segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Mensagem de Natal - Inquiete-nos, Jesus !



Dezembro acabava de abrir as portas quando  fui “escolhida” para buscar um bebê recém-nascido na maternidade... A mãe tinha 17 anos, residente em um abrigo que acolhe crianças e adolescentes vítimas de violência. Confesso que me senti como os magos: animada para ir ao encontro do Menino Jesus. Chegando ao hospital, infelizmente, a criança não havia sido liberada, por estar desnutrida. Foi aí que comecei a imaginar o Jesus dos nossos dias: desnutrido, nascido na periferia... Maria, com 17 anos, residente em um abrigo, vítima de violência... A manjedoura: um hospital público, com todo tipo de carência que se possa imaginar... Naquele momento, para mim, o Natal saiu do campo da contemplação e passou a correr nas minhas veias, como experiência viva. A constatação? Jesus foi mesmo um menino pobre, de uma família de periferia, que nasceu no meio dos animais, porque ninguém quis acolher o casal peregrino. Jesus nasce hoje, escondido em um canto qualquer da cidade. Nós, por outro lado, muitas e muitas vezes, não conseguimos enxergar a estrela para ir a Seu encontro, porque todos os holofotes de nossa sociedade estão virados para outros lugares.
                                                                                                               
O que ficou em meu coração? Uma enorme inquietação! E, assim, nasceu a inspiração para essa mensagem de Natal e o desejo de abrir uma brecha de inquietação no coração de cada um. Quando abrimos brechas para pensar em tudo o que José e Maria passaram para chegar até ali ou quando transportamos a história do nascimento para nossos dias, somos chamados a mergulhar mais fundo em nossa percepção da realidade e, consequentemente, reavaliar nosso papel no mundo...




É tempo de Natal! O pedido que faço ao Menino Jesus é um só: inquiete-nos ! Não nos deixe cair na tentação de olhar somente para o nosso umbigo, de querer criar nossos filhos, netos, sobrinhos  sob redomas, de nos acomodar ao sofá de nossas salas... Nem nos deixe ficar estagnados, chorando o lamento do que está ruim.

Inquiete-nos, Menino Jesus, com a simplicidade de Sua família e de suas atitudes. Inspire-nos a reconhecer o que é essencial e a desapegar de todas as coisas supérfluas que vamos colando em nossas vidas, ao longo de nossa história...

Inquiete-nos, fazendo-nos mudar nossa forma de ver as coisas. Que demos valor ao que tem valor de verdade. Em vez de supervalorizar o wifi ou a melhor conexão de internet, que enxerguemos o valor de um olhar terno, de um abraço caloroso e de um sorriso verdadeiro.

Inquiete-nos, Menino Jesus, com a espontaneidade de Sua presença entre os doutores da lei e com Sua disponibilidade para servir sem questionar. Ensina-nos a viver desse mesmo jeito.

Meu Deus Criança, Pequenino, inquiete-nos com Sua proposta de misericórdia, que traz o exercício do perdão. Inquiete-nos com Seu testemunho, que nos ensina a transpor todas as diferenças, respeitando-as. Faz com que paremos de olhar para o que nos separa e coloquemos o foco de nossas ações em tudo o que trouxer o gene da integração. Que consigamos nos enxergar como irmãos, independente do lugar onde nascemos, da religião que escolhemos, das verdades que acreditamos ou de qualquer outra diferença que possa nos afastar.

Nasce em nós, Menino Amado, desmonta nossas paredes, desanda as nossas fórmulas e derruba preconceitos e medos. Devolve a todos nós, o desejo de AMAR. Que aprendamos a amar como Você amou, assumindo todas as consequências, sejam elas quais forem. Inquiete-nos, Jesus, e encoraje-nos a mostrar a nossa cara, expressando e testemunhando – com nossas atitudes diárias - o que acreditamos. Inquiete-nos a assumir o Seu projeto, abraçando os pequeninos e exercitando a humildade, a gratuidade e o perdão.

Inquiete-nos, enfim, a transformar todos os meses em dezembro, todos os dias em natal e, acima de tudo, a enxergar Sua face em todas as pessoas de todos os lugares. Que, assim, celebremos cada minuto da vida como um milagre que não se repete.

Que não deixemos para “algum dia”, o bem que podemos fazer a nós mesmos, aos próximos mais próximos e a todos os esquecidos nas “manjedouras” de nosso tempo. Que nossa comunhão seja a nossa força e que, inspirados em Seu Amor, assumamos nossa responsabilidade de mudar esse mundo que está aí.

O lugar é aqui e o tempo é agora!

Amém!
                                                                                                         
                                                                                             

                                                                                                                      Renata Villela – Dezembro/2016