pertinho, essa alegria que dá um colorido especial à existência.
E que respeitando nossos limites, perdoando nossas falhas, aparando nossos espinhos e compreendendo nossos desejos pessoais, consigamos sentir, nessa sintonia, a viva presença do Deus que é AMOR !

Renata Villela

Amigos Verdadeiros

Encontrar um amigo verdadeiro é descobrir que o sentido mais bonito da nossa vida está em vivermos em comunhão plena uns com os outros.
Mesmo que surjam quilômetros que atrapalhem o convívio, amigos verdadeiros conseguem caminhar juntos em qualquer lugar, na sintonia e na torcida pela felicidade um do outro.
Mesmo que os ponteiros do relógio corram e atropelem o tempo, amigos verdadeiros desafiam os minutos e vivem intensamente cada oportunidade de encontro.
Amigos verdadeiros captam olhares, compreendem o sentido de cada palavra e decifram o silêncio, percebendo em cada atitude, a mais bela expressão do amor que um amigo é capaz de sentir.
Amigos verdadeiros festejam e transbordam de alegria com o sucesso e com cada vitória do outro. Também sofrem, discutem, às vezes até se magoam mas renascem ainda mais amigos a cada reencontro.
Amigos verdadeiros se respeitam e, justamente no respeito à individualidade que os diferencia, crescem na alegria de se sentirem irmãos. Conhecem o valor das coisas mais pequeninas, se abraçam, se beijam, choram e dão gargalhadas. Escrevem a história a duas, três, tantas quantas forem as mãos que se unam para registrar no Universo, a emoção de comemorar a vida como um dom de Deus.
Amigos verdadeiros não se escolhem, se encontram. Não apenas se gostam, se amam ! São capazes de dar a vida uns pelos outros e, na lembrança de cada marca deixada prá trás , reconstroem seus sonhos e arregaçam as mangas para lutar, com toda garra, para torná-los realidade..
Amigos verdadeiros sabem que nunca estão sós porque amam, porque confiam uns nos outros, porque se sabem irmãos.

Renata Villela

sábado, 27 de junho de 2009

Herança de Pedro e Paulo

Discípulos como Pedro e Paulo

Queremos ser discípulos atentos, missionários dispostos a levar o Evangelho onde quer que haja corações humanos sofrendo ou sorrindo. Com Pedro e Paulo, queremos aprender muito, sempre ! Queremos herdar:
De Pedro, a humildade;

de Paulo, a determinação;
de Pedro, a sinceridade,
de Paulo, a comunicação;
de Pedro, a intimidade;
de Paulo, o desapego;
de Pedro, a superação;
de Paulo, a conversão;
de Pedro, o congregar;
de Paulo, o espalhar;
de Pedro, a reverência;
de Paulo, a ousadia;
de Pedro, a simplicidade;
de Paulo, a compreensão;
de Pedro, a essência da humanidade;
de Paulo, a consciência dessa humanidade;
de Pedro, a coragem de rever caminhos;
de Paulo, a coragem de criar caminhos;
de Pedro, a fortaleza de ser pedra;
de Paulo, a liberdade de criar asas.
Dos dois e de cada um em particular,
a capacidade de ser pilar,
de acreditar além dos desafios e das barreiras,
de se entregar no compromisso e na consciência
da missão que vence fronteiras.
Homens que fizeram o que tinha de ser feito
porque sabiam que o que tinha de ser feito
era o plano de Deus.
Renata Villela

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Amar


Amar...
amar é sentir a presença de Deus a cada momento,
no dar e receber uma mensagem, ver juntos o pôr-do-dol,
caminhar na praia, olhar a lua cheia, receber aquela florzinha perdida no meio do mato,
assistir um filme, comer pipoca, dar um abraço apertado...
fazer juntos uma oração por quem se ama, correr no parque, deitar na grama,
sonhar....


Amar é desafiar-se a todo instante,
descobrir que pode ser "formiga" aquele problema que pensávamos ser "elefante",
achar que somos fracos mas a presença do outro nos faz sentir gigantes,
acreditar que é possível vencer barreiras, ultrapassar fronteiras
chegar a qualquer lugar onde se realmente deseje chegar,
apostar, investir, acreditar, construir....


Amar é doar-se sem medo,
sentir que vale a pena a entrega,
sentir que vale a pena ceder, deixar o outro crescer,
torcer para o outro vencer...
Descobrir que quem se doa reciprocamente
experimenta o milagre de uma felicidade crescente
que traz a sensação de uma vitória permanente e comum,
comungada mesmo nos tropeços e nos recomeços...


Amar é se doar, é partilhar, é ser cúmplice, é ser parceiro,
é ser companheiro, é ser complemento...
Amar é reviver a lembrança do que passou... mas ficou...
é viajar na esperança de cada plano...sonhar...deixar-se levar... voar...
mas é, sobretudo, fazer do aqui e do agora,
o mais belo PRESENTE de Deus ...


Amar é tudo o que não se pode definir....
mas é sentir ardendo no peito
a certeza de que a felicidade existe !


Renata Villela

sábado, 6 de junho de 2009

Fome

Nosso povo tem fome de feijão, tem fome de pão.
Nosso povo tem fome de solidariedade e de liberdade,
de visão crítica e consciência política.
Nosso povo tem fome de saúde e educação,
de ser tratado com dignidade, como nação.
Nosso povo tem fome de arte
e de se sentir parte integrante da raça humana.
Nosso povo tem fome de esporte,
de oportunidade, de emprego...
Nosso povo tem fome de um enredo para sua própria história.
Nosso povo tem fome de justiça, de respeito,
de verdade, de integridade, de reconhecimento.
Nosso povo tem fome de comida, de saneamento,
de moradia, de alegria e de paz.
E nós ?
Somos gente mestiça que acredita na justiça
e na força da nossa integração.
Em cada mão, trazemos a possibilidade de um novo caminho,
em cada consciência, a oportunidade de uma nova plantação.
Queremos plantar sonhos que se tornem realidade
conscientes de que só assim colheremos,
do esforço e do empenho de cada cidadão,
a nação que desejamos, a nação que merecemos:
Nação de um povo sem fome,
Nação com nome : BRASIL !


Renata Villela

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Família Humana

Tantas raças diferentes,
Tanta gente em todo canto,
Povos fazendo guerra,
Terras em tom de pranto.

A mesa está vazia,
Falta oração, falta alegria,
Restou o silêncio da falta de encontros,
Ficou o vazio da falta do encanto
De conviver.

Pessoas se fizeram ilhas,
Ilhas sem pontes,
Solidões que se esbarram na turba,
Corações que se perdem na curva
Do tempo.

Tempo, tempo,
Ainda há tempo de transformar,
Criar laços, andar passos
Ao encontro de alguém.
Hoje é o tempo de cultivar,
Tolerância, paciência
E acreditar no bem.
Entre espinhos e carinhos,
Exercitando perdão,
Amor que se faz aos pouquinhos
E passa qualquer estação.

