domingo, 24 de setembro de 2017

No que deu? Deu em vínculos de afeto que alimentam nossas vidas!

       



Estava na missa quando, na Comunhão, escutando a música "Chega Mais Perto", meu coração voou de volta à tarde de sábado.

"Essa amizade não tem barreira
não tem limite não
um vira três e três vezes nove
logo é uma multidão

Mundo pequeno pra tanto amor,
Pai, vê se aumenta esse mundo..."

Num evento até bem profano, a presença do sagrado estava nos vínculos que uniam os presentes e na reverência aos mestres e fundadores do colégio criado há 40 anos.

Estou falando aqui da festa "No que deu", que reuniu os ex-alunos do Colégio São Paulo (Salvador - Bahia). Como disse Lu, uma das organizadoras do encontro, "o mundo tá muito ruim, a gente precisa de eventos assim para se reabastecer, lembrando do que é realmente importante".

Importante, na vida, é alimentar amizades que superam distâncias, é resgatar o que foi constituinte de nossa história, é reconhecer a importância de quem participou ativamente de nossa educação, é recarregar as energias com o bem que nos habita, para recomeçar novos dias, novas etapas, com mais esperança.

Ontem experimentamos o importante em nossas vidas em cada abraço, em cada sorriso, em cada "você lembra de mim?. Ontem experimentamos o importante escutando Reverendo Enoch falar sobre Educação (com E maiúsculo mesmo),  abraçando ex-professores, relembrando histórias. Ontem, experimentamos o importante lembrando dos nomes de cada colega e do quanto eles foram importantes naquele momento de nossas vidas e muitos ainda o são, mesmo que haja mais de 30 anos desde o ultimo encontro.

Não vou multiplicar as palavras, mas quero eternizar esse momento em meu coração. Quero guardar a saudade dos amigos que já não vejo há muito tempo e também a emoção de cada abraço recebido.

Como é bom olhar pra trás e ver uma história construída a várias mãos! Como é bom olhar para frente e sentir que existe um futuro a ser escrito com base em cada aprendizado! Como é bom viver o presente e sentir o coração pulsar feliz!



terça-feira, 19 de setembro de 2017

Santa Teresa das mãos do artista




Como pode um artista, com suas mãos,
tornar verdade a profundidade do olhar de uma santa?

Como pode um artista, com sua inspiração,
traduzir a singeleza do sorriso de uma santa?

Como pode a arte
trazer a presença da verdade contida 
na vida de uma santa?

Como podem corações palpitarem assim tão forte
no encontro do concreto e do palpável
com a indizível experiência
que nasce do espírito?

Como pode uma riqueza, de valor inestimável,
estar esquecida, numa cidade escondida
no interior de um país tão pobre?

É Deus a nos surpreender sempre!
É a riqueza do ser humano a nos surpreender sempre!
É a oração que se traduz
na arte de quem se doa.

É a grata surpresa da simplicidade 
que abraça o divino
e faz nossa alma dançar
ao som da cantoria dos anjos no céu
a descortinar o véu
que esconde os tesouros mais valiosos.

São as maravilhas
que só os olhos que se elevam,
enxergam!
São as dádivas
que os os corações que procuram,
encontram.

(uma homenagem ao artista Veiga Valle)

