quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Pássaro das Mercês

Essa poesia é para o AMIGO DÉ que segue em sua missão !

Depois de aprender a lição do mar,
tudo o que as ondas têm a ensinar,
a brisa com gosto de sal,
o sol no azul do céu,
em novo horizonte,
agora, você vai voar!
Que seja belo !

Em rios e montanhas,
logo, você vai pousar,
vencendo desafios, montes vai escalar,
muito a ensinar, muito a aprender,
tanto a crescer nessa caminhada,
tanto a semear nesse novo chão.

Aprenda com as cachoeiras,
a força que vence barreiras,
o belo canto das águas
correndo feito criança
sem medo do que está por vir.

Comungue com cada pessoa,
esse chamado que ecoa,
em tudo o que você faz;
amor que é movimento,
na luta por um mundo mais justo,
fermento de um tempo de paz.

Voa, pássaro das Mercês,
na doação de quem se entrega
em oração, põe-se em missão!
Lembra que obediência e paciência
seguem juntas em qualquer situação;
sabedoria e sintonia
também são notas de uma só canção.

Voa, pássaro das Mercês,
sem temer tempestades,
ventanias, frustrações.
Acredita que o novo horizonte
é ponte para o futuro
e um fruto saboroso
da entrega de seus dons.
O horizonte é novo... E será belo !

Renata Villela

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Oração da Sabedoria

Senhor, estou aqui
pra te pedir sabedoria.
Faz-me entender
os Teus sinais,
que eu possa ver a Tua luz
e mergulhar na Tua paz.
Que Tua força me fortaleça
e que, em mim, Tua presença permaneça.

Senhor, estou aqui
pra Te pedir sabedoria.
Faz-me aceitar
os teus caminhos,
que eu possa olhar a Tua face,
me acalentar no Teu carinho.
Que Teu amor me impulsione
e que, em Ti, eu me entregue e abandone.


Renata Villela

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Paz

Paz ! Não está nos canhões, nos cifrões, nos batalhões.... mas dentro dos corações.
Não é no mundo que vou buscar a paz mas dentro de mim. Não é num pulo pro lado de fora mas num mergulho no poço de dentro, no poço em que Deus me preenche de amor, acalma meus medos, me fala baixinho que ELE é a paz.
Não a paz que adormece mas a que faz acordar.
Não a paz que amorna mas a que aquece, acalma mas inquieta pra transformar.
Paz : exercício diário, possibilidade concreta de experimentar DEUS!
Eu acredito na paz!
Acredito que, na medida em que eu cultivar a paz feito semente que germina dia-a-dia, vou aprender a transborda-la como bem que contagia.
Palestina ? E a esquina de nossa rua ?
Afeganistão? E a briga diária pelo canal da televisão ?
Gente ferida nas favelas do Rio, esperando a hora de morrer? E essa gente querida que a gente machuca, às vezes sem saber nem porquê ?...
Não posso, realmente não posso transformar o mundo inteiro, todo o planeta ... Mas eu posso transformar a minha vida, posso melhorar os pequenos mas preciosos mundinhos em que vivo....
Posso ser mais paciente, estar mais presente, ter coragem pra viver a todo momento e em qualquer lugar, as coisas que mais acredito....
Posso experimentar mais vezes o silêncio, exercitar mais vezes o abraço, o diálogo, a vontade de conversar – ouvir e falar.... Ser mais amiga, estar mais aberta, cultivar o respeito e a compreensão, discernir mais, sorrir mais, sentir mais.....
Eu posso !
Eu posso cultivar em mim e deixar fluir pra você... pra você.... pra você.... pra você..... A PAZ !


Renata Villela

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Sociedade

Vivemos numa sociedade carente,
vivemos numa sociedade doente,
que nos pede mudanças.

Vivemos numa sociedade sofrida,
vivemos numa sociedade ferida,
que nos pede mudanças.

Que tenhamos coragem
de fazer diferença
onde tudo é tão igual.
Que sejamos agentes
construindo a mudança
nas bases do mundo real.

Caminhantes que fazem o caminho a cada passo,
não se abatem com os descompassos
que a vida impõe.
Peregrinos que criam pontes ao invés de muros,
não temem os cantos escuros
apenas confiam e vão.
Sabem que há sombras porque há luz,
sabem que há vida nova porque há cruz,
sabem que há silêncio porque há voz,
sabem que há esperança porque em nós
existe a chama da fé.

