sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Arte de viver em missão, missão de viver com a arte - PARTE II

Sempre ruminando o sentido de minha caminhada, vou e volto com meus pensamentos que encontram seu ponto de chegada (e também de partida!) em meu coração.
Especialmente nesse momento não tenho como falar em missão sem resgatar a presença de pessoas que têm seguido de mãos dadas comigo, para que melhor eu possa fazer o que me cabe e compreender o que não é meu; sobretudo, redimensionando o que vem de mim e o que é dEle.
É no coração que mergulho e experimento a alegria de tantos encontros... Tão bom é sentir a presença de pessoas tão lindas em minha vida ! Pessoas que me ajudaram a enxergar melhor os sinais de Deus ao longo de meu caminho, a compreender o significado de colocar meus dons a serviço, "dando de graça o que de graça recebi" e a sentir a felicidade de caminhar saboreando o sentido mais pleno da palavra comunhão.
Em comunhão com esses anjos que Deus colocou em meu caminho, sinto a presença dEle cada dia mais entranhada em minha vida e me dou conta de que não há como estar em comunhão com as pessoas sem sentir a presença de Deus, nem como estar em comunhão com Deus sem caminhar ao encontro das pessoas. Para mim, felicidade é isso. É essa essência que dá sentido à vida, independente dos contextos em que nos inserimos no dia-a-dia. As coisas passam, só o que é de Deus fica. E dá sustentação!
Quando olho para trás e me deixo levar pelas lembranças de minha adolescência e do início de minha vida adulta, vejo claramente o desenho que Deus fez, o mapa que Ele traçou para que eu fosse a Renata sonhada por Ele. Olhando pra trás, vejo as tantas curvas que fiz para me desviar desse caminho, quantas vezes teimei em não ouvir o que, insistentemente, Ele cochichava em meu ouvido, temei em não enxergar o que Ele claramente colocou diante de meus olhos. Mas Deus é Amor e, em sua infinita bondade, no meio de todos os meus descaminhos, Ele me deu o presente mais lindo que eu nunca sequer sonhara ter: uma filha linda!

Por essa filha entreguei minha vida por muitos anos e nunca me arrependi disso, pelo contrário, ela foi a presença viva da esperança, a certeza do amor de Deus por mim, a mola que me permitiu transpor barreiras que, com minhas próprias forças, eu não conseguiria transpor. E foi pelas mãos dessa filha linda, que eu retornei à igreja. Uma igreja diferente da que eu conhecia antes, uma igreja família, uma igreja que me apresentou o Jesus que nos reúne como amigos.
Não posso, dessa forma, falar de minha missão, sem falar do OPA (Oração pela Arte), uma inspiração do Espírito Santo que Pe Irala acolheu e, por ela, tem dado sua vida.
Encontrar o OPA foi o primeiro passo para o reencontro comigo mesma, com tudo o que tenho de mais bonito e o que tenho de mais feio, com todos os dons que Ele me deu de presente e todos os limites que a minha humanidade alimentou durante anos. A partir dos ideais do OPA: criatividade, integração e comunicação, eu comecei a me sentir abençoada por Deus e convidada por Jesus para viver uma vida nova.

No OPA, encontrei amigos maravilhosos, mais que amigos, irmãos de verdade ! Irmãos que viveram ao meu lado os momentos mais críticos e difíceis de minha vida. No OPA, senti na pele que amor verdadeiro transcende os limites de tempo e espaço. Essa família tem me ajudado a "renascer" dia-a-dia, com a certeza de que Deus faz maravilhas em nossas vidas quando nos permitimos abrir o coração uns para os outros, bebendo da fonte primeira de Seu Amor. Apesar da tentação para citar nomes, não vou fazê-lo pelo risco de ser injusta, esquecendo de citar alguém.
No OPA, descobri a alegria de transformar meus sentimentos, meu olhar sobre a vida e sobre as pessoas em palavras, palavras a serem lidas, palavras a serem cantadas, palavras a serem rezadas. Palavras que fizeram com que eu me sentisse muito mais perto das pessoas, de Deus, de minha família, palavras que deram um sentido novo ao meu trabalho, à minha vocação, à minha caminhada.
A partir do OPA, e mais especificamente da amizade com um "anjo bom", comecei uma nova etapa da minha vida: um caminho para águas mais profundas. Daí eu conheci os exercícios espirituais de Santo Inácio e passei a sentir Deus como experiência a ser vivida no mais íntimo de meu coração e não como idéia a ser compreendida, discutida ou analisada. Tudo mudou, começou minha mais profunda metamorfose!
Comecei a me sentir virando uma página e escrevendo um novo capítulo de minha vida quando me aproximei dessa pessoa MUITO especial, que me ajudou demais, com seu exemplo de vida e sua experiência de Deus, a sair do fundo do poço quando encostei meus pés lá.
Com ela, descobri caminhos novos,aprendi a saborear a beleza do silêncio, a riqueza da vida espiritual. Através de suas orientações, fui tirando a poeira dos baús onde guardava meus tesouros mais preciosos e lá, nesses baús, encontrei o meu amigo mais amado, Aquele que me puxou pelo fio do cabelo e me disse:

"Vem,deixa o coração viver,
vida que amanheceu,
amanhece com a canção.
A canção
vinda de dentro de ti,
com o azul irá sorrir,
deixa a paz amanhecer".


