segunda-feira, 1 de novembro de 2021

Voa, Magali!

 

Quantas palavras ouvimos,
lemos, escrevemos
e aprendemos a sentir...
Hoje, nenhuma delas
parece fazer sentido
diante do silêncio
que não queríamos ouvir.

Seu voo leva consigo
tantas coisas, tantas partes
de cada um de nós.
Seu voo deixa conosco
um girassol colhido
com cheiro de saudade,
no jardim da esperança.

Nessa saudade que fica,
o silêncio ganha voz
e ecoa aos quatro cantos,
rompendo barreiras
de tempo e lugar.
Nas memórias que despertam
dessa saudade,
tantas histórias, tanto aprendizado
e quantos caminhos repensados
a partir de suas provocações.
 
Mais do que literatura,
aprendemos que,
por mais dura que seja a vida,
por mais feridas que estejam nossas mãos,
sempre haverá poesia,
enquanto houver fé e esperança,
solidariedade e a confiança
de que, juntos,
podemos mais do que imaginamos.
 
Mais do que redação,
aprendemos a ter visão crítica
da realidade;
a não ser mais um
a considerar banalidade,
os absurdos que explodem em cada esquina.
Aprendemos a acreditar
que somos capazes de escrever
uma história original e única,
diferente do que, tantas vezes,
o mundo tenta nos ditar.
 
É verdade que nossos passos têm andado cansados
por tantas frustrações,
desilusões....
por vermos nosso país
na contramão do que acreditamos.
De repente, seu voo sacode nosso cansaço
e  vemo-nos envolvidos
num grande abraço,
calado, sentido,
carregado de um sentimento
que não sabemos descrever.

De repente, sua partida deixa-nos órfãos
daquela voz forte,
que misturava veemência e ironia,
com a sabedoria que poucos têm.
Assim, nossos corações voltam no tempo,
num tempo em que várias gerações se encontram
com histórias para contar.
 
Você, Magali, deixou marcas profundas
em cada coração que teve o privilégio
de ser tocado e transformado
por suas palavras, por seu silêncio,
por seu olhar.
 
Inacreditavelmente,
seu voo também,
acordando as lembranças
de tudo o que nos ensinou
vem despertar a inquietude e a consciência
de que não nascemos para assistir a vida de camarote,
deixando acontecer.
 
Sua partida,
sentida por nós de forma tão intensa,
mistura dor e gratidão.
e em nome de tudo o que aprendemos com você, Magali,
prometemos: nós não vamos desistir
de sonhar, de lutar
e de acreditar
nas sementes que estão em nossas mãos.
Seguiremos, sim, semeando o que você cultivou em nós!
 
E, apesar de tudo o que nos angustia
e teima em querer nos paralisar,
não deixaremos que nos roubem
o sonho de um país melhor.
Sonho que você nos inspirou a sonhar;
sonho que, agora,
é de todos nós.
Sonho que ganha o eco
de nossa voz !
 
Voa, mestra, voa!
Pode voar em paz!
Aqui, sua missão foi cumprida!

Renata Villela, em 31/10/2021