quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Tempo de transformação - Parte 1

A Quaresma é, verdadeiramente, tempo de reflexão, de transformação interior, de passagem ! É momento de nos permitirmos entrar em nosso casulo interior para que consigamos penetrar na essência mais profunda de nosso ser e, assim, reconstruirmo-nos a partir de cada descoberta.
Tudo deve partir da nossa sede de felicidade enquanto filhos do Infinito ! É impossível experimentar a felicidade verdadeira na superficialidade, no efêmero e, como lagartas presas na terra, rastejar num limitado e obscuro horizonte… Não foi para sermos seres-lagartas que fomos criados ! Não nascemos para rastejar e nos prender ao chão ! Não estamos aqui para cavarmos buracos e nos enterrarmos na escuridão ! Nascemos para a liberdade, para a plenitude, para a luz ! Nascemos para abrir asas e descobrir o infinito de um céu que contagia e emociona ! Nascemos para ser borboletas de Deus !!!
Entretanto, a passagem de lagarta à borboleta não se dá feito num passe de mágica… Precisamos do casulo, precisamos sentir a dor da transformação, redimensionar nossa existência….e isso é um processo lento …. Não dormimos lagartas para amanhecer borboletas… Dormimos e amanhecemos várias vezes até que nos sintamos verdadeiramente “despertados” para a vida nova ! E olha que quando se trata de nossa vida espiritual, corremos o risco de vivenciarmos um processo inverso ! Isso porque Deus é tão bom que nos dá a liberdade de escolher ser quem quisermos ser… Temos sempre a opção de ser lagartas, de desistir da luz, de recolher as asas e acolher os buracos que cavamos como nosso ponto de referência… ou não …. Essa é uma reflexão e uma transformação do dia-a-dia… criamos e rompemos nosso casulo na medida em que nos percebemos únicos na missão que nos foi presenteada e, ao mesmo tempo, parte de um todo que somente existe quando devidamente coeso e interdependente - a humanidade !


Renata Villela

Sentir Deus

No escuro, quero ver a Tua luz
e na dor, poder ouvir a Tua voz.
Sentir Tua paz
tomando conta de mim.
Ao entardecer,
ver o sol se pôr,
sentir Teu amor
e sorrir.
Ao amanhecer,
ver a luz brilhar,
me encorajar
e, então, seguir.
Quero voar
pra onde Teu sopro levar.
Quero ir
pra onde meu sonho permitir.
Descobrir
meu poder de transformar
em sim, cada não.
Viver a plenitude de cada estação,
me entregar a Tua vontade
e, fazendo a minha parte,
perceber felicidade como comunhão.


Renata Villela

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Quero


Quero mostrar-me como sou,
alegre e triste,
a que aposta e a que desiste,
sombra e luz, ódio e amor,
prazer e dor.


Quero reconhecer o que me falta
e buscar o que preciso para ser melhor.
Quero ser pessoa em movimento
que precisa de alento e consolo,
que tem medo das tempestades
e tem fome de justiça e liberdade.


Quero ser pessoa
que vibra com a vontade de transformar a realidade
e luta para viver melhor.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Visão de Passarela


