domingo, 30 de abril de 2017

Meu coração chora a violência



Meu coração, hoje, chora
as escaras abertas
por tanto ódio escorrido
pelas redes sociais.

Meu coração chora
os cortes, os rachas,
o movimento cruel que nos separa
e menospreza o lado oposto,
em vez de integrar-nos
como faces de um mesmo rosto.

Meu coração chora
nossa incapacidade de aceirar
o diferente;
nosso desejo de enquadrar
toda gente
num mesmo jeito de pensar,
sob o jugo da burrice sórdida,
colada como rótulo
na testa dos que escapolem do quadrado imposto.

Meu coração chora
por esse presente míope,
o olhar desfocado,
nosso passado rasgado
e o futuro obscuro
a nos esperar.

Choro por ver, hoje, explícito,
vindo de todo lugar,
o desejo de distribuir violência
brotado na impaciência
que faz sangrar.

Meu coração chora
não pelas divergências
- elas sempre são saudáveis;
não pelas diferenças
- elas sempre são complementares...
Choro pelas guerras que travamos,
uns contra os outros,
massacrando a liberdade
e exacerbando nossa necessidade
de fazer valer nossa verdade pessoal,
assassinando tudo o que não é igual.

Choro a dor da desesperança
no ser humano que se engasga
com suas próprias palavras.
Perdeu-se da criança que brincava em times opostos
que , depois, se misturavam...
Sabia colocar tudo em seu devido lugar!

Choro
porque meu sonho de viver
num país diverso e forte
escorre, verso a verso,
na frustração das algemas
que nos colocamos –mutuamente –
ao trocarmos farpas,
ao incentivarmos tapas,
ao nos perdermos em cisões
que só nos afastam
do bem comum.

O diálogo saiu de moda
e  o óbvio tornou-se unilateral.
A ânsia de apontarmos
o mal que há no outro
só faz aumentar a rede de esgoto
que deixará submersos,
impiedosamente,
todos os nossos ideais.

Choro, mas lá no fundo, ainda acredito
que ainda há tempo
de somar nossos anseios
e colocar um freio
no trator que vem derrubando
nossas construções.

Quero afastar a angústia
que, hoje, me aperta o peito
e voltar a acreditar
que há um jeito
de, respeitando nossas diferenças,
percebermos que conflitos só nos fazem crescer
quando não se encerram em si.

Não sei quando poderei sorrir...
Hoje, vejo muros mais altos que pontes
e fico tonta
diante de tanta agressividade.
Espero que, no futuro,
a história conte esse nosso tempo,
como tempo de transformação,
de superação das algemas e tornezeleiras
para a celebração do  encontro de tantas bandeiras
que, juntas, depois de muito trabalho,
encontraram novas soluções.

Choro, sim,
mas não paro de sonhar.
Os sonhos me mantêm viva
e avivam, em mim, a certeza
de que é necessário dormir
para acordar

num amanhã melhor.

sexta-feira, 14 de abril de 2017

Dia santo,de amor e perdão


Lá fora, chove forte...E a imagem que me vem é a do choro de toda humanidade se derramando sobre nós... O choro de mães que perdem seus filhos nas guerras, no tráfico, no trânsito...O choro das pessoas desempregadas, que sofrem pela insegurança e pelas dificuldades que se repetem... O choro das pessoas doentes, no leito dos hospitais, com suas dores físicas e emocionais... São tantos choros acumulados que, diante da Sua cruz, Jesus, transbordam.
A sexta-feira santa é um dia triste... Não só porque Você morreu há tantos anos,mas também porque Você continua sendo crucificado diariamente....Porque continuamos sem entender (mais ainda, sem viver) Suas palavras. Seguimos cegos para a Verdade Maior.

Seu Amor é tão grande que não cabe em nossa lógica... Volta e meia, em nossas reflexões, teimamos em não perceber o seu SIM. Ficamos indignados diante da maldade humana, mas passamos batido pelo fato de que Você tomou a cruz para si, por Amor. Poderia tê-la negado e pensado em si, mas não ! É difícil pra gente entender um amor que escolhe sofrer por nós, que não usa seu poder em benefício próprio...  Seu Amor foge do esperado e nos surpreende... Seu Amor me instiga, Jesus, me inquieta.

Olhar Seu rosto sangrando, imaginar a dor de estar pregado numa cruz, sendo puxado para a terra pela lei da gravidade, imaginar o sofrimento de não ver Seus discípulos ao Seu lado, tanto escárnio e zombaria...Tudo isso me dói tanto. E dói ainda mais quando penso que mudamos tão pouco. Somos ainda o povo que quer soluções imediatas, que não dá a outra face, que bate as portas das hospedarias e que foge ou nega, na hora que a coisa aperta. Somos ainda o povo que só enxerga a sua própria verdade, que é intolerante com os diferentes e que quer dar as cartas do jogo. Se for diferente do script que escrevemos, não vale.

Diante de Sua cruz, Jesus, só uma palavra brota em meu coração: perdão!  Perdão não apenas pelo que fazemos de errado, mas por todas as vezes que deixamos de fazer o certo. Perdão não só pelo lado mal que mora em nossos corações, mas pelo bem que não exercitamos nas pequenas coisas. Perdão, Jesus, pela cruz que colocamos nas Suas costas, cada vez que nos calamos diante das injustiças, que nos acomodamos diante das coisas do mundo e que nos esquecemos de Sua Palavra e de Seu exemplo de Amor.