Essa pessoa especial foi quem me apresentou a Madre Amada, Teresa de Ávila. Ler e contemplar a vida de Santa Teresa foi mais que uma bênção, ou melhor, É mais que uma bênção.
Essa pessoa especial, que se tornou minha mãe espiritual, ainda me presenteou com uma nova família que também compartilha comigo cada conquista e cada escorregada nesse caminho que nem sempre é fácil, mais é cheio de significado SEMPRE.
Estou escrevendo tudo isso para dizer que é impossível sentir o chamado pessoal que Jesus nos faz e seguir com determinação pelos caminhos para os quais Ele nos chama, sem referências, sem a companhia de PESSOAS , sem oração.
Deus tem sido muito generoso comigo, tantos anjos que Ele tem colocado para seguir comigo pelos caminhos e descaminhos da vida.
Amigos nos ajudam a não perder o prumo e a nos dão as mãos para chegarmos onde é preciso. Referências nos lembram aqueles que já encontraram o prumo, lembrando-nos que santos não são os perfeitos mas os imperfeitos que se deixaram moldar por Deus. E a oração nos alimenta e dá sentido aos nossos passos. Beber da Fonte é fundamental, é a base para o verdadeiro serviço que nos traz a certeza de que somos instrumentos dEle, nada a mais!

Essa segunda parte de minhas reflexões sobre missão tem conteúdos muito pessoais colocados aqui, isso com um único objetivo: o de lembrar que Jesus nos chama a viver em comunidade e não podemos - se quisermos realmente servir a Ele - nos fechar em nossos quadrados e só olhar para nossos umbigos. De quebra, vai o reconhecimento e o agradecimento mais sincero a todas as pessoas que, com sua amizade e amor, tem me acompanhado a cada passo.


CONVIVER, esse é o grande livro da vida ! Esse foi o fio da meada que me permitiu desenrolar minha vida, esse é o aprendizado mais perfeito e a melhor prática do evangelho em nós: a prática da humildade e do perdão, do amor doação, da entrega despretenciosa, da consciência de que Ele é "o caminho, a verdade e a vida" e é preciso que diminuamos para que Ele cresça... Porque essa é a única forma de vivermos, com todos os limites de nossa humanidade (que Ele tanto ama!), o maior de todos os mandamentos, que é a verdadeira missão de todos nós:
"Que nos amemos uns aos outros, como ELE nos amou"

sábado, 6 de novembro de 2010

Arte de viver em missão, missão de viver com a arte - PARTE 1





É sempre muito bom quando sentimos que estamos fazendo o que é para ser feito, que nosso trabalho é resposta ao chamado que Jesus nos faz. Isso é missão !
Aprendi, nas minhas buscas e andanças, que missão não é nada excepcional, nada que nos exija mais do que temos, nada que doa... Pode até doer, mas não dói porque é missão; dói pela dureza de tantos corações, dói porque a humanidade se desviou do rumo. 
Missão é algo bom e natural! Missão é simples, apesar de nem sempre ser fácil. Missão traz consolação, traz alegria, ainda que pelo meio do caminho choremos. Missão é o reconhecimento de sermos torneiras de Deus e, assim sendo, abrirmo-nos para que a Água Viva sacie a sede de quem quer que seja (inclusive a nossa própria). Viver a Missão é reconhecer a Graça e, na humildade de quem sabe que Tudo vem dEle, jorrar o Dom que nos foi dado para o bem comum.
Vocação e missão sempre foram temas que me instigaram, até o dia em que naturalmente, aprendi a OLHAR o que realmente importava e descobri, através dos sinais que Deus foi me mostrando, que servir a partir do que eu sou, do que eu sei, do que eu sinto e do que eu faço era cumprir a minha missão. A partir daí, vocação e missão passaram a ser temas que me animam.




