Dezembro chega de um jeito diferente... Menos colorido,
menos vibrante... Parece vir coberto de uma nuvem de saudades e medos, de
incompreensões e lutos. Chegamos a ele com sede de esperança, de alegria e paz!
Impossível pensar dezembro sem associá-lo ao Natal e ao
Ano Novo. O isolamento social impede as festas! Vivemos diante do inesperado. Talvez,
a primeira sensação seja de que perdemos o caminho para a fonte que nos
reabastece. Depois, aos poucos, bem lentamente, vamos compreendendo que há algo
escondido nesses acontecimentos, que nos chama a novas descobertas, a novos
aprendizados, a novas formas de ser e viver. Há um vazio que precisa ser preenchido!
E se deixarmos, será! Estamos diante de uma bela oportunidade de re-significar
“os encontros” e o verdadeiro sentido desse tempo.
Vale lembrar que há mais de dois milênios, os moradores
de Belém negaram hospedagem a um casal de migrantes, pobres, peregrinos,
possivelmente sujos pela poeira da estrada. Ela, grávida, prestes a dar a luz,
encontra um único lugar para descansar e acolher a chegada de sua criança: um
estábulo! No meio das pessoas, não houve lugar para o Menino nascer. Foi no
meio dos animais que o Pequenino veio ao mundo... Na periferia! Na periferia de
Belém, Maria e José receberam o Menino Jesus. Os primeiros a encontrá-los foram
os pastores... Justamente os pastores, povo excluído da época. Assim, Maria,
José, o Menino Jesus, os pastores e os animais nos trazem, nessa cena, o recado
que Deus quis (e quer) nos dar. Compreendemos?
Contemplar essa cena nos permite algumas reflexões. Jesus
nasceu “migrante”, como tantos para os quais a nossa sociedade olha com
discriminação. Jesus nasceu na periferia, em meio aos excluídos... E onde nós O
procuramos? A estrela-guia aponta o caminho, mas estamos com os olhos fixos nas
telas dos smartphones, incapazes de olhar para o Alto (ou para os lados)... Assim
temos vivido por anos e anos. Focados em nós mesmos, passando superficialmente
pelos fatos e pelas pessoas que nos cercam. O ano de 2020, com tudo o que nos
obrigou a viver, lança-nos perguntas avassaladoras: o que temos feito de nossas
vidas? O que temos feito de nossas
relações? O que temos feito de cada novo dia em que despertamos e nos damos
conta de que estamos vivos?
Diante da cena da manjedoura e desses questionamentos,
vamos fixar nossos olhos no Menino Jesus? Tão frágil... Tão criança... Deus que
chega até nós no meio das palhas de um estábulo. Simples, humilde, sem nada em
seu entorno e, em outra perspectiva, com tudo o que é necessário: o amor!
Sim, é tempo de Natal! Um Natal que nos convida a
reconhecer o presente como um tesouro precioso! Não aquele comprado, mas o que
recebemos gratuitamente, depois do ontem e antes do amanhã. A experiência do
hoje é o que precisamos degustar. Com a saudade dos abraços apertados e dos
encontros com a família, somos chamados a cultivar o intangível! Somos
convidados a ser “amigos declarados”, a estar presentes na vida de quem amamos,
mesmo com as mãos vazias e de forma virtual. Somos chamados a despertar
sorrisos, mesmo que não os vejamos por causa das máscaras, a encontrar olhares
e mergulhar no mais profundo de cada alma. Na experiência do hoje, somos chamados
a nos conectar com as famílias que estão com pessoas nos hospitais, nas ruas ou
em suas casas, com as mesas vazias. Somos “empurrados” a nos reconhecer
vulneráveis, pequenos , frágeis e compreender que quando tudo nos falta, há
somente uma força: o AMOR!
Que o Menino Jesus, junto com Maria e José, nos inspire
a resgatar a essência das coisas que são realmente importantes! Que tudo o que
estamos vivendo ao longo desse ano nos movimente a ser pessoas melhores! Que,
na noite de Natal, estando fisicamente juntos ou separados das pessoas que
amamos, lembremos que o AMOR transcende qualquer barreira e, assim, sintamos
nossos corações se abraçarem, formando uma corrente sem começo nem fim. Que
sejamos gratos por nossa vida e pela vida dos que amamos! Que sejamos gratos,
inclusive, pelo inesperado que chegou a nós, com certeza, trazendo
aprendizados! Que alimentemos a esperança e fortaleçamos nossa coragem para
lutar pelo que acreditamos! Acima de tudo, que nunca, sob nenhuma hipótese,
deixemos passar a oportunidade de amar e de cuidar de quem Deus colocou em
nosso caminho!
Que o Natal seja de paz e que sejamos manjedouras de
esperança e de amor ao longo dos dias de 2021!
Renata
Villela