Do imperfeito que pulsa em nós,
Nasce o desejo que irmana
Pessoas, antes tão sós,
Agora a família humana.
Sagrada família humana,
Humana família de Deus,
Contagiando seus sonhos,
Reescrevendo a história
Na glória do amor que transforma,
Dá forma ao sonho de Deus.

sábado, 9 de maio de 2009

Para as mães

Queria escrever uma mensagem bonita para todas as mães, mas não consigo encontrar as palavras certas que expressem com exatidão o que quero dizer...
Na verdade, mais do que dizer, quero é desejar a todas as mães que tenham força e coragem para cumprir essa missão, ao mesmo tempo tão linda e tão difícil. E, a todos os filhos, que olhem para suas mães com os olhos do coração!
Que o sorriso de cada filho seja, para todas as mães, a fonte inspiradora para todas vezes em que a possibilidade de conter lágrimas estiver além do poder das próprias mãos. É difícil para as mães ver um filho chorar...
Que a tranqüilidade gostosa de olhar, pelo canto da porta, um filho dormir traga a paz tão necessária para as noites em claro por causa da tosse ou da farra, da febre, do frio, da fome ou da festa, das tantas coisas que tiram o sono de quem ama.
Que o amor se multiplique e inunde a vida de cada mãe, pois só o amor é capaz de dar a exata medida do sim e do não, o discernimento para saber quando é hora de incentivar, de dar força e apoiar e quando é hora de chamar atenção, de alertar para os perigos ou antecipar consequências.
Que a gratuidade seja a base desse amor que não pede recompensas e se alimenta com cada vitória dos filhos, com cada momento, por mais simples que seja, de alegria, e com a certeza de que, apesar de todas as dificuldades que o mundo apresenta, apesar dos ventos contrários a soprar a direções distintas, o filho encontrou o caminho certo... E no caminho certo pisa firme !
Que a ansiedade pelos primeiros passinhos ou pelo primeiro dia na escola, que o estresse dos dias de prova no vestibular ou das primeiras vezes na direção do carro próprio, que o frio na barriga pelo dia do casamento ou da formatura, tudo isso tenha o recheio daquele sentimento mágico que, mesmo sem explicação, traz o sabor de uma sintonia que acalanta a alma e implica na certeza de que crescer, mesmo que doa, é bom demais !
Desejo que mães e filhos cresçam juntos e amem intensamente uns aos outros, amor que é carinho, é ternura, mas também é atitude diária, concreta, pelo bem comum. E, ainda que seja frase feita, que todos os dias sejam, verdadeiramente, dias das mães...E dos pais...E das famílias ! Que cada pessoa seja “presente” uma para a outra, independente do calendário anual de datas festivas ou da capacidade de comprar produtos que “simbolizem o amor”. Afinal, amor não se compra, amor se multiplica na medida em que é dado de verdade. Amor é arte e, como toda arte, não nasce da simples inspiração, implica em trabalho, trabalho interior de exercitar tolerância e paciência, compreensão e empatia.
Quando penso em maternidade, em sua essência, sinto crescer em mim a esperança de um mundo mais bonito, mais justo, mais terno... Que reguemos essa florzinha de esperança em nossos corações e que, alimentados pela essência do amor – em seu sentido primeiro -, cuidemos melhor de nossas mães... E cuidemos melhor de nossos filhos !

Renata Villela

sábado, 2 de maio de 2009

Crescer

Crescer implica em quebras, em dobras,
em dores.
Crescer implica em perdas, em atalhos,
em cascalhos no meio da estrada,
em caminhos diferentes dos sonhados,
em carinhos também.
Crescer implica em se perceber faltante,
paradoxo,
fraco e forte,
pequeno e gigante,
amante.
Crescer implica em desejo, em vontade,
em consciência de possiilidades,
em certeza das incertezas
que, juntas, levam à felicidade.
Crescer implica em risco, em rasgos,
engasgos e desconstruções;
em ameaças e medos,
em esperanças, em sonhos e anseios.
Crescer implica em amor, em ardor,
em calor que, do jeito que aquece,
também pode queimar.
Crescer implica em resgatar
tantas coisas que a gente esquece
no pressuposto de amadurecer.
Implica em encontrar o gosto que há no viver,
com prazer e responsabilidade,
percebendo os limites, respeitando-os,
sem perder a sede da inquietação.
Indignar-se diante do dito normal,
sair do circuito do “não faz mal”
e apostar nos passos da transformação
de si, de cada ambiente, da sociedade...
Por que não?
Crescer implica em enxergar o mundo
além do umbigo
em deixar de ver o “outro” como inimigo
ou concorrente
é ter a ousadia de lançar uma semente
na certeza de que toda árvore frondosa
começa assim.
Crescer é, também, às vezes diminuir.
É intuir, é descobrir-se sempre
mutante, errante,
ser pensante,
ser amante,
ser vivente.
E não apenas sobreviventes adoecidos
perdidos nos rótulos, nas fábulas,
na lógica do sucesso.
Crescer
é tentar fazer poesia,
é sentir pulsar a alegria e a agonia,
e surpreender-se com o tanto que há de caminho
por caminhar....
Renata Villela

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Povo diverso

Somos um povo tão diverso

imerso num mesmo sonho de comunhão.

Sonhamos em crescer com as nossas diferenças,

completando o que nos falta,

transbordando o que nos sobra,

conscientes de que somos

a soma dos opostos que se complementam.


Imensa é nossa vontade de ser feliz,

intensa é nossa alegria por ser aprendiz.

E a cada passo da trilha de nossa escalada

deixamos de ser ilha no meio da multidão.

