quinta-feira, 15 de março de 2018

Marielle, presente !




Quando no meio da lama política
e do caos social;
no meio das guerras do tráfico
e do abuso policial,
uma voz se levanta
alertando sobre o que é ilegal (ou imoral)
é sinal de que alguém sobrepôs-se ao perigo
e assumiu – com fervor – seu papel.

Na favela,muitas vozes se calam
diante da realidade imposta
e da luta desgastada
pela sobrevivência...

Na favela, poucas vozes ousam gritar
e as que gritam se expõem
e as que se expõem, arriscam-se.
Abalam estruturas consolidadas, sim,
mas, infelizmente,
 são surpreendidas pelo fim da história
antes do último capítulo.

Marielle, negra e mulher,
Voz de Acari e da Maré,
assumiu para si a dor
e o grito sufocado
de tantas minorias.

Ironia?
Agonia...Selvageria...Covardia...
Executaram Marielle
de forma brutal, de um jeito cruel.
Mataram Anderson, pai de família,
mais um trabalhador que morre
no exercício de sua profissão.
Marielle, mais uma mulher que perde a vida,
mais uma negra que aumenta a estatística
da violência em nosso país...
Triste país, órfão de seus filhos.

Executaram Marielle
mas não calarão a voz que denunciava 
o que outros temiam falar, tanto mal....
Nem tampouco pararão a luta dos que acreditam
em uma sociedade mais justa e igual.

Marielle, antes vereadora de uma única cidade
torna-se embaixadora do povo de todos os lugares,
rompendo fronteiras e nacionalidades.
Marielle, socióloga que transformou estudos acadêmicos em ação
passa a marcar com seu sangue a história desse país sem direção.
País que agoniza
porque não prioriza a vida
sob nenhuma perspectiva,
em nenhuma situação.

Uma voz que se cala
na vala da morte mais cruel.
Não! Não se calará!
Mais um tiro,
Tantos tiros,
mais dois corpos jogados ao chão...

Os que tentaram calar Marielle
esqueceram que a voz que ela gritava não era só dela,
vinha dos moradores de todas as favelas
e de todos os bairros nobres (por que não?)
Vinha de todas as pessoas cansadas da violência
e de tanta impunidade
da leviandade
e de tanta distorção de valores.

Aos que tentam comparar a morte da Marielle
com tantas outras que acontecem todos os dias
eu só digo que morte não se compara,
que a dor que a violência causa
em que circunstância for
abre escaras profundas em todo e qualquer coração.

A morte de Marielle, entretanto,
é mais que uma vida a menos:
é tentativa hipócrita de de calar a voz
de quem não abaixou a cabeça.

A morte de Marielle
reune em si todas as mortes que ficaram impunes
e foram esquecidas;
reune em si todas as vozes que ficaram caladas
e todas as dores que não foram tratadas.
A morte de Marielle dá nome
a todas as vítimas anônimas
e a todas as famílias enlutadas.

Em paralelo,
enquanto  a morte de Marielle acorda
toda coragem adormecida
de um povo desacreditado no amanhã,
a vida de Marielle instiga 
e inspira cada um de nós
a também soltar nossa voz,
assumir nosso papel
e cumprir nossa missão.

Marielle, presente!
Sua luta não foi em vão.