domingo, 20 de dezembro de 2015

Mensagem de Natal



Dezembro está aí. O Natal bate em nossas portas... Dentro de nossas casas, corações assustados, com medo, esvaziados. A sensação é de que estamos mais vulneráveis do que nunca. Faltam-nos certezas! Encontrando-nos nesse momento de total instabilidade, o Menino Jesus pede-nos um canto para nascer.

Penso que, hoje, a maior crise de nosso mundo é a crise do amor. Não temos conseguido experimentar o amor como comportamento efetivo, gesto concreto, atitude diária. Num mundo que nos bombardeia com a ideia de que tudo se consegue apertando botões, de que as coisas são passageiras e descartáveis, é difícil mergulhar de cabeça em algo que se dispõe a ser eterno e construído lentamente. Quando houve o ato terrorista na França, a única coisa que eu pensei foi na necessidade veemente de amarmos mais e melhor. Amarmos de fato! Precisamos romper barreiras, correr riscos pelo bem do outro. Exercitar o amor verdadeiro, aquele que não rotula, não divide, não discrimina, não cria muros. Precisamos viver o amor que integra, respeita e transcende diferenças; constrói pontes.

O mundo chegou ao ponto que chegou, seja na perspectiva mundial, (do desrespeito à natureza, das guerras, dos atos terroristas), seja na perspectiva nacional ou regional, (da violência dos centros urbanos, da competitividade nas empresas, da corrupção desenfreada) por causa de nossa falta de disponibilidade (e de coragem!) para amar.

Amar implica desestabilizar-se, porque amar – invariavelmente – dói. É difícil lançarmo-nos ao outro, encarando o risco de nossa vulnerabilidade. Temos tantos medos... Tantas resistências... Tantas ressalvas... E é certo ferir-se quando nos dispomos a amar, quando saímos de nós, desprendemo-nos de certezas e garantias. Precisamos, mais do que nunca, seguir com José e Maria, com a confiança de que haverá um lugar para o Menino nascer, por mais que portas se fechem.

É muito pouco se indignar diante do que a TV nos mostra: pessoas explodirem e outras se destroçarem, pessoas se desiludirem e outras roubarem, pessoas progredirem e outras morrerem sob a lama ou sobre camas de hospitais superlotados. Balas perdidas dizimando vidas que mal deram seus primeiros passos. Pais violentando filhos. Alunos atacando professores. Pessoas usando a religião como bandeira de morte, enquanto um simples mosquito põe em cheque toda prepotência humana. E as portas continuam fechadas... Maria e José continuam procurando um canto para Jesus nascer. Acordemos! É tempo de confiar mais e desempoeirar nossa fé. Pessoas de fé trabalham pelo reino de Deus, seja lá qual for o nome que se der a Ele. E o projeto de Deus é – sempre - um projeto de amor.

O Natal está aí e, como sempre, somos livres para fazer nossas escolhas: deixar o barco correr ou assumir as rédeas não somente de nossas vidas, mas da vida de nosso planeta, de nossa sociedade. Podemos viver o Natal dos shoppings ou o das famílias. Podemos gastar tudo o que temos com os presentes mais caros ou doar tudo o que somos e sermos os mais caros (queridos) presentes para alguém. Podemos prender nossos olhos a nossos próprios umbigos ou abrir nossos braços para acolher quem caminha, muitas vezes, sem ser visto. Podemos estar do lado de dentro das hospedarias, dizendo “não temos lugar” e trancando nossas portas ou podemos estar na rua, nas periferias, tentando arrumar um cantinho quente para o Menino nascer. As escolhas são sempre nossas. Algumas nos levam a um falso sossego e ao vício de sempre culpar alguém pelas turbulências do mundo. Outras, inquietam, incomodam, até fazem sofrer, mas levam a uma paz e a uma alegria que transcendem o entendimento humano. E trazem para nós a responsabilidade pelo que fazemos e pelo mundo que vivemos.

Muito temos a aprender com a família de Belém, com os pastores e os magos. Muito temos a aprender com o brilho da estrela e a simplicidade da manjedoura. Muito temos a aprender com o Menino, pequenino, que escolhe a pobreza e nos convida – incansavelmente – a amar. A grande questão é que, se nos dispusermos a enxergar todos os sinais e a aprender cada lição, não mais conseguiremos restringir nossas vidas ao que sonhamos para nós. Nossa vida passará a ser nossa resposta ao sonho de Deus.
A escolha é sempre nossa! Sempre, a escolha é nossa!
                                                                                    Renata Villela  / Dezembro/2015