Renata Villela

quinta-feira, 16 de abril de 2009

On the corner

Eu cresci ouvindo falar das ruas de Nova York, em cada esquina um idioma, mistura de raças e costumes, religiões e culturas.....Um lugar onde tudo é relativo, afinal conviver com as diferenças amplia o grau de flexibilidade das pessoas.... e a sociedade ganha uma pluri-verdade que traz o sabor do que é universal para cada esquina....
Nunca fui a Nova York mas moro na Bahia há 32 anos.... e sem querer ser bairrista, ufanista ou nacionalista, cada dia tenho mais certeza de que não preciso ir muito longe para ver situações das mais inusitadas que nascem dessa “mistura” que, como já propagandeado aos quatro cantos do mundo, “só se vê na Bahia”.
Quando penso que não vou mais me surpreender com nada, vem uma novidade que me faz pensar que, se não estou num dos lugares mais bonitos do mundo (tem gosto pra tudo!), estou com certeza num lugar em que as pessoas sabem viver melhor. Exercitam a criatividade e comungam bom humor junto com uma capacidade ímpar de transformar situações, re-significar sentimentos e escrever uma história nova a cada dia, com uma pitada de ousadia, irreverência e simplicidade. O que em outros lugares é um absurdo, aqui é natural; o que em outros lugares é inconcebível, aqui é cultural.... O que poderia chocar, faz rir.... O que poderia causar constrangimento ou irritação traz um gosto de surpresa que faz o coração se perguntar “como é que pode?” mas sem se sentir ofendido ou alfinetado....
Todo mundo sabe que a Bahia é terra festeira e o povo sai lavando um pouco de tudo o que existe na cidade, da igreja do Bonfim à Praia do Forte. Com água de cheiro ou com cerveja, com baianas vestidas com o traje mais tradicional ou com baianos e abaianados com seus abadás, encarando o calor da caminhada no asfalto na areia, lá vai o povo... Sob o espírito da fé ou sobre a graça da maré que sai levando (e lavando) tudo o que é gente, lá vai o povo...
Baiano é um povo retado e trabalhador, quem mora aqui é que sabe.... A questão é que baiano entende a vida pelo lado da alegria e da arte, do bom humor e da flexibilidade, da criatividade e da capacidade de transformação porque sabe que estresse enfarta, deprime, fragiliza e não traz solução diferente. Por isso esse povo mesmo sofrendo, chorando, “comendo o pão que o diabo amassou”, canta, dança, lava e reza porque sabe que “Deus é mais!” E é de todos !
Ontem, soube de mais um desses “causos” que nos calam.... Soube eu, que um padre novo chegou numa paróquia de Salvador. Logo, logo ele foi “convocado” para uma reunião: era mês de fevereiro e era necessária a autorização dele para uma festa tradicional do lugar, “ a lavagem dos cornos”. Isso mesmo ! Fazia parte da tradição do lugar, a reunião dos cornos para lavar as escadarias da igreja.... O padre anterior até os aspergia, água benta da verdadeira..... E aí? Como é que o pobre padre novo lida com uma situação dessas ?
- É este, mais um grupo de “excluídos” tentando se incluir na sociedade ?
- Um grupo de homens sofridos querendo a proteção de Deus ?
- Ou simplesmente um grupo de baianos bem assumidos querendo comemorar, com a proteção de Jesus, sob o olhar misericordioso de Nossa Senhora de Lourdes, entre terços e patuás, entre acarajés e abarás, a graça de saber que, independente “do que se tenha na cabeça”, é preciso ter muita alegria “bombando” no coração, pulsando no cotidiano e animando a vencer os tropeços, as trapaças e os trancos que a vida, de um jeito ou de outro, nos faz encarar ???.....
Com a indignação do inusitado, eu declaro meu amor por este povo que sempre surpreende e que, por isso, encanta ! Quem vai querer jogar pedras nos cornos ? Quem vai querer engolir o riso que escapole com as artes que esse povo inventa ? Quem vai tentar dizer que esse é um causo comum, que acontece em qualquer canto e que não causa espanto aos desavisados de plantão ?
Então ! Não importa se é chifre, boné, coroa ou trancinha que esse “meu” povo tem na cabeça, importa que tem seu reinado garantido na terra da fé e da alegria, do trabalho e da folia, da magia e da realidade. Aqui é a Bahia !
De alma lavada, resta-nos andar ! Andar com passo de baiano, que não é um passo qualquer.... “Andar com fé, que a fé não costuma falhar” ! A gente se vê por aí, on the corner ou com os cornos, na Barra, na Praça da Sé ou lá na porta da igreja para ver no que isso tudo vai dar.... E que seja o que Deus quiser !

Renata Villela

sábado, 11 de abril de 2009

O ovo de Páscoa

Vai chegando a Páscoa e o mundo vira criança à espera do ovo de chocolate... Pequenos, médios ou grandes, crocantes, amargos ou brancos, com ou sem surpresas, papéis coloridos, uma beleza !
Mas... qual o porquê do ovo de Páscoa ?
O colorido dos papéis, o sabor do chocolate... mas por que o ovo ?
Paixão, morte e ressurreição .... mas por que o ovo ?
Será que em algum momento, quando estamos correndo para escolher o tamanho e a marca de que mais gostamos, paramos para pensar por que é o ovo, o símbolo da Páscoa ?
O ovo é a marca da vida nova ! Quebrar as cascas, romper as barreiras de um mundo limitado e pequeno para se lançar na plenitude, abrir as asas, alçar vôo e buscar novos horizontes.
É Páscoa, tempo de passar das trevas para a luz, da morte para a ressurreição. Tempo de quebrar as cascas do egoísmo que endurece os corações e abrir as asas ao amor, à fraternidade e à vida verdadeira.
Que fique em nós, uma reflexão muito pessoal: como anda o ovo de nossa Páscoa interior ? Quebramos as cascas e nos lançamos, com coragem, a vivenciar o amor que desconhece limites e transcende fronteiras ? Ou permanecemos fechados e isolados em nossos pequenos mundos, presos a esses invólucros que, se por um lado nos protegem, por outro, muito mais nos impedem de conhecer a vida verdadeira, com todas as possibilidades de viver, sentir e amar, do jeito infinito que a ressurreição nos garante.
Mas sempre há tempo e sempre é tempo de reavaliar nossa caminhada !
Que consigamos quebrar nossos ovos de Páscoa e sintamos acontecer o milagre da vida nova em nossos corações ! Que nos libertemos de tudo o que limita nossa capacidade de amar e ressuscitemos das pequenas mortes de cada dia !
Não é preciso ter medo ! A cruz está vazia e as cascas ficaram para trás... Nosso Deus é um Deus ressuscitado, vitorioso e é ELE quem nos chama para, juntos, construirmos esse Reino tão sonhado.
Seguindo as marcas da história que ELE escreveu com o peso da cruz, a dor da paixão e a certeza da ressurreição,quebraremos nossas resistências, abriremos nossas asas e escreveremos nossa própria história com verdade, com dignidade e fé.

REnata Villela

sexta-feira, 10 de abril de 2009

"O grito, o silêncio, a esperança e a certeza"

