sexta-feira, 9 de abril de 2010

Chora, Niterói!

Chora, Niterói !

Chora Araribóia
a dor de seus guerreiros soterrados.
Choram os guerreiros
o luto de tantas vidas
escorridas morro abaixo.

Chora Itapuca, Piratininga, Icaraí,
Charitas, Pendotiba, Itaipu,
habitantes dessa terra que à beira mar, descansa;
habitantes dessa terra mansa
que bebe diariamentea beleza da baía de Guanabara.
Agora, sufocados por essa dor que se escancara,
sofrem com a escara aberta pelas casas
há tantos anos deitadas sobre o lixo que,
feito bicho enjaulado,
rompeu o silêncio de nossa falta de atitude
pela dignidade humana.

Chora, Niterói !
Tão acostumada a adocicar seus olhos
com a beleza gratuita da natureza
que se estende a sua frente !
Chora diante do Redentor que,
de braços abertos, olhando o Ingá
continua a clamar ao Pai, por perdão
pela inconsequência de nossos atos.
É verdade !
Ainda não sabemos o que fazemos
com as nossas próprias vidas,
com as nossas terras,
com a nossa gente.

Chora o povo
diante do lixão derramado
a misturar sangue, cimento e terra
com o cheiro de metano
que, sem engano e com insistência,
anunciava a explosão dessa bomba silenciosa,
nessa guerra desastrosa
que poderia não ter acontecido.

Encerra-se mais um capítulo de nossa história
que por ignorância, medo ou omissão
faz o povo seguir pela contra-mão da vida.

Chora, Niterói,
por seus heróis anônimos
e por suas crianças órfãs;
por seus filhos soterrados,
enlutados, enterrados
e por suas mães tementes
do que ainda pode vir.

Chora a terra abençoada por seus santos
que cuidam de seus cantos
sempre encantados de sorrisos !
Sorrisos hoje perdidos, molhados, esquecidos...
"Nikiti, cidade sorriso",
onde está você?

Chora, do outro lado da cidade,
São Francisco, protetor da natureza,
cuidador da irmã terra que, hoje, com tanta tristeza,
sofre com nosso descaso e insensatez.
Chora a terra de Santa Rosa, São Bento e Sant'Ana,
mãe da mãe do Redentor.
Choram os herdeiros de Araribóia,
os filhos de Niterói
que se consolam mutuamente
mas caídos lamentam a sua dor.

Não ! Não hão de desistir facilmente,
guerreiros que são !
E, com as próprias mãos,
as mesmas mãos que hoje remexem a lama,
hão de encontrar forças
para construir um novo tempo
e plantar seus amanhãs.

Levanta, Niterói,
que o dia não tarda a raiar.
De cada vida que a lama soterrou
há de florescer a compaixão que nos irmana
e a consciência que nos conclama
a cuidar melhor da natureza (e de seus filhos!)
que é fonte de vida e beleza
não de dor e destruição.

Desperta em nós, Niterói,
a inquietação da certeza
de que ainda há solução,
ainda há condição
de vivermos outonos mais felizes;
mas felizes para todos, sem distinção !

Renata Villela, em 09/04/2010

quinta-feira, 8 de abril de 2010

O povo vira lixão que vira lágrima que se faz lama....

Me assusta pensar na situação em que nosso povo vive, em que nosso povo morre...
Ao tempo em que a solidariedade emociona, a falta de vontade política, a falta de discernimento de tanta gente expondo suas próprias vidas e as vidas de seus familiares ao longo dos anos me incomoda profundamente.
A chuva sai levando casas, famílias, igrejas e, de repente, tudo vira um grande lixão... E o metano aflora do que antes de haver lares, era um grande depósito de lixo. A água lava a imundície da nossa sociedade e a vida de tantos inocentes não pode ser poupada... Será que alguém vai enxergar ? O que estamos assistindo pela TV ? Será que temos noção ?
Lixo, mortes, fedor, explode a bomba do que estava enterrado ao longo dos anos... E agora, sobre a bomba, o sangue de crianças, de famílias, o colorido de sonhos destruídos em segundos pela natureza que gritou para que a verdade viesse à tona.
E agora ? O que faremos com esse lixo explodido em nossas caras ? O que faremos diante de tantas famílias dilaceradas, corpos sepultados ou talvez jamais encontrados sob a lama fétida do que desabou ?
Ano de eleição... Em quem votaremos ? Quem escolheremos para dar rumo ao nosso país, dar dignidade ao nosso povo ?
E agora ?
Renata Villela em 08/04/2010