sexta-feira, 2 de julho de 2010

Que povo é esse ?

Povo expurgado dos centros urbanos,
povo condenado à falta de planos,
povo excluído dos espaços de luxo,
povo sufocado na sujeira do lixo.

Povo que mata e perde a vida,
povo ferido com a morte comum,
povo que sofre uma dor escondida,
povo que ataca sem medo nenhum.

Povo valente e povo bandido,
povo consciente e destemido,
povo doente, alienado,
povo guerreiro, abandonado...

Que povo é esse que mora no morro ?
Que povo é esse que rouba os carros ?
Que povo é esse que rompe a madrugada
na rotina apressada de quem trabalha pra viver?

Que povo é esse que esbarra na morte
a todo instante, de cara pra ela?
Que povo é esse que põe na janela
a marca do seu amor abafado ?
Estende a bandeira verde e amarela
e vive nos gols, o seu sonho dourado ?

Povo que tem um passado marcado
de sangue, suor e histórias diversas;
povo que vive um presente incerto
entre gangues e tiros, histórias avessas.
Povo que espera um futuro melhor
com tempero que dê um novo sabor
a essa vida espremida entre o bem e o mal.

E enquanto esse tempo não vem, chora
e quando esse choro cessa, canta
e espanta a tristeza fazendo coro
derramando do peito, a paixão recolhida
que explode com jeito de “mundo ideal”.

O coro aumenta, encanta, contagia
e abafa as diferenças que machucam o dia-a-dia...
A grande torcida esquecida do que faz chorar
torce pra ver a seleção brasileira ganhar.
As vozes se somam e somem os medos
despertam segredos que se descortinam.
E apesar dos pesares de nosso país
o povo que canta é um povo feliz:
“Eu sou brasileiro
com muito orgulho,
com muito amor.”
E o coro repete:
“Eu sou brasileiro
com muito orgulho,
com muito amor”

É o povo brasileiro que faz festa quando canta
e espanta a tristeza para qualquer lugar.
Povo guerreiro que sabe que há hora marcada
pra todo esse “jogo” acabar.
E o sonho da igualdade acaba
no apito do juiz.
E o sonho da felicidade acaba
quando o som do gatilho soa
sussurrando a volta da vida real.

A esperança insistente, entretanto, ecoa
relembrando que o futuro
é semente que floresce
mesmo quando espremida entre o bem e o mal.
Renata Villela