Meu amor morreu.... Nosso amor morreu..... Finda-se uma história !
Acabou o tempo das grandes pregações, da cura dos doentes, da multiplicação dos pães....Morreu o Filho de Deus !
Contra todas as expectativas, ao contrário do que todos tinham como certeza, há solto no ar apenas o grito de um homem que chegou ao limite, experimentou todas as dores possíveis e, no auge do abandono, grita pelo Pai !
Grito quase de desespero, grito de solidão, de medo...quem sabe de desesperança.... Grito de quem levou sua missão LITERALMENTE até as últimas conseqüências e encontra, naquele momento, apenas o silêncio do Pai. Como suportar o silêncio de Abbá, o Paizinho presente em cada atitude e em cada gesto ? Largou-o no momento de maior dor ? Por que Deus silencia nos momentos de desespero ?
Silêncio de Deus !
Do vazio mais profundo, da dor mais intensa, da solidão mais dolorida nasce a última frase, que é de consolação e reencontro: “Tudo está concluído. Em Tuas mãos entrego meu espírito”
Em Tuas mãos, Abbá, Jesus entrega seu espírito, na certeza do acolhimento, na confiança da promessa de ressurreição.
Depois de ter abraçado a cruz como quem abraça toda humanidade sofredora, depois de ser crucificado de braços abertos como quem está a espera de quem quiser se chegar, Jesus se entrega, se abandona.... Não com o sentimento de quem foge ou desiste mas mergulhando na experiência de quem ama e confia, de quem se doa gratuitamente, como a criança que segue correndo e se joga nos braços do Pai.
Dos braços do Pai que o levanta após três dias, do coração do Pai que não desiste da humanidade, é que Jesus ultrapassa todas as barreiras, desarma todos os conceitos, quebra todas as convenções e, na simplicidade que marcou toda sua vida, ressuscita. Ele vive !
Cruz, morte, dor.... tudo é uma questão de significado e dimensionamento.
A cruz existe, não precisamos procurá-la mas, de um jeito ou de outro, ela chega a nós, ela chega a todos nós....
A morte existe, é a única certeza que temos desde o dia que nascemos, traz tristeza, traz arrependimentos, traz saudade.... Jamais escaparemos dela....
A dor existe, dor do abandono, da solidão, da falta de tantas coisas, da violência.... A dor das doenças e das descrenças que vamos encontrando pela nossa estrada.... Nascemos de uma dor forte !!!! Não fosse a dor do parto de nossas mães não estaríamos aqui.... Assim são as coisas de Deus..... Com sabedoria nos mostra que da dor nasce a vida.
Meu amor vive ! Nosso amor vive ! Jesus nos convida a resgatar a vida verdadeira ao longo de nossa existência. Pregado na cruz, Ele nos chama a ver além, a viver além das tantas coisas que parecem presentes do mundo, mas não são..... Fora da cruz, Ele nos ensina o segredo da entrega sem medo, da confiança no amor incondicional desse Pai que não mede conseqüências pela nossa felicidade, pela nossa salvação.
Fora da cruz, Jesus perdoa os nossos pecados e nos convida a também perdoar os que nos crucificam. Jesus nos relembra que somos filhos muito amados de Deus, resgata nossas esperanças, alimenta nossas certezas e restaura nossa capacidade de superação. Passada a experiência da cruz, do sofrimento e da morte, Jesus reacende em cada um de nossos corações, o brilho da confiança neste Amor invencível, que só morre para florescer, que só chega ao limite para nos mostrar que é lá no limite que conhecemos sua face mais gloriosa, a face do perdão, da misericórdia, da doação e do amor.

Renata Villela

sábado, 28 de março de 2009

Aprendendo...


Sei que ainda vou chorar,
sei que ainda vou sofrer,
vou tropeçar, posso cair
mas nada vai me fazer desistir
do que eu quiser sonhar.

Se tenho medo,
Tua cruz me ensina a coragem.
Se desanimo
Tua vida é a mensagem
que preciso ouvir,
entender e aprender
para ser, então,
muito mais feliz.

sábado, 21 de março de 2009

Diante de Jesus no Calvário.....

Assim tão fraco,
faz-me lembrar que Tua paz é o que me fortalece
nos tempos de maior tormenta.
Parado no tempo,
mostra-me que o sopro de Teu Espírito
é o que me movimenta.
Faminto de vida
faz-me sentir que Teu corpo, na Eucaristia
é o pão que me alimenta.

Perdão, meu Deus,
pelas vezes em que não consigo ver
o que preciso enxergar
e quando não sou capaz de ouvir
o que mais preciso escutar.

Sozinho no caminho
faz-me compreender o sentido dos sinais,
mostra-me para onde ir.
Abatido na tristeza
lembra-me que todo fim é também começo
de um novo tempo que está por vir.
Fechado na solidão,
integra-me na comunhão que restabelece
a força que me faz prosseguir.

Perdão, meu Deus,
por não conseguir confiar plenamente
quando o caminho é incerto
e por não conseguir Te encontrar intimamente
mesmo quando estás tão perto.


Renata Villela

sábado, 14 de março de 2009

Poesia

Poesia

Versos rimados ou não,
submersos na fantasia ou na realidade,
transformados em ritmo e forma.
Isso é poesia !

Sonhos brotados da alma,
palavras buscadas com calma,
inspiração com transpiração.
Isso é poesia !

Palavras vivas, verdades ditas
ou escondidas nas entrelinhas,
esforço e prazer, trabalho e ócio,
isso é poesia !

Pedra no mar, brilho do luar,
gente caminhando , pássaro pássaro voando,
isso é poesia !

Simplicidade esculpida letra a letra
com a emoção que escorre feito cachoeira,
em corredeira vencendo pedras,
na calmaria, rio ao mar...
Isso é poesia !


Renata Villela

sábado, 7 de março de 2009

Mulheres do Terceiro Milênio

Ser mulher neste início de milênio não é tarefa fácil, ainda mais quando consideramos que o cenário dessa atuação é um país como o Brasil.

Das nossas origens, da miscigenação das raças, herdamos um jeito de ser eclético, criativo e original. Convivemos com as dificuldades da labuta do dia-a-dia mas não deixamos de lado a alegria de quem vive com o coração dançando no ritmo de cada pulsação. Herdamos a experiência maternal, o convívio com a natureza e a parceria entre homem e mulher dos povos indígenas; a cultura, a religião e a postura feminina dos povos europeus e da África, o suor e a lágrima, a força e a coragem das escravas. Assim nascemos nós, mulheres brasileiras !

Se já houve o tempo em que não tínhamos direito ao trabalho, ao voto, nem sequer a dar opiniões, a ter voz, hoje representamos mais da metade da população produtiva de nosso país.

Independente das classes sociais a que pertencemos, não tem sido fácil levantar a bandeira de “ser mulher” com dignidade e honra.

Entre nós, estão as mulheres mais pobres, que desde cedo ganham as ruas, as casas de família ou os sub-empregos e se tornam as mães que se vêem eternamente divididas entre sair para batalhar o ganha-pão, fazer um curso supletivo e, ao mesmo tempo, ter que deixar seus filhos pequenos trancados em casa sozinhos.

Entre nós, estão as mulheres mais favorecidas, que sentem a necessidade de se tornarem profissionais competentes, pós graduadas, atropelam o tempo entre cursos e concursos e se tornam as mães já quase virtuais, obrigadas a deixar seus filhos nas creches, nos cursos, na casa de colegas, vendo a Terra girar pela Internet.

Sobreviver aos apelos comerciais, às necessidades pessoais, às crises sociais é, sem dúvida, o grande desafio de cada uma de nós, mulheres do novo milênio.

Alimentar o romantismo de adorar receber flores do homem amado, amamentar os filhos sabendo que é essa a base primeira de todo crescimento bio-psicológico, manter-se informada, ler, assistir noticiário, estudar. Trabalhar, suar, aperfeiçoar-se a cada dia... Ser mãe, filha, esposa, chefe ou subordinada, estudante, cidadã... Não é fácil ser mulher em nosso tempo !

Mulheres brasileiras, heroínas, sim ! Trabalhadoras, sensíveis, desbravadoras de um mundo que está por vir !