Somos agentes de transformação,
novas mãos a recriar o mundo,
caminhantes em missão.
Na direção contrária à turba,
somos a voz da resistência
que nasce da oração.
Rezamos pela comunhão dos povos,
sonhamos com a integração de todos,
e trabalhamos para que nossa vida
não passe em vão.


Renata Villela

sábado, 17 de janeiro de 2009

Sê Um

Com o avanço nas telecomunicações, o acesso às informações passou a ser instantâneo e nasceu em nós, de uma forma mais efetiva, a consciência de que somos um único planeta.
Mas será que despertamos a consciência de que somos um único povo, o povo de Deus ? Mais do que isso, será que SENTIMOS que, independente de nossas diferenças de raça, religião, opção política e outras tantas, somos todos SERES HUMANOS, irmãos ?
Todo dia é oportunidade de sairmos de nós e focarmos o mundo, a realidade que está a nossa volta....Mais do que isso, é olhar a humanidade, suas dores, suas necessidades e ter a coragem de partir, romper fronteiras e participar das tantas construções e reconstruções que o mundo precisa e a que Deus nos chama.... Não basta assistir pela TV... Fazer o quê ?
Com certeza, para cada um, Deus faz um chamado especial... Há os que “largam pai e mãe e vão aonde é preciso ir”....Há os que, através de suas profissões, trabalham por um mundo mais justo e digno.... A todos nós, contudo, um mesmo chamado é feito: o chamado à sintonia da oração, o chamado à integração de nossos dons, de nossas preces e de nossas ações, das mais simples e corriqueiras às mais complexas e estratégicas para que a paz possa habitar nos corações de cada ser humano.
O mundo colorido tantas vezes se acinzenta no vazio das dificuldades.... O mundo chora....
Chora a América colonizada e guerreira na busca de um lugar ao sol; chora a América das desigualdades sociais gritantes, da violência urbana alastrante, dos povos sedentos de oportunidade, de liberdade, esmagado entre a seca que traz a fome que mata e as enchentes que afogam vidas que teimam em sobreviver... Fica a marca dos “santos” do povo, PESSOAS que viram além, que foram além, que fizeram MAIS: Pe Pro, Dom Romero, Irmã Dulce....
Chora a África das terras verdejantes e do povo subnutrido; chora a África das riquezas naturais e da pobreza que assola, sem freios, transformando pessoas em espécies em extinção. Chora a África onde a natureza foi abundante e o homem continua sendo alienado à realidade frustrante de epidemias que roubam a cena todos os dias. Fica a marca dos “santos” do povo, PESSOAS que viram além, que foram além, que fizeram MAIS: Nelson Mandela, Josefina Bakhita...
Chora a Oceania....
Chora a Europa das grandes culturas, palco das artes e das ciências, mas ao mesmo tempo, palco de tantos atentados....; chora a Europa das grandes guerras, do nazismo, do fascismo, dos campos de concentração; chora a Europa que atingiu altos índices de qualidade de vida e estoura, por outro lado, as estatísticas de suicídios e depressão infantil.... Fica a marca dos “santos” do povo, PESSOAS que viram além, que foram além, que fizeram MAIS: Pedro Nolasco, Inácio de Loyola, Francisco de Assis, Teresa de Ávila...
Chora a Ásia de Jerusalém e Hiroshima, chora a Ásia das guerras religiosas, das ditaduras, da Al Kaeda e dos xás, da superpopulação amontoada nas terras da China e da alta tecnologia japonesa; a Ásia que guarda recantos naturais belíssimos e que foi devastada por tsunâmis e terremotos. Chora a Ásia pobre e esquecida que não conhece nem de longe a Ásia dos roteiros turísticos e das riquezas ....Ásia assassinada, Ásia afogada, Ásia soterrada... Fica a marca dos “santos do povo, pessoas que viram além, que foram além, que fizeram MAIS: Gandhi, Lao Tse, Tereza de Calcutá...
E nós ? O que podemos fazer para enxugar esse pranto ? O que queremos fazer por novos sorrisos ?


Renata Villela

Sou

Sou
não exatamente aquilo que desejo,
um lampejo de tristeza e alegria,
um anseio infinito de felicidade.

Sou
O que eu puder ser,
o que eu quiser ser,
o desejo infinito
e tão bonito
de sempre aprender a ser mutante.

Sou sempre a ousadia
de acordar a cada dia
e viver.
Sou cada verso desta poesia
e cada palavra desses versos.
Sou o inverso do que eu não quero,
o grão de tudo o que espero
ver germinar.