domingo, 3 de setembro de 2017

O valor da vida


Ao longo da vida, a relação que temos com a morte vai mudando. A partir de um determinado momento, a notícia de que ela abraçou alguém vai se tornando bem mais frequente do que gostaríamos. Já não são os avós de nossos amigos que falecem, mas seus pais e os próprios amigos.
A forma como cada um lida com a morte é diferente, (afinal, somos diferentes!) varia de acordo com o contexto, a espiritualidade, a forma como encaramos esse tempo que passamos no planeta.  Algumas coisas, entretanto, sempre aparecem: a pergunta “e se?” é uma delas.  Isso porque, seja em que circunstância for, a morte sempre nos pega de surpresa.
 Apesar dessa introdução, não é sobre a morte que eu quero falar, mas sobre a vida! Trouxe a questão da morte porque, na idade madura, essa é uma experiência que nos chacoalha em relação à nossa própria vida e à vida dos que amamos. Dentre as tantas oportunidades de enxergarmos as possibilidades de viver a vida de forma mais verdadeira, a percepção da morte é uma das mais marcantes. A cada velório, a cada cremação ou sepultamento, ficamos  de frente com a nossa vulnerabilidade e efemeridade. Daí, duas perguntas passam a nos inquietar:
1.    O que temos feito de nossa vida?
2.    O que temos feito de nossas relações?
Pensando na primeira pergunta, viajo na questão do tempo. Como aproveitamos mal o tempo que temos! Quanto tempo perdemos em reclamações, lamentações, deixando passar batidos, momentos que não se repetirão, encontros que não voltarão.  Quantas vezes, em vez de “sacudir a poeira e dar a volta por cima”, ficamos amargando a rinite que a poeira nos traz! Quantas vezes, em vez de fazer das situações, aprendizado, ficamos remoendo mágoas e insatisfações... Quantas vezes, em vez de escrever de lápis, as tristezas e aborrecimentos, para que possamos apagá-los tão logo virem passado, riscamos e rabiscamos os incômodos de caneta e passamos a vida sem conseguir apagá-los, muitas vezes, culpando-nos pela forma como os escrevemos...
Complicamos muito o que poderia ser simples ! Colocamos foco no que não é importante e só percebemos o que era importante de verdade, depois que passa. Aí  ficamos repetindo os “e se?” sem encontrar respostas.  O bom é que a vida não desiste de nós e está sempre nos dando a oportunidade de recomeçar o novo capítulo de um jeito diferente.  Fico pensando que isso pode ser mais simples do que imaginamos, já que não precisamos deixar de ser quem somos. Ao contrário do que muitas vezes achamos, não precisamos mudar nosso jeito de ser nem de amar, talvez  precisemos só calibrar nossos pneus e andar na velocidade certa. Precisemos só limpar as lentes embaçadas para enxergar melhor quem caminha perto da gente. Precisemos nos aceitar, acolher nossas dificuldades e espinhos, sem renegá-los, mas compreendendo-os e trabalhando neles, sempre que possível...
Ainda sobre quem somos, penso que precisamos  amar quem somos. Deixar de lado o que a publicidade coloca como perfeição e o que as pessoas esperam de nós. Amar-nos como somos. Colocar nossos dons a serviço de quem precisa, sim, mas doar, também, um pouco do nosso tempo, para cuidar de nós mesmos. Nós também precisamos de nosso cuidado e de nosso carinho.... Às vezes, esquecemos disso! E vale lembrar que isso não é egoísmo, é amor também. Se Deus nos deu avida como bem mais precisoso, cuidar dela é ato de amor! Se a gente não se cuida, não se ama, cresce a amargura, o cansaço e aí, sim, o que poderia ser amor acaba se tornando egoísmo, pois passamos a colocar foco no nosso umbigo, nos nossos problemas, nas nossas dores, nos nossos medos, nas nossas dificuldades. Assim, deixamos de enxergar o outro!
Passando para a segunda pergunta, fico pensando que, se tivéssemos uma bola de cristal nas mãos a nos mostrar o último dia daqueles que amamos, agiríamos diferente. O “e se?” que surge nesse caso vem sempre cheio de culpas e cobranças e, muitas vezes, esquecemos que é no ordinário da vida que o amor se expressa da forma mais verdadeira. Ficamos achando que poderíamos ter sido mais presentes, ter dado mais carinho, enfim... Cobramos de nós, uma série de comportamentos e, na maioria das vezes, com lente de aumento. Que sempre podemos ser pessoas melhores, isso é fato, mas é fato também que o amor mais verdadeiro é, justamente, aquele que se expressa nas coisas mais simples. Enxergar o outro com os olhos do coração é tudo o que precisamos para cuidar melhor de nossas relações. Essa é a perspectiva do amor: o olhar, o cuidar, o ser...Na verdade do que somos e do que o outro é, nem mais, nem menos.
Na medida em que enxergamos as pessoas com quem convivemos como pessoas que não são extensões de nós mesmos, passamos a respeitá-las em sua individualidade e a ter relações verdadeiras. Relação entre dois sujeitos, duas pessoas.  Quando conseguimos nos relacionar assim, podemos ser nós mesmos, agir com espontaneidade, sem tentar ser o que o outro espera de nós. Encontro de afetos e de limites também! Penso que é importante  deixarmos de lado a expectativa de perfeição e colocar nossas fichas nas coisas que nos fazem viver a essência da vida! Aquelas coisas mais simples, um olhar, um sorriso, um copo de água, uma comidinha gostosa, um toque de carinho ou o compartilhar uma mensagem que achamos bonita... É dessas pequenas coisas que o amor vai se construindo.
Às vezes paro e vou passando um radar nas coisas do nosso cotidiano. Vejo o quanto nos perdemos em bobagens... Um se zanga porque o outro esqueceu o dia do aniversário, outro sai do grupo do wahtsapp por causa de discussão de futebol... É um que deixou com que uma atitude inesperada falasse mais alto do que toda uma história e outro que se magoou ao receber uma resposta que não gostou... Como somos bobos !!! Como nos perdemos facilmente do que é essencial. E as coisas do mundo parecem incentivar isso...Vamos ficando cada dia mais intolerantes e impacientes uns com os outros.
Aí, de repente, um infarto, um câncer, um acidente.... E.... Fica o quê?
Nesses dias, recebi pelo facebook uma pergunta que compartilhei e que ficou na minha cabeça e no meu coração por dias: “você é a saudade de quem?” Convido vocês a se perguntarem isso e a perguntarem também sobre quem é e quem poderá ser sua saudade.  Isso faz diferença!
Com essas respostas, faço o convite para que busquemos  reiniciar nossa trajetória com um novo olhar, na perspectiva de quem não quer passar por aqui em vão e de quem quer viver o presente como presente de Deus. O momento presente precisa ser, para nós, bem mais do que uma ponte entre o passado e o futuro, mas o instante em que experimentamos a vida com tudo o que ela tem a nos dar, curtindo a companhia de quem está ao nosso lado ( e a nossa própria companhia também!)
Tentemos descomplicar nossas relações, diminuir nossas culpas e nossas cobranças, pararmos por mais tempo para aproveitar o encantamento diante de uma flor, um passarinho, uma criança sorrindo, um casal se beijando...Coisas que acontecem todos os dias, todas as horas, mas que passam despercebidas por causa da nossa pressa e do foco que colocamos no que ainda virá.

Somos vulneráveis, efêmeros, finitos. Ao contrário do que pensamos, nosso “destino” não está em nossas mãos. Nelas, está a liberdade de vivermos cada minuto do jeito que escolhermosA felicidade não está do outro lado da ponte, não está na outra pessoa nem no pote de ouro, debaixo do arco-iris. A felicidade está no momento presente, quando o vivemos como experiência legítima do amor de Deus.
Qual o presente que vamos nos dar hoje?