Não importa se das mãos calejadas das lavadeiras ou se das mãos higienizadas das cirurgiãs; não importa se das mãos que remexem o lixo das limpadoras de rua ou se das mãos bem tratadas das aeromoças; não importa se das mãos que seguram o lápis para rabiscar letras mal traçadas ou se daquelas que digitam monografias... Não importam quais são as mãos... Importa é a certeza de que são nas mãos de cada uma dessas mulheres e de todas elas juntas, que desperta um novo futuro para nosso país!

Dessa conquista, nasce a responsabilidade e o comprometimento. Desta nova realidade, nasce a possibilidade de uma sociedade mais justa onde homens e mulheres não concorram entre si mas sejam parceiros, partilhando a fortaleza de seu sexo frágil ou a fragilidade de seu sexo forte, com a vida focada numa única direção: a felicidade e a paz.

Renata Villela

quinta-feira, 5 de março de 2009

Tempo de Transformação - Parte 3

Não podemos deixar de saber o que é ser lagarta, conhecer tudo o que o chão tem a nos ensinar para que estejamos suficientemente maduros e convictos da responsabilidade de nos tornarmos borboletas ! Não podemos desprezar a cruz mas compreendê-la como fonte de aperfeiçoamento espiritual, como passaporte para a vida nova, para a felicidade verdadeira, para a luz e para a paz !
A certeza de que somos eternos mutantes é que nos move para a plenitude, nos encoraja a vencer os desafios, comemorar toda e qualquer vitória, por mais pequenina que ela possa parecer, nos impulsiona a partilhar tudo o que foi aprendido em cada experiência e a reconhecer, nessas experiências, a oportunidade de repensarmos nossa vida !

Esse é o exercício da Páscoa ! Essa é a mensagem da Quaresma! Esse é o segredo de nossa transformação … diária, contínua, crescente

Renata Villela

segunda-feira, 2 de março de 2009

Tempo de transformação - Parte 2

Viver a Quaresma em sua totalidade é buscar o porquê da escuridão, é estar consciente da necessidade de cada transformação, é saber “perder”, é acreditar que todo fim é o marco de um novo começo e que a luz só encontra seu valor depois de uma experiência de escuridão !
Não amamos os pregos, os espinhos, a taça de fel… amamos o “depois” do túmulo vazio, a presença em Emaús, o brilho do terceiro dia ! Não amamos a cruz que prendeu o corpo de um homem que pregou o amor e a dignidade… Amamos a significação que essa cruz passou a ter quando se tornou ponte para a Eternidade, consolidando nossos laços de Filhos com esse Deus que, mais do que nunca, se mostra Pai , tendo sido “O Filho” e ficando para sempre presente entre nós, como Espírito Santo !
Não amamos o Deus da morte, do sofrimento, do vazio, do fim ! Amamos o Deus da luz, da paz, da alegria, da ressurreição!
Por tudo isso, o que mais queremos é conseguir aceitar, a cada passo, o peso de nossa cruz, a dor de cada queda e compreender a presença de cada Verônica e de cada Cirineu em nossa caminhada… Simplesmente acreditar ! Ter fé ! Sentir a presença desse Deus que nos acolhe e nos escolhe para perpetuar essa Páscoa a todo instante ! Saber que só se é borboleta, depois de se ter sido lagarta, só se ressuscita depois que se morre, e morrer e ressuscitar pode ser um exercício diário, uma verdadeira experiência de oração e entrega !


Renata Villela

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Tempo de transformação - Parte 1

A Quaresma é, verdadeiramente, tempo de reflexão, de transformação interior, de passagem ! É momento de nos permitirmos entrar em nosso casulo interior para que consigamos penetrar na essência mais profunda de nosso ser e, assim, reconstruirmo-nos a partir de cada descoberta.
Tudo deve partir da nossa sede de felicidade enquanto filhos do Infinito ! É impossível experimentar a felicidade verdadeira na superficialidade, no efêmero e, como lagartas presas na terra, rastejar num limitado e obscuro horizonte… Não foi para sermos seres-lagartas que fomos criados ! Não nascemos para rastejar e nos prender ao chão ! Não estamos aqui para cavarmos buracos e nos enterrarmos na escuridão ! Nascemos para a liberdade, para a plenitude, para a luz ! Nascemos para abrir asas e descobrir o infinito de um céu que contagia e emociona ! Nascemos para ser borboletas de Deus !!!
Entretanto, a passagem de lagarta à borboleta não se dá feito num passe de mágica… Precisamos do casulo, precisamos sentir a dor da transformação, redimensionar nossa existência….e isso é um processo lento …. Não dormimos lagartas para amanhecer borboletas… Dormimos e amanhecemos várias vezes até que nos sintamos verdadeiramente “despertados” para a vida nova ! E olha que quando se trata de nossa vida espiritual, corremos o risco de vivenciarmos um processo inverso ! Isso porque Deus é tão bom que nos dá a liberdade de escolher ser quem quisermos ser… Temos sempre a opção de ser lagartas, de desistir da luz, de recolher as asas e acolher os buracos que cavamos como nosso ponto de referência… ou não …. Essa é uma reflexão e uma transformação do dia-a-dia… criamos e rompemos nosso casulo na medida em que nos percebemos únicos na missão que nos foi presenteada e, ao mesmo tempo, parte de um todo que somente existe quando devidamente coeso e interdependente - a humanidade !


Renata Villela

Sentir Deus

No escuro, quero ver a Tua luz
e na dor, poder ouvir a Tua voz.
Sentir Tua paz
tomando conta de mim.
Ao entardecer,
ver o sol se pôr,
sentir Teu amor
e sorrir.
Ao amanhecer,
ver a luz brilhar,
me encorajar
e, então, seguir.
Quero voar
pra onde Teu sopro levar.
Quero ir
pra onde meu sonho permitir.
Descobrir
meu poder de transformar
em sim, cada não.
Viver a plenitude de cada estação,
me entregar a Tua vontade
e, fazendo a minha parte,
perceber felicidade como comunhão.


Renata Villela

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Quero


Quero mostrar-me como sou,
alegre e triste,
a que aposta e a que desiste,
sombra e luz, ódio e amor,
prazer e dor.


Quero reconhecer o que me falta
e buscar o que preciso para ser melhor.
Quero ser pessoa em movimento
que precisa de alento e consolo,
que tem medo das tempestades
e tem fome de justiça e liberdade.


