Hoje, dia 7 de setembro, o Brasil celebra 200 anos de sua
independência... Algumas memórias saltam de minha mente como memórias de um dia
bonito... Hoje, não consegui sentir outra coisa que não tristeza. Queria sentir
esperança, coragem, vontade de lutar por um Brasil melhor... Normalmente, sinto
isso em meu coração, não me considero uma pessoa derrotista, mas, hoje,
especialmente, o que senti foi tristeza.
Saí para caminhar e, no caminho de ida, fiquei positivamente
surpresa ao ver pessoas de diferentes partidos panfletando na praça, chamando
um e outro aqui e ali para falar de seus candidatos. Pensei comigo mesma: isso
é democracia! A convivência entre partidos diferentes, cada um respeitando o
espaço do outro, um exemplo de civilidade. Segui minha caminhada e parei num
lugar onde gosto de tomar um cafezinho com pão de queijo, na calçada,
observando o movimento. De repente, a harmonia se quebrou quando um “bando de
canarinhos” voltava da praia. Muito bem vestidos, “honrando” a camisa verde e
amarela, alguns conversando entre si, outros cortando caminho para não “cruzarem”
com opositores e outros entoando gritos de guerra, maldizendo o candidato da
oposição. Naquele momento foi que senti meu coração se encher de tristeza.
Eu queria ter sentido indignação por causa do comportamento
deles, até indiferença, mas senti tristeza. Terminei meu café e vim andando de
volta pra casa, eu e meus pensamentos. Não consegui afastar a dor da lembrança
dos 600.000 mortos na pandemia, entre os quais está meu pai, tio Gerson, D.
Nelma, Paulo e tantos outros que não conheci, mas sei que suas famílias comungam
a mesma dor que eu. É uma dor que poderia ser só de luto, mas ela traz colada em
si, as falas insensíveis e desumanas do atual presidente, pelo qual essas
pessoas gritam apaixonadamente, com o coração transbordando de ódio por quem
tem outra forma de pensar e governar. Cada camisa amarela, segurando a bandeira
do Brasil, me trazia junto a tristeza pela forma com que a nossa bandeira foi
tragada por uma ideologia que antagoniza tudo o que o Barsil sempre significou:
um país pacífico, alegre, com o meio ambiente rico, enfim...
Sou a favor da democracia, por isso, respeito as diferentes
escolhas, porque entendo que isso seja a essência do estado democrático. O que,
infelizmente, não consigo entender é a escolha por uma “pessoa” que dissemina o
ódio, a divisão, a violência... Por coerência com a forma com que vejo a vida,
com a religião que escolhi, com os valores que pautam minha caminhada, eu JAMAIS
votaria nem votarei numa pessoa que fala e prega exatamente o oposto de tudo o
que acredito. Eu acredito no bem, no respeito às diferenças, na diversidade
humana, na igualdade de direitos de homens, mulheres, homoafetivos, trans e todas
as suas denominações. Eu acredito que a ciência, a educação e a cultura são o
que tornam um povo capaz de pensar, realizar e ter uma vida digna. Eu acredito
que o Planeta Terra é nossa casa e precisa ser cuidado, não destruído. Eu
acredito que a população mais pobre de nosso país tem direito a mais do que o
mínimo necessário à sobrevivência, tem direito à dignidade. Eu sou contra as
armas, sou contra a misogenia, a xenofobia, a violência em todas as suas
formas. Sou contra o mau uso do dinheiro público também (motivo pelo qual ele
ataca os opositores, ganhando aliados por isso), sobretudo quando esse mau uso
é recheado de mentiras e manobras que desviam a atenção das enxurradas de
dinheiro que seguem escorrendo para bolsos conhecidos. Nesse caso, entra minha
indignação quanto à cegueira coletiva, que teima em não ver o que está
acontecendo...
Não escrevo para convencer ninguém, não escrevo para fazer “campanha”
para o candidato que terá meu voto. Até poderia, mas não tenho vontade de
fazê-lo... Escrevo só para desabafar a dor que tomou conta de meu coração,
viajando em pensamento pelo retrocesso que vivemos ao longo dos últimos anos,
pelas tantas mortes e lutos sufocados pelo sarcasmo de quem poderia ter agido
diferente. Sinto tristeza por ser artista e ver o mal que tentou sufocar as
diversas expressões de arte em nosso país, por ser psicóloga e presenciar o
adoecimento coletivo de tantos brasileiros. Nesses dias conversando com minha
prima, comentávamos que somos “sobreviventes feridas”. É assim que me sinto.
Sim, feridas cicatrizam, deixam marcas, mas cicatrizam. Dores
passam e, mais do que passam, fortalecem-nos, a partir da nova consciência que
criamos acerca de nós mesmos e da vida. O
dia 7 de setembro está anoitecendo... Minha tristeza dormirá e eu acordarei
mais forte, mais consciente, fazendo dessa tristeza, inquietação. O dia 7 de
setembro está anoitecendo... Permitiremos que nosso país amanheça?
Não te sintas só…
ResponderExcluirA maior tristeza é q não se trata de um homem só, de um grupo pequeno, de uma elite… Trata-se de mais de uma em cada 3 pessoas q v conhece, 1 entre 3 parentes, 1 entre 3 colegas de trabalho, 1 entre 3 pessoas na fila da comunhão. É importante ter essa dimensão, perguntar como chegamos até aqui, e como vamos seguir em frente… Há q se ter cuidado pra não acharmos q só pq defendemos valores importantes, estamos justificados. Obrigada pela reflexão!!! Bjs! Lupe
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