sábado, 19 de dezembro de 2009

MENSAGEM DE NATAL

O fim do ano chega e, junto com o cansaço pela correria desenfreada do ano todo, vem a sensação de que tudo se repete. Novamente os shoppings enfeitados, novamente as pessoas se endividando para comprar presentes, novamente nossos corações se enchendo da esperança de que, no outro ano, as coisas venham a ser diferentes.
A mágica do sonho toma forma de fé e passamos mesmo a acreditar que as pessoas se respeitarão mutuamente, cuidarão da natureza como de suas próprias casas, conseguirão se colocar no lugar umas das outras e, assim, compreender mais, tolerar mais, confiar mais. A questão é que ter fé implica numa ação posterior, em serviço, em doação de dons, em amor. Não podemos acreditar que o amor vai se derramar de forma instantânea (como instantâneas são a maioria das coisas que a sociedade nos oferece hoje – instantâneas e automáticas!) porque amor é relação, é comportamento, é gesto concreto.
Amor, sentimento recheado de devaneios e florido de coisas abstratas deve ficar no encanto dos contos de fadas. Amor de verdade implica em cuidar, em respeitar as diferenças, em reconhecer a existência dos espinhos nas rosas que plantamos em nossos jardins, compreendendo os porquês e para quês deles (ou simplesmente aceitando-os) e, ao mesmo tempo, não permitindo que a existência deles sobrepuje o perfume e o colorido das pétalas.
Toda vez que olho um presépio fico encantada porque sinto o amor retratado na simplicidade daquela cena... Viajo na nossa incoerência: enquanto o Menino Deus nasce num estábulo, nós corremos pela contramão, colocando cada vez mais condições e senões para que as coisas aconteçam.
Olhando para o presépio, sinto saudades da simplicidade da vida, da possibilidade de conversar com um vizinho na porta de casa, da emoção por receber uma carta surpresa de um amigo distante, de andar a pé pelas ruas, sem destino, de dar gargalhadas de uma piada sem graça numa roda de amigos, de olhar as estrelas e ficar pensando em qual delas estará a rosa do Pequeno Príncipe...
Perdemos a ingenuidade, a singeleza das coisas simples do dia-a-dia. Perdemos a ternura, a experiência de comunhão, a atitude de presença contidas em valores como família e amizade. E encontramos o quê no lugar disso?
É...É, sim, mais um fim de ano que chega e, mais uma vez, eu me inspiro e me inquieto com o desejo de mudar, de ser uma pessoa melhor, de dizer SIM para as “coisas de Deus” com a mesma firmeza, determinação e confiança com que Maria respondeu ao anjo.
Mais uma vez eu entrego meu pacote de limitações, erros e espinhos nas mãos de Deus, pedindo que Ele seja sempre a minha força motriz e que me transforme em alguém melhor. Que eu seja capaz de trabalhar, em cada gesto do meu dia-a-dia, por um mundo onde justiça, dignidade e paz não sejam utopias esquecidas nas folhas de um dicionário.Finalmente, mais uma vez, mas a cada vez de uma forma mais intensa, eu desejo que o Menino Jesus nasça no coração de cada um de nós, transformando sofrimentos em consolo, turbulências em tranquilidade, desalentos em esperança e esperanças em certezas.
Assim, e somente assim, com Ele vivo dentro de nós, seremos capazes de ser, efetivamente, instrumentos de paz. E refletiremos, genuinamente, o amor que se consolida na verdade de nossas intenções e na gratuidade de nossas ações.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Mudança de Estação

O tempo fechou,
o céu que era azul nublou
e a luminosidade caiu.
A vida ganhou um tom acinzentado,
neblina, falta de visibilidade...
Na estrada, somente a possibilidade de enxergar
o palmo seguinte
mais nada !
No coração, apenas a certeza do presente
mais nada !
Esperança e confiança
teimando em ganhar o espaço ocupado pelo medo.
E o dedo de Deus a indicar um rumo
onde há brilho,
um trilho
que leva a um lugar de paz.
Trilho que vai e volta,
que chega e sai,
e entre curvas diversas
chega em travessas escondidas,
esquecidas dentro de mim.
Choveu ! Chove forte...
A brisa rapidamente se fez ventania,
desabamentos,alagamentos,
tempestade levando embora
sonhos de um amanhã
abafados em um agora sem chão.
Sem chão !
Emoções misturadas,
sensações indecifráveis,
desejos confundidos entre vontades não compreendidas,
experimentadas na ânsia de soluções,
na dor das indefinições,
na mistura de sentimentos sem nomes,
que ora me levam pra fora
e despertam em mim a necessidade de asas
que me permitam alçar vôo sem bússolas;
mas ora me acasulam num fio que me fecha
e me guarda
num tempo que está além do cronômetro
e das surpresas de cada dia.
Cada dia...
Cada dia com suas surpresas e suas emoções,
cada dia com seus abraços e seus tropeços,
cada dia com a magia que une corações
num laço que irmana
e emana o amor de Deus,
cada dia com a alegria de um amor
que traz novos significados sempre,
sempre !
Sol de primavera e chuva de verão,
luz e escuridão
e a bela certeza de que a vida
se compõe com a soma de cada estação.
Que venha a chuva...
Toda chuva passa
e só a chuva renova a vida,
por mais que haja destruição;
só a chuva garante a vida
das sementes que dormem ao chão.