Servir deixa de ter um peso quando a gente descobre - EM ORAÇÃO - que nós somos apenas instrumentos e que estamos, simplesmente, entregando aos outros o que Ele colocou em nossas mãos. Não há o que temer, não tem porque vacilar, nem muito menos do que se envaidecer ou se orgulhar... Nossa parcela é mínima diante do Infinito que vem de Deus. É o Espírito Santo que faz acontecer, que transforma corações, vidas, grupos, comunidades. 
É preciso mesmo que diminuamos para que Ele cresça e, numa sociedade que incentiva a competitividade, que estimula o inchaço do ego, que alimenta o amor ao próprio umbigo no engano de que o nome disso é auto-estima, isso não é fácil. Mas é simples se nos alimentarmos da oração que nos traz a exata dimensão de quem somos: filhos muito amados de Deus! 
O que pode ser mais importante do que isso?
Consolados por sermos amados com o amor mais mais puro e verdadeiro, não precisamos de elogios públicos nem de olhares em nossa direção. Ficamos felizes pela graça de sermos torneiras ! Ficamos felizes por contribuir para que corações se saciem da Água que passa por nós, mas que não nasce em nós.
Não precisamos nos preocupar nem competir com outras torneiras porque, a partir desse novo olhar, o que mais nos importa é apenas e simplesmente sermos a melhor torneira que pudermos ser. Quem vem a nós não precisa olhar os nossos detalhes, precisa, sim, sentir o quanto é bom beber da água fresca.


Filhos amados de Deus que respondem ao chamado que Ele nos faz. Como é bom nos sentirmos assim! E Ele chama ao pé do ouvido, de um a um. Isso é o que é mais bonito. Ele sabe quem somos, o que podemos, Ele reconhece nosso potencial e está atento aos nossos espinhos, Ele sabe que não somos perfeitos....Ah, aí está o grande lance: é exatamente por sermos imperfeitos, pecadores, que Ele nos chama e é assim, com nossos erros, com nossos espinhos, com nossas doenças, com nossos limites, que Ele nos quer servindo. Cada uma dessas coisas não é empecilho para nossa missão, pelo contrário, é ferramenta que nos possibilita a aproximação com cada um, porque somos todos iguais (e todos diferentes!).
Cumprir nossa missão não é fazer um favor a Deus! Responder ao chamado que Jesus nos faz não é um algo mais que fazemos, não é expressão de nossa bondade. Servir, dando de graça o que de graça recebemos, é nosso agradecimento ao amor Maior que nos faz ser quem somos. Recebemos tanto, somos tão amados ! Quando olhamos a vida assim, quando sentimos a consolação da Graça de Deus em nós, começamos a viver nossa missão com alegria.


Aos poucos, caindo muitas vezes, errando de montão, eu percebi que tudo o que me acontecia tinha a mão de Deus. Hoje sinto que é Ele quem me guia! E porque é Ele que me guia, quando caio, tropeço, me machuco, levanto mais rápido. 
Aos poucos, depois de experimentar um tempo de muito fazer, deixando de lado o encontro pessoal com Jesus e outro tempo de só querer viver intensamente meus momentos de oração, deixando de fazer coisas importantes, consegui ouvir o que Ele insistentemente tentava me dizer ao longo de mais de quarenta anos: tudo na vida é oportunidade de viver em Deus e viver em Deus é viver a vida, em sua essência e seu verdadeiro significado.
Viver a missão é responder ao mandamento mais importante: "Amai-vos uns aos outros". Essa é a grande missão de todos nós. E minha missão pessoal ? 
E minha missão pessoal ? 


"Quero estar com os olhos bem abertos
para ver todos os sinais
escutar a voz que vem do fundo:
Deus falando: "Eu quero muito mais"
Quero, ouvindo o chamado,
seguir o traçado da minha missão,
quero, sorrindo e amando,
responder cantando
à minha vocação"


A missão maior é amar, quero então estar aberta ao amor. Desarmar-me para amar. Amar ! Amar na experiência do encontro íntimo e pessoal com Jesus, no silêncio da oração, que me faz sentir tão amada. Amar na comunhão, na emoção da Eucaristia, amar o Amor que morre para ressuscitar, que se entrega por inteiro, de forma incondicional e me alimenta para mais amar. Amar no cotidiano, na minha família, no meu trabalho, na minha comunidade, no condomínio, na igreja... Amar cozinhando, amar escrevendo, amar ouvindo, amar falando, amar silenciando, amar sorrindo, amar suando. Mas amar sem fazer barulho, como quem abre as janelas de cada coração, deixando que a luz de Deus entre e acorde cada um que está dormindo, com a alegria de que a noite passou e novo dia amanheceu.
Num dia, num momento de oração, Jesus me pediu para fazer isso: abrir janelas de corações. E eu descobri que era essa a minha missão !


Renata Villela, em 06/11/2010