quarta-feira, 2 de agosto de 2017

Vocação

Estamos condicionados a escutar a palavra "vocação" e associar a duas coisas: 
1. orientação vocacional, para escolha de profissão;
2. vocação religiosa.
Isso é um olhar reducionista e equivocado, por isso, é importante abrirmos essa escuta à possibilidade maior de significado dessa palavra. Vocação vem do latim "vocare" que significa "chamado". Quando trazemos o tema da vocação, estamos nos perguntando: "a que fomos chamados?". 

Pensar em vocação é pensar em nossa missão no mundo, é pensar nos dons que recebemos e como os colocaremos a serviço para fazer acontecer o Reino aqui.  Responder "sim" ao chamado que Jesus nos faz implica comprometimento com o "para quê" estamos vivos.

Assim, nosso primeiro chamado é à vida. Esse é nosso primeiro "sim", quando choramos e abrimos os pulmões para respirar fora do ventre materno. Vale lembrar, contudo, que é importante renovar esse sim periodicamente, para que não caiamos na cilada de sobreviver aos tropeços, esquecendo do que é essencial. Diariamente, em nossos momentos de oração, na revisão de vida, podemos nos perguntar: "estamos, de fato,  vivendo?"

Depois desse, vêm os outros chamados: à família, à vida religiosa, à atuação leiga, enfim, o chamado de ser quem somos, colocando nossos dons a serviço do bem comum, exercitando nossos dons e nos posicionando no mundo como seres singulares.. A escolha da carreira pode ou não ser um braço direto dessa vocação, porque a resposta à nossa vocação é mais que profissão, é serviço! Alguns de nós têm a possibilidade de conciliar a atividade que traz o sustento com o exercício de se colocar em doação ao outro, Já para outras pessoas, essa "cola" não é tão direta. O exercício da profissão está ligada à realização de um trabalho que gera renda e a resposta à vocação está em outro lugar, num serviço voluntário, numa pastoral da igreja, na atuação familiar... Seja de que forma for, a vocação está relacionada ao nosso lugar no mundo, à nossa realização como PESSOA e, consequentemente, à nossa felicidade, em seu sentido mais profundo.

Quando entendemos os sinais e discernimos sobre o que Deus espera de nós, descobrimos a felicidade de compor a grande orquestra dos que disseram sim ao Amor (maiúsculo), na experiência do Evangelho. Entendemos o que significa "dar de graça o que de graça recebemos". Encontramos nossa razão de ser e o sentido de nossa existência. 

Quando silenciamos nossos ruídos internos para escutar o chamado que Jesus nos faz (e Ele nos fala no silêncio da oração e, também, pelas palavras espalhadas no mundo) largamos o que nos prende e O seguimos, movidos por uma chama que não se traduz nas coisas do mundo. Nessa perspectiva, todo esforço se torna pequeno diante da consolação que brota em nossos corações. A questão é que Ele fala baixinho e nos convida a ler as entrelinhas dos acontecimentos. Se levamos nossa vida na correria e ficamos só na superfície das oportunidades que a vida nos dá, corremos o risco de passar em vão pelos anos de nossa existência, prolongando um vazio que se arrastará e nos sufocará. Se nos dispusermos a desacelerar, a abrir nossos ouvidos para "a voz que nos chama", perceberemos como é simples (ainda que nem sempre seja fácil) encontrar a consolação do encontro que nos faz um com Deus.

O mês de agosto é o mês dedicado às Vocações. Que tal pararmos um tempo a cada dia para refletir sobre nossas respostas e, sempre que for preciso, ajustar as velas de nossos barcos para navegarmos aonde precisamos ir?