Ontem eu estava arrumando uns arquivos no computador e
comecei a olhar algumas fotos que me fizeram viajar no tempo. Ao contemplá-las,
pensei: “como estávamos felizes! Nem imaginávamos que pouco tempo depois, o que
construímos ficaria vivo apenas nas nossas lembranças, nosso grupo se desfaria
e encararíamos uma situação tão adversa.” Através daquelas fotos, revivi toda
alegria e senti os sorrisos me contagiarem. As lembranças me despertaram a
pensar no presente, como um milagre que não se repete.
Quantas vezes deixamos o agora passar porque estamos envoltos
nas preocupações do que virá ou na saudade do que se foi? Quantas vezes
atropelamos as pequenas coisas, dando valor ao que nem é importante para a
vida, ainda que o seja para a sobrevivência? A gente chega nos lugares sem nem
lembrar qual foi o caminho que fizemos; termina de almoçar sem nem ter
degustado o sabor do que comeu... A
gente senta do lado de alguém, mas abaixa a cabeça para acompanhar o whats app
que não para de notificar postagens. Aí, de repente, leva uma rasteira da vida.
De cara pro chão, vê amigos com doenças graves, vê pessoas sofrendo o luto de
alguém e se dá conta do quanto somos vulneráveis. Tudo passa. Tudo, um dia, se
acaba. Se não tivermos visto as sementes brotarem, as flores desabrocharem, o inverno
chegará, secará tudo e só ficará o aperto no peito. Precisamos atentar para o
aqui e o agora e perceber que o nome “presente” não é por acaso. Aliás, nada é
por acaso.
Fico pensando que, talvez, mais do que esperança, precisamos
da experiência da vida diária, porque é nela que recarregamos as energias para
encarar as turbulências. Porque turbulências sempre virão, o sofrimento é
inerente à vida, não depende de nós. O que depende de nós são os laços que
criamos, as alegrias que alimentamos, a fé que cultivamos, os sorrisos que
despertamos, os sonhos que sonhamos, ainda que, nem sempre, sejamos capazes de
realizá-los. É o presente que recebemos a cada segundo que nos mantém vivos,
independente do que passou e do que virá.
Estamos vivendo um tempo de desesperança em nosso país e isso
contamina, como doença que vai corroendo o brilho de nosso olhar. Vivemos, ao
mesmo tempo, o saudosismo de uma época (que nem sabemos – ao certo – se, de
fato, vivemos) e a pressa de fazer os ponteiros rodarem mais rapidamente, na
expectativa de tempos melhores. Fica uma nostalgia que nos cega para o que não
está no mural. Abatidos, seguimos tropeçando nos acontecimentos e não sugamos
deles, o nectar da vida. Precisamos encontrar luz no que tem luz de verdade e a
única luz que é infinita e eterna é a luz do amor. É bem verdade que amar dói.
E como dói! O amor, ao mesmo tempo que nos faz tocar o céu – na dimensão do que
está além das coisas desse mundo caótico – nos põe de frente com a consciência
de que temos um “prazo de validade” e não somos super heróis. Ao tempo que
desejamos fazer tudo por quem amamos, nos damos conta de que, muitas vezes,
tudo o que podemos fazer é rezar, ser presença...E amar! Mas é o amor, o gancho que nos prende – como âncora
– ao presente, fazendo-nos viver cada dia. O amor nos faz parar no encontro de
olhares, no encanto de sorrisos e na presença contida em cada lágrima
derramada, seja por que motivo for, mas que sempre nos lembra nossa humanidade.
A verdade é que, entre sorrisos e lágrimas, encontros e
desencontros, constatamos que nada na vida se repete. Por isso, se não vivemos
aquele instante, perdemos. O presente, quando vivido intensamente, ao passar,
deixa marcas que não passam. Ainda que o tempo passe, o presente se eterniza no
além tempo. Por outro lado, se o presente passa, por nós, despercebido, vira passado. Amassado como
papel velho, com cheiro de mofo. E o que passou sem amor, passou...
O tempo não depende de nós. Experimentá-lo, sim. Que o agora seja, para nós, presente e que o
presente, seja para nós, certeza de que estamos vivos para viver.
Renata Villela – Abril/2017
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