Quando no
meio da lama política
e do caos
social;
no meio das
guerras do tráfico
e do abuso
policial,
uma voz se
levanta
alertando
sobre o que é ilegal (ou imoral)
é sinal de
que alguém sobrepôs-se ao perigo
e assumiu –
com fervor – seu papel.
Na favela,muitas
vozes se calam
diante da
realidade imposta
e da luta
desgastada
pela
sobrevivência...
Na favela,
poucas vozes ousam gritar
e as que
gritam se expõem
e as que se
expõem, arriscam-se.
Abalam
estruturas consolidadas, sim,
mas,
infelizmente,
são surpreendidas pelo fim da história
antes do
último capítulo.
Marielle,
negra e mulher,
Voz de Acari
e da Maré,
assumiu para
si a dor
e o grito
sufocado
de tantas
minorias.
Ironia?
Agonia...Selvageria...Covardia...
Executaram
Marielle
de forma
brutal, de um jeito cruel.
Mataram
Anderson, pai de família,
mais um
trabalhador que morre
no exercício
de sua profissão.
Marielle, mais uma
mulher que perde a vida,
mais uma
negra que aumenta a estatística
da violência
em nosso país...
Triste país,
órfão de seus filhos.
Executaram
Marielle
mas não
calarão a voz que denunciava
o que outros temiam falar, tanto mal....
Nem tampouco pararão
a luta dos que acreditam
em uma
sociedade mais justa e igual.
Marielle,
antes vereadora de uma única cidade
torna-se
embaixadora do povo de todos os lugares,
rompendo
fronteiras e nacionalidades.
Marielle,
socióloga que transformou estudos acadêmicos em ação
passa a
marcar com seu sangue a história desse país sem direção.
País que
agoniza
porque não
prioriza a vida
sob nenhuma
perspectiva,
em nenhuma situação.
Uma voz que
se cala
na vala da
morte mais cruel.
Não! Não se
calará!
Mais um
tiro,
Tantos
tiros,
mais dois
corpos jogados ao chão...
Os que
tentaram calar Marielle
esqueceram
que a voz que ela gritava não era só dela,
vinha dos
moradores de todas as favelas
e de todos
os bairros nobres (por que não?)
Vinha de
todas as pessoas cansadas da violência
e de tanta
impunidade
da leviandade
e de tanta
distorção de valores.
Aos que
tentam comparar a morte da Marielle
com tantas
outras que acontecem todos os dias
eu só digo
que morte não se compara,
que a dor
que a violência causa
em que
circunstância for
abre escaras
profundas em todo e qualquer coração.
A morte de
Marielle, entretanto,
é mais que
uma vida a menos:
é tentativa
hipócrita de de calar a voz
de quem não
abaixou a cabeça.
A morte de
Marielle
reune em si
todas as mortes que ficaram impunes
e foram
esquecidas;
reune em si
todas as vozes que ficaram caladas
e todas as
dores que não foram tratadas.
A morte de
Marielle dá nome
a todas as
vítimas anônimas
e a todas as
famílias enlutadas.
Em paralelo,
enquanto a morte de Marielle acorda
toda coragem
adormecida
de um povo
desacreditado no amanhã,
a vida de
Marielle instiga
e inspira cada um de nós
a também
soltar nossa voz,
assumir
nosso papel
e cumprir
nossa missão.
Marielle,
presente!
Sua luta não
foi em vão.