Quando vi, no jornal,
o caso da mãe grávida, atingida por uma bala perdida no Rio de Janeiro,
fiquei estarrecida. Mais ainda, ao saber que o bebê havia sido atingido...
As primeiras notícias davam conta da baixíssima probabilidade
de sobrevivência do bebê, que teve os pulmões perfurados e a bala alojada na
coluna. Fiquei com o coração apertado. Os dias se passaram e, volta e meia, eu
me lembrava do bebê, até que, nessa semana, vi uma nova reportagem informando
que o caso era grave, mas estável e o pequeno Arthur permanecia lutando pela
vida!
Já já vai fazer um mês que Arthur veio ao mundo! Apesar da
recepção tão violenta, ele não desistiu! É lutador! Está aqui para nos mostrar o
valor da vida, a importância do amor e que a dedicação dos que cuidam dribla o impossível.
Não dá para imaginar o que está acontecendo no coração dessa
mãe e dos demais familiares. Indignação, tristeza, um misto de sentimentos a
tomar conta de quem se vê diante do inesperado. Por outro lado, ao mesmo tempo,
esperança! Se os primeiros dias trouxeram um profundo sentimento de desolação,
cada dia deve estar alimentando os corações dessa família: uma vitória a cada
dia, um milagre que se renova.
Fico pensando também no que se passa no coração de cada um dos membros da equipe de
saúde que está cuidando dele: o empenho para colocar em prática todo
conhecimento adquirido ao longo dos anos, a vibração a cada pequena vitória, o
exercício de encarar cada dificuldade em desafio e cada desafio vencido em
esperança.
Diante da gravidade não só do quadro do pequeno Arthur,
mas do fato em si, um desejo que trago em meu coração é de que não passemos
imunes a tudo isso. Arthur não pode e não deve se tornar apenas mais uma notícia
na imprensa nem mais um dado nas estatísticas de violência de nosso país. Arthur
precisa ser, para todos nós, um mensageiro das coisas que precisamos ver, ouvir
e fazer ! Um despertador vivo a nos dizer: acorda, povo!
O nome da favela: Lixão. Será esse um nome para o lugar onde
pessoas moram, transitam e vivem? Foi lá, na favela do Lixão, mais uma entre
tantas comunidades pobres de nosso país, que uma bala perdida fez uma história
diferente. Dessa vez, não foi um jovem da comunidade nem um engenheiro da zona
sul... Dessa vez não foi o menino que jogava bola nem a senhora sentada na
varanda: foi um bebê, no ventre de sua mãe!
E nós? Continuamos a agir da mesma forma... Continuamos a nos assustar
diante das manchetes das más notícias e a nos acomodar durante o dia a dia.
Continuamos a sobrecarregar as redes sociais com comentários de indignação nos
primeiros dias da ocorrência do fato e, logo depois, descartamos esses acontecimentos, para não
sofrermos pelo que não conseguimos resolver. O fato é que, ainda que nos acomodemos e nos
acostumemos ao sangue que escorre dos telejornais, num leito de UTI neonatal de
um hospital público, um coração continua a bater e, em cada pulsação,
lembra-nos o valor da vida.
Aproveito esse fato esdrúxulo para deixar meu apelo: não deixemos que a luta do
pequeno Arthur seja em vão! Comecemos a nos movimentar, a mudar nosso jeito de
agir, a relembrar o valor da vida através de cada uma de nossas atitudes.
O
mundo parece perdido. Os problemas de nosso país parecem não ter solução. É no
meio desse contexto conturbado, que o pequeno Arthur nos mostra que o improvável,
quando abraçado pelo amor, ganha forças inacreditáveis. E se não temos condição de prever o futuro,
temos a responsabilidade de viver o presente com toda força do que acreditamos,
transformando-o a nosso favor. Aliás, mais do que a “nosso” favor, a favor de
todos.
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