Quero ser pessoa
que vibra com a vontade de transformar a realidade
e luta para viver melhor.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Visão de Passarela


Do alto da passarela, olho carros em velocidade,guiados por motoristas que têm pressa de chegar em algum lugar... Seja onde for ! Cada um em seu mundo,pressionado por centenas de obrigações e preocupações...
Do alto da passarela, vejo ônibus lotados, gente que se empurra e se aperta , disputando um lugar, querem seu espaço, brigam por um espaço... Cada um em seu mundo, pressionado por centenas de obrigações e preocupações...
No alto da passarela, vejo pessoas andando com pressa, adolescentes conversam, ambulantes mostram seus produtos, pessoas correm por causa do horário, pessoas passeiam lentamente...Todos suados por causa do calor, todos pressionados por centenas de obrigações e preocupações...
No meio do caminho, no alto da passarela, tinha um homem caído no chão... Parecia dormir....Todos passavam, olhavam desconfiados e seguiam adiante... Também segui... fui almoçar... Aproveitar a uma hora que me cabia para atravessar a passarela, subir no shopping e me alimentar.... Fui !
Mas quando voltei, a surpresa: o homem agora estava de bruços, com a boca no chão... A boca no chão.... Todos passavam e olhavam desconfiados... Mas todos seguiam em passos apressados ! Mesmo indignados, apenas olhavam, olhavam... e seguiam... Eu também olhei, eu também parei... E, infelizmente, eu também segui !!! Mas não consegui continuar, não consegui parar de pensar no Deus escondido naquele homem jogado no chão... Voltei!
Chegando perto do homem, percebi que ele apenas dormia, mas a dor que eu sentia vendo-o, ali, sob o sol, deu um nó na minha condição de sobrevivente da cidade grande, com tanta gente pequena... inclusive eu !
Acordei-o... O homem era cego e perguntou pelo cabo de vassoura que lhe servia de apoio para caminhar. Eu lhe entreguei e ele disse que estava com fome. Daí,dei a ele os trocados que eu tinha. Engoli a agonia de sentir a responsabilidade de ter tanto mais a fazer ... Deixei-o de pé e segui... Desci a passarela e, de longe, fiquei a olhar aquela cena: o cego, encostado na grade da passarela, sacudindo a caixinha de canetas que vendia e sentindo a agonia da fome.... Ao seu lado, as pessoas seguindo na velocidade de suas necessidades pessoais...
Quanto tempo ele ficou ali ? Não sei ! Dormiu novamente ? Sentiu, novamente, na pele, a solidão da batalha diária, a injustiça da corrida diária ? Não sei !
Sei que ele era cego.... Mas fomos nós que não o vimos.... Sei que ele era cego... Mas somos nós que não enxergamos a realidade que, sem nenhuma maquiagem, existe na paisagem da passarela dessa cidade grande com tanta gente pequena... inclusive eu !
Um cego.... tantos cegos.... quem são mesmo os cegos da passarela ????


Renata Villela

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

A Tua Fonte


Inspira-me, Senhor, em Teu amor
para que eu saiba o rumo certo a seguir
e o tempo certo de parar.
Que eu possa sempre Te encontrar dentro de mim
e em Teu colo, repousar;
que eu Te sinta presente em toda gente,
que eu tenha olhos pra Te ver,
e um coração aberto para te abraçar.

Que eu possa em Ti, sempre encontrar
o sentido dos meus passos
e a coragem para nunca desistir...

Quero beber da Tua fonte
e saciar a minha sede de viver.
Que eu me liberte das amarras que me prendem
e me ferem
no jogo dessa luta desumana,
dessa gente que se bate e se engana,
pagando para ter
um pouco mais a cada dia,
morrendo na agonia de sobreviver.

Quero beber da Tua fonte
E mesmo que seja deserto o caminho,
o Teu carinho
vai saciar a minha sede de viver.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Comemorar a Vida


Aniversariar é comemorar a vida…
Como é bom comemorar a vida !!!
Recostar a cabeça num lugar qualquer… e sonhar…
Viajar pelos planos que ficaram esquecidos em algum canto do passado
e pelos realizados com tanta vontade, esforço e fé !
Como é bom comemorar a vida !!!
Rever estratégias, sondar lembranças, alimentar desejos,
descobrir o novo no meio da poeira das recordações,
sentir o gosto da esperança escondida no meio das decepções
e despertar com alegria !!!
É muito bom comemorar a vida quando nos damos conta
de quantos encontros marcaram nossa existência,
de quantas pessoas se juntaram a nós na caminhada pela conquista de nossos ideais !
É muito bom comemorar a vida e aprender sempre…
Saber que não é preciso buscar desmedidamente certezas inabaláveis…
Estar consciente de que as quedas são inevitáveis,
dúvidas são necessárias
e que é da soma de cada vivência
que vem a certeza de que viver é uma aventura fantástica !
Nem tudo pode ser premeditado… existem as surpresas…
Nem tudo pode ser evitado… existem os combates…
Nem tudo pode ser conquistado…existem as derrotas…
Mas tudo, absolutamente tudo, pode ser comemorado
como possibilidade concreta de construirmos nossa felicidade
como oportunidade efetiva de escrevermos a nossa história
como alegria profunda de encararmos a nossa vida
como presente de DEUS !!!


Renata Villela

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Pra Nanda

Não mais precisas de minhas mãos
para dar-te o alimento
nem para ser o teu sustento
na hora de caminhar.
Caminhas, agora, livremente,
e o que é mais bonito
é que sabes, exatamente,
aonde desejas chegar.
Sonhas teus próprios sonhos
e lutas com as armas
que, por tua própria busca,
descobriste ao longo de teu caminhar.
Lentamente, vás deixando teu jeito criança
e despertas adolescente,
mutante, crescente,
sempre apaixonadamente gente.
És bela porque és digna,
és plena porque és o que te permites ser,
errando, acertando,
vivendo e aproveitando da vida,
as oportunidades que ela oferece.
És Fernanda, menina que tece tua vida
e de forma destemida
lança-te rumo aos teus ideais.


Renata Villela

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Rio Vermelho


Um presente de Deus é morar no Rio Vermelho ! Lá há uma rua especial onde, fazendo contraponto com três grandes hotéis, existem casas antigas do bairro, com famílias que se criaram e se fizeram ali. Junto com bares super badalados pela juventude soteropolitana, tem o botequinho da esquina e a banquinha do "Paratodos" (jogo do bicho), sempre com alguém por perto "fazendo um fezinha"....
É um lugar rico.... onde a gente pode sentar na grama e ficar olhando as ondas batendo nas pedras.
É um lugar rico....onde se misturam vários idiomas. Numa calçada se fala espanhol, na outra se fala inglês ou italiano... e sentados nos bancos da pracinha se fala o baianês em seu estilo mais bem falado...
Gerações e nacionalidades se dividem entre os melhores acarajés da terra, uma boa pizza ou a alimentação natural do restaurante Manjericão.
No dia 2 de fevereiro, Festa de Yemanjá, o bairro ganha um colorido sonoro ainda mais caloroso que o normal. De repente, passa uma bandinha tocando "Cidade Maravilhosa", acompanhada por baianas super bem vestidas.Na rua principal, um trio elétrico toca o Hino do Senhor do Bonfim.
Quando as festas acabam, muda o cenário: catadores de lata deitados no banco do larguinho do ônibus, dormindo exaustos, com aqueles sacos de linhagem cheios de latinhas, garis varrendo a rua, cantando também....Incrivelmente tão alegres quanto os da festa dos dias anteriores.... Que alegria eles comemoram? A alegria de, mesmo debaixo de um sol de mais de 30º terem um trabalho que lhes garante um salário no final do mês? Não sei ! Sei que cantam..... O jornaleiro, o barraqueiro do coco, o guardador de carro....toda uma nova face do povo que compõe o cenário do Rio Vermelho amanhecendo o bairro.
Tudo isso poderia passar despercebido, não fossem três pombinhas envolvidas, na calçada do ponto de ônibus, degustando um pastel de carne que alguém deixou cair por ali..... Foi nesse momento que eu me dei conta de que tenho o privilégio de morar num lugar onde até as pombas comem pastel ! Esse não é um bairro comum... É o bairro dos artistas, da Senhora Santana e de Yemanjá, da pizza e do acarajé, do mercado do Peixe e da praia do Buracão, dos pensadores, dos escritores, cantores...e dos guardadores de carro, varredores de rua,catadores de lata e dos pescadores.
Sem reconhecer diferenças, vibra no Rio Vermelho, um colorido de miscigenação que contagia e encanta.