Renata Villela

É preciso


É preciso
dar ritmo aos movimentos,
sentido à caminhada,
significado à existência.


É preciso
exercitar discernimento,
embasar escolhas,
na consciência do que se acredita
e apostar na vida.

É preciso
ir ao outro lado da rua,
sem temer perigos,
saborear encontros.

É preciso
olhar além do próprio umbigo,
a ética além dos códigos,
resgatar valores.

É preciso
descobrir novos rumos
e enxergar que há ramos a florescer;
despertar novos sonhos
e trabalhar pra um novo tempo
realmente acontecer.

Renata Villela
Escrito em outubro/2008

Amanhecer na cidade

Manhã de um sábado de verão, sete horas.... A cidade amanhece mas as pessoas continuam dormindo... O barulho dos motores dá lugar aos passarinhos e os cães latindo orquestram aquela brisa gostosa que traz a claridade da manhã...
Eu caminho. E no caminho encontro algumas pessoas cuidando de si. Primeiro, um casal de idosos passa ao meu lado, passos lentos, rostos serenos...quanta história pra contar naquelas rugas ! Suadas e dispostas, algumas mulheres aceleram o ritmo dos passos e caminham perdendo as calorias indesejadas....
Duas motos rompem a harmonia da orquestra da natureza, rapazes cumprem a responsabilidade de entregar os jornais na hora marcada. Taxistas parados na esquina e, de repente, um carro buzina e duas meninas descem do prédio... O ritmo do amanhecer é diferente, parece que as pessoas estão mais “gente” e dá pra sentir uma energia boa no ar .
Os olhos com que vejo a cidade que amanhece, também é diferente ! Mais perspicaz, capta detalhes que passam despercebidos na agonia da pressa das horas em que o mundo acontece....
A rua por onde caminho é de um bairro de classe média mas, apesar disso, é cortada por um canal de esgoto... (Engraçado pensar que isso pode ser uma metáfora... Nada mais claro do que ver um canal de esgoto passando bem no meio da classe média.... E é na beira do esgoto que a classe média caminha.... ) Olho para o canal e descubro que uma vegetação diversa e bonita povoa seus arredores... E no meio do mato, florzinhas brancas de miolo amarelo quebram o verde que sobrevive aos copos descartáveis e papéis amassados que compõem a paisagem do lugar.
Olho para o chão e começo, então, a observar os pés que caminham por ali, em sua maioria, calçados de tênis...Tênis brancos, vermelhos, pretos... e, de repente, que engraçado, um sapato engraxado ! Levanto os olhos e um rapaz bem vestido, de maleta na mão, caminha apressado... Dou uma risada calada para mim mesma e penso: “alguém vai para o trabalho, ao amanhecer de um sábado de verão, nesta cidade”.
Um ciclista passa com walkman no ouvido, passa cantando.... O zelador de um prédio abre o portão, varre o chão e olha para o céu... Fica parado por um tempo e volta, fecha o portão e segue à rotina de mais um dia de trabalho.
As escolas da rua estão fechadas, é tempo de férias... As empresas da rua estão fechadas, é dia de folga... Abertas, apenas a banca de jornal com o jornaleiro sentado a frente, esperando alguém pra comprar o jornal e a barraquinha de frutas, na qual, mais tarde um pouco, eu vou parar para tomar uma água de coco...Ah, afinal eu sou filha de Deus !
Deus ? Deus ! De repente aqui escrevendo, eu percebo que caminhando na cidade amanhecendo, eu rezei ! No taxista parado na esquina, na menina sorrindo na janela, na florzinha branca de miolo amarelo, no zelador varrendo o chão, no verde vencendo a poluição...eu vi Deus ! Eu vi Deus no passarinho que cantava e nos cães que latiam, no casal de idosos que caminhava e sei lá de quê sorriam, nas mulheres cuidando do corpo, no motoqueiro entregando o jornal e na brisa suave em meu rosto aquecido pelos primeiros raios de sol... Eu vi Deus brincando de esconde-esconde com o povo que andava sem pressa e olhava a festa que Ele pode fazer... Não foi no motor da moto mas nos olhos do motoqueiro, não foi na sujeira do esgoto mas no verde sobrevivente que anima o jornaleiro, que eu vi Deus com toda sua paixão pela humanidade !
Sábado, de manhãzinha. Verão ! E meu coração encontrou Deus morando na minha cidade... Que felicidade!

Renata Villela
Escrito em Janeiro / 2005