Do alto da passarela, olho carros em velocidade,guiados por motoristas que têm pressa de chegar em algum lugar... Seja onde for ! Cada um em seu mundo,pressionado por centenas de obrigações e preocupações...
Do alto da passarela, vejo ônibus lotados, gente que se empurra e se aperta , disputando um lugar, querem seu espaço, brigam por um espaço... Cada um em seu mundo, pressionado por centenas de obrigações e preocupações...
No alto da passarela, vejo pessoas andando com pressa, adolescentes conversam, ambulantes mostram seus produtos, pessoas correm por causa do horário, pessoas passeiam lentamente...Todos suados por causa do calor, todos pressionados por centenas de obrigações e preocupações...
No meio do caminho, no alto da passarela, tinha um homem caído no chão... Parecia dormir....Todos passavam, olhavam desconfiados e seguiam adiante... Também segui... fui almoçar... Aproveitar a uma hora que me cabia para atravessar a passarela, subir no shopping e me alimentar.... Fui !
Mas quando voltei, a surpresa: o homem agora estava de bruços, com a boca no chão... A boca no chão.... Todos passavam e olhavam desconfiados... Mas todos seguiam em passos apressados ! Mesmo indignados, apenas olhavam, olhavam... e seguiam... Eu também olhei, eu também parei... E, infelizmente, eu também segui !!! Mas não consegui continuar, não consegui parar de pensar no Deus escondido naquele homem jogado no chão... Voltei!
Chegando perto do homem, percebi que ele apenas dormia, mas a dor que eu sentia vendo-o, ali, sob o sol, deu um nó na minha condição de sobrevivente da cidade grande, com tanta gente pequena... inclusive eu !
Acordei-o... O homem era cego e perguntou pelo cabo de vassoura que lhe servia de apoio para caminhar. Eu lhe entreguei e ele disse que estava com fome. Daí,dei a ele os trocados que eu tinha. Engoli a agonia de sentir a responsabilidade de ter tanto mais a fazer ... Deixei-o de pé e segui... Desci a passarela e, de longe, fiquei a olhar aquela cena: o cego, encostado na grade da passarela, sacudindo a caixinha de canetas que vendia e sentindo a agonia da fome.... Ao seu lado, as pessoas seguindo na velocidade de suas necessidades pessoais...
Quanto tempo ele ficou ali ? Não sei ! Dormiu novamente ? Sentiu, novamente, na pele, a solidão da batalha diária, a injustiça da corrida diária ? Não sei !
Sei que ele era cego.... Mas fomos nós que não o vimos.... Sei que ele era cego... Mas somos nós que não enxergamos a realidade que, sem nenhuma maquiagem, existe na paisagem da passarela dessa cidade grande com tanta gente pequena... inclusive eu !
Um cego.... tantos cegos.... quem são mesmo os cegos da passarela ????


Renata Villela

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

A Tua Fonte


Inspira-me, Senhor, em Teu amor
para que eu saiba o rumo certo a seguir
e o tempo certo de parar.
Que eu possa sempre Te encontrar dentro de mim
e em Teu colo, repousar;
que eu Te sinta presente em toda gente,
que eu tenha olhos pra Te ver,
e um coração aberto para te abraçar.

Que eu possa em Ti, sempre encontrar
o sentido dos meus passos
e a coragem para nunca desistir...

Quero beber da Tua fonte
e saciar a minha sede de viver.
Que eu me liberte das amarras que me prendem
e me ferem
no jogo dessa luta desumana,
dessa gente que se bate e se engana,
pagando para ter
um pouco mais a cada dia,
morrendo na agonia de sobreviver.

Quero beber da Tua fonte
E mesmo que seja deserto o caminho,
o Teu carinho
vai saciar a minha sede de viver.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Comemorar a Vida


Aniversariar é comemorar a vida…
Como é bom comemorar a vida !!!
Recostar a cabeça num lugar qualquer… e sonhar…
Viajar pelos planos que ficaram esquecidos em algum canto do passado
e pelos realizados com tanta vontade, esforço e fé !
Como é bom comemorar a vida !!!
Rever estratégias, sondar lembranças, alimentar desejos,
descobrir o novo no meio da poeira das recordações,
sentir o gosto da esperança escondida no meio das decepções
e despertar com alegria !!!
É muito bom comemorar a vida quando nos damos conta
de quantos encontros marcaram nossa existência,
de quantas pessoas se juntaram a nós na caminhada pela conquista de nossos ideais !
É muito bom comemorar a vida e aprender sempre…
Saber que não é preciso buscar desmedidamente certezas inabaláveis…
Estar consciente de que as quedas são inevitáveis,
dúvidas são necessárias
e que é da soma de cada vivência
que vem a certeza de que viver é uma aventura fantástica !
Nem tudo pode ser premeditado… existem as surpresas…
Nem tudo pode ser evitado… existem os combates…
Nem tudo pode ser conquistado…existem as derrotas…
Mas tudo, absolutamente tudo, pode ser comemorado
como possibilidade concreta de construirmos nossa felicidade
como oportunidade efetiva de escrevermos a nossa história
como alegria profunda de encararmos a nossa vida
como presente de DEUS !!!


