Há muitos anos (eu nem sonhava em ser avó ) eu estava num
supermercado e fiquei observando o que
acontecia do meu lado. Um menino - com cerca de 6 anos - e uma senhora, os dois em pé, de frente para a
prateleira de bolos. O menino estendeu a mãozinha e pegou um bolo de cenoura. A
senhora, inconformada, perguntou:
- Você gosta desse bolo?
Ao ouvir a resposta positiva, ao
contrário do que imaginei, pegou o bolo na mão da criança, devolveu-o à
prateleira e pegou outro, também de cenoura, só que com cobertura de chocolate.
Com um sorriso largo, daqueles que vão de uma orelha a outra, exclamou:
- Você vai gostar mais desse. É
muito mais gostoso !!!!!
Eu, de meu canto, dei risada
comigo mesma e pensei: “só pode ser avó”.
***
Existe uma coisa meio mágica em ser avó... Parece que os netos despertam a criança adormecida ao longo dos anos, em que as preocupações e responsabilidades tomam o espaço das molecagens e brincadeiras. Avós podem deixar – com pré autorização divina – comer biscoitos antes do almoço, brincar com coisas que não são brinquedos, dormir de pés sujos e raspar a panela de brigadeiros. Quando avós e netos se encontram, parece que a vida cumpre seu ciclo de integração e continuidade. Eles aprendem juntos e descobrem coisas que nenhuma outra relação é capaz de descobrir: sentimentos e experiências que não tem nome. Tudo sempre recheado de ternura e alegria.
Convivi muito pouco com meus avós porque, desde muito pequena, vim morar em outa cidade. Minhas duas avós tinham apelidos: vovó Ia e vovó Zozô... Precisa dizer mais alguma coisa? Quer coisa mais gostosa do que avós que têm apelidos? Pois bem, de vovó Ia, eu lembro muito da gargalhada e do pudim com furinhos. De vovó Zozô, a lembrança já é de adulta, quando ela veio conhecer minha filha e eu a surpreendi dando sorvete a ela que, nessa época, tinha apenas três meses de idade. Não! Avós não são irresponsáveis, simplesmente aprenderam que, na vida, o que tem valor são os momentos que vivemos com quem amamos, fazendo as coisas que nos fazem rir. E se não fizer mal pra ninguém, vale a curtição de quebrar as regras e ser feliz! Por que não?
Avós também educam...E também choram. Avós têm vontade de poupar filhos e netos de todo e qualquer sofrimento, sendo capaz de dar a vida por eles. E, de uma forma ou de outra, dão. Avós estão sempre a postos para ajudar, ainda que – em alguns momentos – essa ajuda só seja possível pela oração. Avós entendem o estresse dos pais e sentem vontade de dizer “vai passar”, mas compreendem que há experiências que precisam ser vividas por pais e filhos. Nessas horas, avós se recolhem ao seu lugar e esperam a oportunidade de dar seus recadinhos, a uns e aos outros... Coisas que a vida ensinou.
Sendo avó, não sei definir o que é esse “estado de vida”. Faltam palavras. Só tenho certeza de que não foi à toa que Deus criou netos para avós e deu avós aos netos. Há um sentido muito forte nessa relação. Há uma porção sagrada nesse encontro. É algo que transcende tempo e distância e, mesmo quando ele vira saudade, é uma saudade recheada da alegria de quem acredita que a felicidade é possível. Amor de avós e netos não viram passado nunca!
Avós se alimentam de abraços e, quando eles não são possíveis, bebem das lembranças de cada momento em que o foram. Da mesma forma, os netos. Não existe encontro de avós e netos sem abraços...Aliás, não existia.... Nesses últimos dois anos, avós e netos tiveram que aprender juntos uma forma jamais imaginada de conjugar o verbo amar. E descobriram, juntos, que o amor mais profundo e verdadeiro abre mão do que parecia imprescindível, pelo bem do outro. Chamadas de video e beijos pela janela tomaram o lugar do abraço apertado e de todas as coisas especiais que só acontecem nas casas dos avós. A alegria partilhada nessas novas formas de encontro que fazem com que ambos celebrem a vida, às vezes, se deixa molhar por lágrimas que escapolem dos olhos de cada um. Chorar faz parte do exercício do amor! Nesse tempo, também, muitos avós e netos foram forçados – na marra – a aprender que as estrelas são, para nossos corações, ninhos de amor eterno. O Pequeno Príncipe dizia que “é lindo, à noite, olhar o céu e pensar que existe uma rosa sorrindo em algum lugar”. Eu digo que é lindo, à noite, olhar o céu, e sentir que existem avós habitando todas as estrelas. E que todos se juntaram, transformando-se em anjos, para cuidar de todos os netos que ficaram por aqui, cheios de saudade. Avós ensinam, estando em suas casas ou morando nas estrelas, que amar sempre vale a pena.
Avós conseguem juntar sabedoria e
espontaneidade, risos e lágrimas, começo e fim, saudade e esperança, eternidade
e presença, histórias e fantasias, frustrações e sonhos... E tudo com um toque
especial de ternura, cuja receita só os avós têm. Avós trazem a certeza de que
as histórias de amor não terminam porque são eternas. Por isso, toda história
de avós e netos tem cheiro de café quentinho, de terra molhada, tem sabor de
chocolate, de fruta tirada do pé.... Toda história de avós e netos tem o sabor
e o cheiro que a gente quiser, sabores e cheiros que nos fazem viajar para um
lugar especial, que nada nem ninguém pode tirar de nós, o “fantástico mundo do
Para Sempre”.
Lindo, verdadeiro, emocionante!
ResponderExcluirSaudades dos meus avós que foram meus pais tb, e da avó das minhas sobrinhas que virava criança, melhor amiga,moleca e Estrela.
ResponderExcluir❤❤❤❤⚘
ResponderExcluirSem palavras...
ResponderExcluirFalou a verdade... É único o sentimento dos avós pelos netos...
O amor que sinto pelos meus cinco netos (por enquanto, rsrsrs), é sagrado e será eterno. Sou uma avó completamente apaixonada. Obrigada Renata pela lindeza de texto.
ResponderExcluirMaravilhoso ! Eu amei e passei pra várias amigas avós por aí.
ResponderExcluirTudo verdadeiro, muito lindo e emocionante.!
ResponderExcluirMuito lindo! A cara da minha mãe, q é uma super avó! Vou mandar pra ela!!
ResponderExcluirObrigada!
ExcluirMuito lindo, Rê! Bem sensível. Obrigada pelo presente que nos deu com seu dom da palavra.
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