quinta-feira, 23 de abril de 2009

Povo diverso

Somos um povo tão diverso

imerso num mesmo sonho de comunhão.

Sonhamos em crescer com as nossas diferenças,

completando o que nos falta,

transbordando o que nos sobra,

conscientes de que somos

a soma dos opostos que se complementam.


Imensa é nossa vontade de ser feliz,

intensa é nossa alegria por ser aprendiz.

E a cada passo da trilha de nossa escalada

deixamos de ser ilha no meio da multidão.

Renata Villela

quinta-feira, 16 de abril de 2009

On the corner

Eu cresci ouvindo falar das ruas de Nova York, em cada esquina um idioma, mistura de raças e costumes, religiões e culturas.....Um lugar onde tudo é relativo, afinal conviver com as diferenças amplia o grau de flexibilidade das pessoas.... e a sociedade ganha uma pluri-verdade que traz o sabor do que é universal para cada esquina....
Nunca fui a Nova York mas moro na Bahia há 32 anos.... e sem querer ser bairrista, ufanista ou nacionalista, cada dia tenho mais certeza de que não preciso ir muito longe para ver situações das mais inusitadas que nascem dessa “mistura” que, como já propagandeado aos quatro cantos do mundo, “só se vê na Bahia”.
Quando penso que não vou mais me surpreender com nada, vem uma novidade que me faz pensar que, se não estou num dos lugares mais bonitos do mundo (tem gosto pra tudo!), estou com certeza num lugar em que as pessoas sabem viver melhor. Exercitam a criatividade e comungam bom humor junto com uma capacidade ímpar de transformar situações, re-significar sentimentos e escrever uma história nova a cada dia, com uma pitada de ousadia, irreverência e simplicidade. O que em outros lugares é um absurdo, aqui é natural; o que em outros lugares é inconcebível, aqui é cultural.... O que poderia chocar, faz rir.... O que poderia causar constrangimento ou irritação traz um gosto de surpresa que faz o coração se perguntar “como é que pode?” mas sem se sentir ofendido ou alfinetado....
Todo mundo sabe que a Bahia é terra festeira e o povo sai lavando um pouco de tudo o que existe na cidade, da igreja do Bonfim à Praia do Forte. Com água de cheiro ou com cerveja, com baianas vestidas com o traje mais tradicional ou com baianos e abaianados com seus abadás, encarando o calor da caminhada no asfalto na areia, lá vai o povo... Sob o espírito da fé ou sobre a graça da maré que sai levando (e lavando) tudo o que é gente, lá vai o povo...
Baiano é um povo retado e trabalhador, quem mora aqui é que sabe.... A questão é que baiano entende a vida pelo lado da alegria e da arte, do bom humor e da flexibilidade, da criatividade e da capacidade de transformação porque sabe que estresse enfarta, deprime, fragiliza e não traz solução diferente. Por isso esse povo mesmo sofrendo, chorando, “comendo o pão que o diabo amassou”, canta, dança, lava e reza porque sabe que “Deus é mais!” E é de todos !
Ontem, soube de mais um desses “causos” que nos calam.... Soube eu, que um padre novo chegou numa paróquia de Salvador. Logo, logo ele foi “convocado” para uma reunião: era mês de fevereiro e era necessária a autorização dele para uma festa tradicional do lugar, “ a lavagem dos cornos”. Isso mesmo ! Fazia parte da tradição do lugar, a reunião dos cornos para lavar as escadarias da igreja.... O padre anterior até os aspergia, água benta da verdadeira..... E aí? Como é que o pobre padre novo lida com uma situação dessas ?
- É este, mais um grupo de “excluídos” tentando se incluir na sociedade ?
- Um grupo de homens sofridos querendo a proteção de Deus ?
- Ou simplesmente um grupo de baianos bem assumidos querendo comemorar, com a proteção de Jesus, sob o olhar misericordioso de Nossa Senhora de Lourdes, entre terços e patuás, entre acarajés e abarás, a graça de saber que, independente “do que se tenha na cabeça”, é preciso ter muita alegria “bombando” no coração, pulsando no cotidiano e animando a vencer os tropeços, as trapaças e os trancos que a vida, de um jeito ou de outro, nos faz encarar ???.....
Com a indignação do inusitado, eu declaro meu amor por este povo que sempre surpreende e que, por isso, encanta ! Quem vai querer jogar pedras nos cornos ? Quem vai querer engolir o riso que escapole com as artes que esse povo inventa ? Quem vai tentar dizer que esse é um causo comum, que acontece em qualquer canto e que não causa espanto aos desavisados de plantão ?
Então ! Não importa se é chifre, boné, coroa ou trancinha que esse “meu” povo tem na cabeça, importa que tem seu reinado garantido na terra da fé e da alegria, do trabalho e da folia, da magia e da realidade. Aqui é a Bahia !
De alma lavada, resta-nos andar ! Andar com passo de baiano, que não é um passo qualquer.... “Andar com fé, que a fé não costuma falhar” ! A gente se vê por aí, on the corner ou com os cornos, na Barra, na Praça da Sé ou lá na porta da igreja para ver no que isso tudo vai dar.... E que seja o que Deus quiser !