Perdão, Jesus! Ajuda-me a ser uma pessoa melhor. Ajuda-nos a ser uma sociedade melhor!

                                                       Renata Villela, 15/04/2017

sábado, 8 de abril de 2017

Bem-vinda, Alice

Alice

Nasceu Alice:
a mais nova princesa do Reino Encantado;
é a vida que chega, nos dando um recado:
criança é esperança
no tempo do Amor.

Bem-vinda, Alice!
Seu choro chegando faz chorar também,
é tanta alegria, que a gente não detém,
transborda em gotas
que fazem sorrir.

 Alice,
menina táo linda e tão esperada,
florzinha cheirosa e já tão amada,
sua vida renova nossa caminhada,
empolga a seguir semeando o que virá.

Vem, menina,
anima essa gente, reensina a sonhar,
convida a gente a buscar o lugar
das mil maravilhas que encantam a vida.

Alice, menina querida, nossa princesinha,
primeira  semente de uma geração,
vem jogar na gente, nova sementinha,
pra fazer florir nosso coração.


                                                                Em 08/04/2017

domingo, 2 de abril de 2017

Viver o presente



Ontem eu estava arrumando uns arquivos no computador e comecei a olhar algumas fotos que me fizeram viajar no tempo. Ao contemplá-las, pensei: “como estávamos felizes! Nem imaginávamos que pouco tempo depois, o que construímos ficaria vivo apenas nas nossas lembranças, nosso grupo se desfaria e encararíamos uma situação tão adversa.” Através daquelas fotos, revivi toda alegria e senti os sorrisos me contagiarem. As lembranças me despertaram a pensar no presente, como um milagre que não se repete.
Quantas vezes deixamos o agora passar porque estamos envoltos nas preocupações do que virá ou na saudade do que se foi? Quantas vezes atropelamos as pequenas coisas, dando valor ao que nem é importante para a vida, ainda que o seja para a sobrevivência? A gente chega nos lugares sem nem lembrar qual foi o caminho que fizemos; termina de almoçar sem nem ter degustado o sabor do que comeu...  A gente senta do lado de alguém, mas abaixa a cabeça para acompanhar o whats app que não para de notificar postagens. Aí, de repente, leva uma rasteira da vida. De cara pro chão, vê amigos com doenças graves, vê pessoas sofrendo o luto de alguém e se dá conta do quanto somos vulneráveis. Tudo passa. Tudo, um dia, se acaba. Se não tivermos visto as sementes brotarem, as flores desabrocharem, o inverno chegará, secará tudo e só ficará o aperto no peito. Precisamos atentar para o aqui e o agora e perceber que o nome “presente” não é por acaso. Aliás, nada é por acaso.
Fico pensando que, talvez, mais do que esperança, precisamos da experiência da vida diária, porque é nela que recarregamos as energias para encarar as turbulências. Porque turbulências sempre virão, o sofrimento é inerente à vida, não depende de nós. O que depende de nós são os laços que criamos, as alegrias que alimentamos, a fé que cultivamos, os sorrisos que despertamos, os sonhos que sonhamos, ainda que, nem sempre, sejamos capazes de realizá-los. É o presente que recebemos a cada segundo que nos mantém vivos, independente do que passou e do que virá.
Estamos vivendo um tempo de desesperança em nosso país e isso contamina, como doença que vai corroendo o brilho de nosso olhar. Vivemos, ao mesmo tempo, o saudosismo de uma época (que nem sabemos – ao certo – se, de fato, vivemos) e a pressa de fazer os ponteiros rodarem mais rapidamente, na expectativa de tempos melhores. Fica uma nostalgia que nos cega para o que não está no mural. Abatidos, seguimos tropeçando nos acontecimentos e não sugamos deles, o nectar da vida. Precisamos encontrar luz no que tem luz de verdade e a única luz que é infinita e eterna é a luz do amor. É bem verdade que amar dói. E como dói! O amor, ao mesmo tempo que nos faz tocar o céu – na dimensão do que está além das coisas desse mundo caótico – nos põe de frente com a consciência de que temos um “prazo de validade” e não somos super heróis. Ao tempo que desejamos fazer tudo por quem amamos, nos damos conta de que, muitas vezes, tudo o que podemos fazer é rezar, ser presença...E amar!  Mas é o amor, o gancho que nos prende – como âncora – ao presente, fazendo-nos viver cada dia. O amor nos faz parar no encontro de olhares, no encanto de sorrisos e na presença contida em cada lágrima derramada, seja por que motivo for, mas que sempre nos lembra nossa humanidade.
A verdade é que, entre sorrisos e lágrimas, encontros e desencontros, constatamos que nada na vida se repete. Por isso, se não vivemos aquele instante, perdemos. O presente, quando vivido intensamente, ao passar, deixa marcas que não passam. Ainda que o tempo passe, o presente se eterniza no além tempo. Por outro lado, se o presente passa, por nós,  despercebido, vira passado. Amassado como papel velho, com cheiro de mofo. E o que passou sem amor, passou...
O tempo não depende de nós. Experimentá-lo, sim.  Que o agora seja, para nós, presente e que o presente, seja para nós, certeza de que estamos vivos para viver.

Renata Villela – Abril/2017