Renata Villela

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Pássaro das Mercês

Essa poesia é para o AMIGO DÉ que segue em sua missão !

Depois de aprender a lição do mar,
tudo o que as ondas têm a ensinar,
a brisa com gosto de sal,
o sol no azul do céu,
em novo horizonte,
agora, você vai voar!
Que seja belo !

Em rios e montanhas,
logo, você vai pousar,
vencendo desafios, montes vai escalar,
muito a ensinar, muito a aprender,
tanto a crescer nessa caminhada,
tanto a semear nesse novo chão.

Aprenda com as cachoeiras,
a força que vence barreiras,
o belo canto das águas
correndo feito criança
sem medo do que está por vir.

Comungue com cada pessoa,
esse chamado que ecoa,
em tudo o que você faz;
amor que é movimento,
na luta por um mundo mais justo,
fermento de um tempo de paz.

Voa, pássaro das Mercês,
na doação de quem se entrega
em oração, põe-se em missão!
Lembra que obediência e paciência
seguem juntas em qualquer situação;
sabedoria e sintonia
também são notas de uma só canção.

Voa, pássaro das Mercês,
sem temer tempestades,
ventanias, frustrações.
Acredita que o novo horizonte
é ponte para o futuro
e um fruto saboroso
da entrega de seus dons.
O horizonte é novo... E será belo !

Renata Villela

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Oração da Sabedoria

Senhor, estou aqui
pra te pedir sabedoria.
Faz-me entender
os Teus sinais,
que eu possa ver a Tua luz
e mergulhar na Tua paz.
Que Tua força me fortaleça
e que, em mim, Tua presença permaneça.

Senhor, estou aqui
pra Te pedir sabedoria.
Faz-me aceitar
os teus caminhos,
que eu possa olhar a Tua face,
me acalentar no Teu carinho.
Que Teu amor me impulsione
e que, em Ti, eu me entregue e abandone.


Renata Villela

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Paz

Paz ! Não está nos canhões, nos cifrões, nos batalhões.... mas dentro dos corações.
Não é no mundo que vou buscar a paz mas dentro de mim. Não é num pulo pro lado de fora mas num mergulho no poço de dentro, no poço em que Deus me preenche de amor, acalma meus medos, me fala baixinho que ELE é a paz.
Não a paz que adormece mas a que faz acordar.
Não a paz que amorna mas a que aquece, acalma mas inquieta pra transformar.
Paz : exercício diário, possibilidade concreta de experimentar DEUS!
Eu acredito na paz!
Acredito que, na medida em que eu cultivar a paz feito semente que germina dia-a-dia, vou aprender a transborda-la como bem que contagia.
Palestina ? E a esquina de nossa rua ?
Afeganistão? E a briga diária pelo canal da televisão ?
Gente ferida nas favelas do Rio, esperando a hora de morrer? E essa gente querida que a gente machuca, às vezes sem saber nem porquê ?...
Não posso, realmente não posso transformar o mundo inteiro, todo o planeta ... Mas eu posso transformar a minha vida, posso melhorar os pequenos mas preciosos mundinhos em que vivo....
Posso ser mais paciente, estar mais presente, ter coragem pra viver a todo momento e em qualquer lugar, as coisas que mais acredito....
Posso experimentar mais vezes o silêncio, exercitar mais vezes o abraço, o diálogo, a vontade de conversar – ouvir e falar.... Ser mais amiga, estar mais aberta, cultivar o respeito e a compreensão, discernir mais, sorrir mais, sentir mais.....
Eu posso !
Eu posso cultivar em mim e deixar fluir pra você... pra você.... pra você.... pra você..... A PAZ !


Renata Villela

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Sociedade

Vivemos numa sociedade carente,
vivemos numa sociedade doente,
que nos pede mudanças.

Vivemos numa sociedade sofrida,
vivemos numa sociedade ferida,
que nos pede mudanças.

Que tenhamos coragem
de fazer diferença
onde tudo é tão igual.
Que sejamos agentes
construindo a mudança
nas bases do mundo real.

Caminhantes que fazem o caminho a cada passo,
não se abatem com os descompassos
que a vida impõe.
Peregrinos que criam pontes ao invés de muros,
não temem os cantos escuros
apenas confiam e vão.
Sabem que há sombras porque há luz,
sabem que há vida nova porque há cruz,
sabem que há silêncio porque há voz,
sabem que há esperança porque em nós
existe a chama da fé.

Somos agentes de transformação,
novas mãos a recriar o mundo,
caminhantes em missão.
Na direção contrária à turba,
somos a voz da resistência
que nasce da oração.
Rezamos pela comunhão dos povos,
sonhamos com a integração de todos,
e trabalhamos para que nossa vida
não passe em vão.