Renata Villela

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Pra Nanda

Não mais precisas de minhas mãos
para dar-te o alimento
nem para ser o teu sustento
na hora de caminhar.
Caminhas, agora, livremente,
e o que é mais bonito
é que sabes, exatamente,
aonde desejas chegar.
Sonhas teus próprios sonhos
e lutas com as armas
que, por tua própria busca,
descobriste ao longo de teu caminhar.
Lentamente, vás deixando teu jeito criança
e despertas adolescente,
mutante, crescente,
sempre apaixonadamente gente.
És bela porque és digna,
és plena porque és o que te permites ser,
errando, acertando,
vivendo e aproveitando da vida,
as oportunidades que ela oferece.
És Fernanda, menina que tece tua vida
e de forma destemida
lança-te rumo aos teus ideais.


Renata Villela

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Rio Vermelho


Um presente de Deus é morar no Rio Vermelho ! Lá há uma rua especial onde, fazendo contraponto com três grandes hotéis, existem casas antigas do bairro, com famílias que se criaram e se fizeram ali. Junto com bares super badalados pela juventude soteropolitana, tem o botequinho da esquina e a banquinha do "Paratodos" (jogo do bicho), sempre com alguém por perto "fazendo um fezinha"....
É um lugar rico.... onde a gente pode sentar na grama e ficar olhando as ondas batendo nas pedras.
É um lugar rico....onde se misturam vários idiomas. Numa calçada se fala espanhol, na outra se fala inglês ou italiano... e sentados nos bancos da pracinha se fala o baianês em seu estilo mais bem falado...
Gerações e nacionalidades se dividem entre os melhores acarajés da terra, uma boa pizza ou a alimentação natural do restaurante Manjericão.
No dia 2 de fevereiro, Festa de Yemanjá, o bairro ganha um colorido sonoro ainda mais caloroso que o normal. De repente, passa uma bandinha tocando "Cidade Maravilhosa", acompanhada por baianas super bem vestidas.Na rua principal, um trio elétrico toca o Hino do Senhor do Bonfim.
Quando as festas acabam, muda o cenário: catadores de lata deitados no banco do larguinho do ônibus, dormindo exaustos, com aqueles sacos de linhagem cheios de latinhas, garis varrendo a rua, cantando também....Incrivelmente tão alegres quanto os da festa dos dias anteriores.... Que alegria eles comemoram? A alegria de, mesmo debaixo de um sol de mais de 30º terem um trabalho que lhes garante um salário no final do mês? Não sei ! Sei que cantam..... O jornaleiro, o barraqueiro do coco, o guardador de carro....toda uma nova face do povo que compõe o cenário do Rio Vermelho amanhecendo o bairro.
Tudo isso poderia passar despercebido, não fossem três pombinhas envolvidas, na calçada do ponto de ônibus, degustando um pastel de carne que alguém deixou cair por ali..... Foi nesse momento que eu me dei conta de que tenho o privilégio de morar num lugar onde até as pombas comem pastel ! Esse não é um bairro comum... É o bairro dos artistas, da Senhora Santana e de Yemanjá, da pizza e do acarajé, do mercado do Peixe e da praia do Buracão, dos pensadores, dos escritores, cantores...e dos guardadores de carro, varredores de rua,catadores de lata e dos pescadores.
Sem reconhecer diferenças, vibra no Rio Vermelho, um colorido de miscigenação que contagia e encanta.


Renata Villela