Renata Villela

sábado, 11 de abril de 2009

O ovo de Páscoa

Vai chegando a Páscoa e o mundo vira criança à espera do ovo de chocolate... Pequenos, médios ou grandes, crocantes, amargos ou brancos, com ou sem surpresas, papéis coloridos, uma beleza !
Mas... qual o porquê do ovo de Páscoa ?
O colorido dos papéis, o sabor do chocolate... mas por que o ovo ?
Paixão, morte e ressurreição .... mas por que o ovo ?
Será que em algum momento, quando estamos correndo para escolher o tamanho e a marca de que mais gostamos, paramos para pensar por que é o ovo, o símbolo da Páscoa ?
O ovo é a marca da vida nova ! Quebrar as cascas, romper as barreiras de um mundo limitado e pequeno para se lançar na plenitude, abrir as asas, alçar vôo e buscar novos horizontes.
É Páscoa, tempo de passar das trevas para a luz, da morte para a ressurreição. Tempo de quebrar as cascas do egoísmo que endurece os corações e abrir as asas ao amor, à fraternidade e à vida verdadeira.
Que fique em nós, uma reflexão muito pessoal: como anda o ovo de nossa Páscoa interior ? Quebramos as cascas e nos lançamos, com coragem, a vivenciar o amor que desconhece limites e transcende fronteiras ? Ou permanecemos fechados e isolados em nossos pequenos mundos, presos a esses invólucros que, se por um lado nos protegem, por outro, muito mais nos impedem de conhecer a vida verdadeira, com todas as possibilidades de viver, sentir e amar, do jeito infinito que a ressurreição nos garante.
Mas sempre há tempo e sempre é tempo de reavaliar nossa caminhada !
Que consigamos quebrar nossos ovos de Páscoa e sintamos acontecer o milagre da vida nova em nossos corações ! Que nos libertemos de tudo o que limita nossa capacidade de amar e ressuscitemos das pequenas mortes de cada dia !
Não é preciso ter medo ! A cruz está vazia e as cascas ficaram para trás... Nosso Deus é um Deus ressuscitado, vitorioso e é ELE quem nos chama para, juntos, construirmos esse Reino tão sonhado.
Seguindo as marcas da história que ELE escreveu com o peso da cruz, a dor da paixão e a certeza da ressurreição,quebraremos nossas resistências, abriremos nossas asas e escreveremos nossa própria história com verdade, com dignidade e fé.

REnata Villela

sexta-feira, 10 de abril de 2009

"O grito, o silêncio, a esperança e a certeza"

Meu amor morreu.... Nosso amor morreu..... Finda-se uma história !
Acabou o tempo das grandes pregações, da cura dos doentes, da multiplicação dos pães....Morreu o Filho de Deus !
Contra todas as expectativas, ao contrário do que todos tinham como certeza, há solto no ar apenas o grito de um homem que chegou ao limite, experimentou todas as dores possíveis e, no auge do abandono, grita pelo Pai !
Grito quase de desespero, grito de solidão, de medo...quem sabe de desesperança.... Grito de quem levou sua missão LITERALMENTE até as últimas conseqüências e encontra, naquele momento, apenas o silêncio do Pai. Como suportar o silêncio de Abbá, o Paizinho presente em cada atitude e em cada gesto ? Largou-o no momento de maior dor ? Por que Deus silencia nos momentos de desespero ?
Silêncio de Deus !
Do vazio mais profundo, da dor mais intensa, da solidão mais dolorida nasce a última frase, que é de consolação e reencontro: “Tudo está concluído. Em Tuas mãos entrego meu espírito”
Em Tuas mãos, Abbá, Jesus entrega seu espírito, na certeza do acolhimento, na confiança da promessa de ressurreição.
Depois de ter abraçado a cruz como quem abraça toda humanidade sofredora, depois de ser crucificado de braços abertos como quem está a espera de quem quiser se chegar, Jesus se entrega, se abandona.... Não com o sentimento de quem foge ou desiste mas mergulhando na experiência de quem ama e confia, de quem se doa gratuitamente, como a criança que segue correndo e se joga nos braços do Pai.
Dos braços do Pai que o levanta após três dias, do coração do Pai que não desiste da humanidade, é que Jesus ultrapassa todas as barreiras, desarma todos os conceitos, quebra todas as convenções e, na simplicidade que marcou toda sua vida, ressuscita. Ele vive !
Cruz, morte, dor.... tudo é uma questão de significado e dimensionamento.
A cruz existe, não precisamos procurá-la mas, de um jeito ou de outro, ela chega a nós, ela chega a todos nós....
A morte existe, é a única certeza que temos desde o dia que nascemos, traz tristeza, traz arrependimentos, traz saudade.... Jamais escaparemos dela....
A dor existe, dor do abandono, da solidão, da falta de tantas coisas, da violência.... A dor das doenças e das descrenças que vamos encontrando pela nossa estrada.... Nascemos de uma dor forte !!!! Não fosse a dor do parto de nossas mães não estaríamos aqui.... Assim são as coisas de Deus..... Com sabedoria nos mostra que da dor nasce a vida.
Meu amor vive ! Nosso amor vive ! Jesus nos convida a resgatar a vida verdadeira ao longo de nossa existência. Pregado na cruz, Ele nos chama a ver além, a viver além das tantas coisas que parecem presentes do mundo, mas não são..... Fora da cruz, Ele nos ensina o segredo da entrega sem medo, da confiança no amor incondicional desse Pai que não mede conseqüências pela nossa felicidade, pela nossa salvação.
Fora da cruz, Jesus perdoa os nossos pecados e nos convida a também perdoar os que nos crucificam. Jesus nos relembra que somos filhos muito amados de Deus, resgata nossas esperanças, alimenta nossas certezas e restaura nossa capacidade de superação. Passada a experiência da cruz, do sofrimento e da morte, Jesus reacende em cada um de nossos corações, o brilho da confiança neste Amor invencível, que só morre para florescer, que só chega ao limite para nos mostrar que é lá no limite que conhecemos sua face mais gloriosa, a face do perdão, da misericórdia, da doação e do amor.

Renata Villela