Renata Villela

sábado, 17 de janeiro de 2009

Sê Um

Com o avanço nas telecomunicações, o acesso às informações passou a ser instantâneo e nasceu em nós, de uma forma mais efetiva, a consciência de que somos um único planeta.
Mas será que despertamos a consciência de que somos um único povo, o povo de Deus ? Mais do que isso, será que SENTIMOS que, independente de nossas diferenças de raça, religião, opção política e outras tantas, somos todos SERES HUMANOS, irmãos ?
Todo dia é oportunidade de sairmos de nós e focarmos o mundo, a realidade que está a nossa volta....Mais do que isso, é olhar a humanidade, suas dores, suas necessidades e ter a coragem de partir, romper fronteiras e participar das tantas construções e reconstruções que o mundo precisa e a que Deus nos chama.... Não basta assistir pela TV... Fazer o quê ?
Com certeza, para cada um, Deus faz um chamado especial... Há os que “largam pai e mãe e vão aonde é preciso ir”....Há os que, através de suas profissões, trabalham por um mundo mais justo e digno.... A todos nós, contudo, um mesmo chamado é feito: o chamado à sintonia da oração, o chamado à integração de nossos dons, de nossas preces e de nossas ações, das mais simples e corriqueiras às mais complexas e estratégicas para que a paz possa habitar nos corações de cada ser humano.
O mundo colorido tantas vezes se acinzenta no vazio das dificuldades.... O mundo chora....
Chora a América colonizada e guerreira na busca de um lugar ao sol; chora a América das desigualdades sociais gritantes, da violência urbana alastrante, dos povos sedentos de oportunidade, de liberdade, esmagado entre a seca que traz a fome que mata e as enchentes que afogam vidas que teimam em sobreviver... Fica a marca dos “santos” do povo, PESSOAS que viram além, que foram além, que fizeram MAIS: Pe Pro, Dom Romero, Irmã Dulce....
Chora a África das terras verdejantes e do povo subnutrido; chora a África das riquezas naturais e da pobreza que assola, sem freios, transformando pessoas em espécies em extinção. Chora a África onde a natureza foi abundante e o homem continua sendo alienado à realidade frustrante de epidemias que roubam a cena todos os dias. Fica a marca dos “santos” do povo, PESSOAS que viram além, que foram além, que fizeram MAIS: Nelson Mandela, Josefina Bakhita...
Chora a Oceania....
Chora a Europa das grandes culturas, palco das artes e das ciências, mas ao mesmo tempo, palco de tantos atentados....; chora a Europa das grandes guerras, do nazismo, do fascismo, dos campos de concentração; chora a Europa que atingiu altos índices de qualidade de vida e estoura, por outro lado, as estatísticas de suicídios e depressão infantil.... Fica a marca dos “santos” do povo, PESSOAS que viram além, que foram além, que fizeram MAIS: Pedro Nolasco, Inácio de Loyola, Francisco de Assis, Teresa de Ávila...
Chora a Ásia de Jerusalém e Hiroshima, chora a Ásia das guerras religiosas, das ditaduras, da Al Kaeda e dos xás, da superpopulação amontoada nas terras da China e da alta tecnologia japonesa; a Ásia que guarda recantos naturais belíssimos e que foi devastada por tsunâmis e terremotos. Chora a Ásia pobre e esquecida que não conhece nem de longe a Ásia dos roteiros turísticos e das riquezas ....Ásia assassinada, Ásia afogada, Ásia soterrada... Fica a marca dos “santos do povo, pessoas que viram além, que foram além, que fizeram MAIS: Gandhi, Lao Tse, Tereza de Calcutá...
E nós ? O que podemos fazer para enxugar esse pranto ? O que queremos fazer por novos sorrisos ?


Renata Villela

Sou

Sou
não exatamente aquilo que desejo,
um lampejo de tristeza e alegria,
um anseio infinito de felicidade.

Sou
O que eu puder ser,
o que eu quiser ser,
o desejo infinito
e tão bonito
de sempre aprender a ser mutante.

Sou sempre a ousadia
de acordar a cada dia
e viver.
Sou cada verso desta poesia
e cada palavra desses versos.
Sou o inverso do que eu não quero,
o grão de tudo o que espero
ver germinar.


Renata Villela

É preciso


É preciso
dar ritmo aos movimentos,
sentido à caminhada,
significado à existência.


É preciso
exercitar discernimento,
embasar escolhas,
na consciência do que se acredita
e apostar na vida.

É preciso
ir ao outro lado da rua,
sem temer perigos,
saborear encontros.

É preciso
olhar além do próprio umbigo,
a ética além dos códigos,
resgatar valores.

É preciso
descobrir novos rumos
e enxergar que há ramos a florescer;
despertar novos sonhos
e trabalhar pra um novo tempo
realmente acontecer.

Renata Villela
Escrito em outubro/2008

Amanhecer na cidade

Manhã de um sábado de verão, sete horas.... A cidade amanhece mas as pessoas continuam dormindo... O barulho dos motores dá lugar aos passarinhos e os cães latindo orquestram aquela brisa gostosa que traz a claridade da manhã...
Eu caminho. E no caminho encontro algumas pessoas cuidando de si. Primeiro, um casal de idosos passa ao meu lado, passos lentos, rostos serenos...quanta história pra contar naquelas rugas ! Suadas e dispostas, algumas mulheres aceleram o ritmo dos passos e caminham perdendo as calorias indesejadas....
Duas motos rompem a harmonia da orquestra da natureza, rapazes cumprem a responsabilidade de entregar os jornais na hora marcada. Taxistas parados na esquina e, de repente, um carro buzina e duas meninas descem do prédio... O ritmo do amanhecer é diferente, parece que as pessoas estão mais “gente” e dá pra sentir uma energia boa no ar .
Os olhos com que vejo a cidade que amanhece, também é diferente ! Mais perspicaz, capta detalhes que passam despercebidos na agonia da pressa das horas em que o mundo acontece....
A rua por onde caminho é de um bairro de classe média mas, apesar disso, é cortada por um canal de esgoto... (Engraçado pensar que isso pode ser uma metáfora... Nada mais claro do que ver um canal de esgoto passando bem no meio da classe média.... E é na beira do esgoto que a classe média caminha.... ) Olho para o canal e descubro que uma vegetação diversa e bonita povoa seus arredores... E no meio do mato, florzinhas brancas de miolo amarelo quebram o verde que sobrevive aos copos descartáveis e papéis amassados que compõem a paisagem do lugar.
Olho para o chão e começo, então, a observar os pés que caminham por ali, em sua maioria, calçados de tênis...Tênis brancos, vermelhos, pretos... e, de repente, que engraçado, um sapato engraxado ! Levanto os olhos e um rapaz bem vestido, de maleta na mão, caminha apressado... Dou uma risada calada para mim mesma e penso: “alguém vai para o trabalho, ao amanhecer de um sábado de verão, nesta cidade”.
Um ciclista passa com walkman no ouvido, passa cantando.... O zelador de um prédio abre o portão, varre o chão e olha para o céu... Fica parado por um tempo e volta, fecha o portão e segue à rotina de mais um dia de trabalho.
As escolas da rua estão fechadas, é tempo de férias... As empresas da rua estão fechadas, é dia de folga... Abertas, apenas a banca de jornal com o jornaleiro sentado a frente, esperando alguém pra comprar o jornal e a barraquinha de frutas, na qual, mais tarde um pouco, eu vou parar para tomar uma água de coco...Ah, afinal eu sou filha de Deus !
Deus ? Deus ! De repente aqui escrevendo, eu percebo que caminhando na cidade amanhecendo, eu rezei ! No taxista parado na esquina, na menina sorrindo na janela, na florzinha branca de miolo amarelo, no zelador varrendo o chão, no verde vencendo a poluição...eu vi Deus ! Eu vi Deus no passarinho que cantava e nos cães que latiam, no casal de idosos que caminhava e sei lá de quê sorriam, nas mulheres cuidando do corpo, no motoqueiro entregando o jornal e na brisa suave em meu rosto aquecido pelos primeiros raios de sol... Eu vi Deus brincando de esconde-esconde com o povo que andava sem pressa e olhava a festa que Ele pode fazer... Não foi no motor da moto mas nos olhos do motoqueiro, não foi na sujeira do esgoto mas no verde sobrevivente que anima o jornaleiro, que eu vi Deus com toda sua paixão pela humanidade !
Sábado, de manhãzinha. Verão ! E meu coração encontrou Deus morando na minha cidade... Que felicidade!

Renata Villela
Escrito em Janeiro / 2005