segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Mensagem de Natal - Inquiete-nos, Jesus !



Dezembro acabava de abrir as portas quando  fui “escolhida” para buscar um bebê recém-nascido na maternidade... A mãe tinha 17 anos, residente em um abrigo que acolhe crianças e adolescentes vítimas de violência. Confesso que me senti como os magos: animada para ir ao encontro do Menino Jesus. Chegando ao hospital, infelizmente, a criança não havia sido liberada, por estar desnutrida. Foi aí que comecei a imaginar o Jesus dos nossos dias: desnutrido, nascido na periferia... Maria, com 17 anos, residente em um abrigo, vítima de violência... A manjedoura: um hospital público, com todo tipo de carência que se possa imaginar... Naquele momento, para mim, o Natal saiu do campo da contemplação e passou a correr nas minhas veias, como experiência viva. A constatação? Jesus foi mesmo um menino pobre, de uma família de periferia, que nasceu no meio dos animais, porque ninguém quis acolher o casal peregrino. Jesus nasce hoje, escondido em um canto qualquer da cidade. Nós, por outro lado, muitas e muitas vezes, não conseguimos enxergar a estrela para ir a Seu encontro, porque todos os holofotes de nossa sociedade estão virados para outros lugares.
                                                                                                               
O que ficou em meu coração? Uma enorme inquietação! E, assim, nasceu a inspiração para essa mensagem de Natal e o desejo de abrir uma brecha de inquietação no coração de cada um. Quando abrimos brechas para pensar em tudo o que José e Maria passaram para chegar até ali ou quando transportamos a história do nascimento para nossos dias, somos chamados a mergulhar mais fundo em nossa percepção da realidade e, consequentemente, reavaliar nosso papel no mundo...




É tempo de Natal! O pedido que faço ao Menino Jesus é um só: inquiete-nos ! Não nos deixe cair na tentação de olhar somente para o nosso umbigo, de querer criar nossos filhos, netos, sobrinhos  sob redomas, de nos acomodar ao sofá de nossas salas... Nem nos deixe ficar estagnados, chorando o lamento do que está ruim.

Inquiete-nos, Menino Jesus, com a simplicidade de Sua família e de suas atitudes. Inspire-nos a reconhecer o que é essencial e a desapegar de todas as coisas supérfluas que vamos colando em nossas vidas, ao longo de nossa história...

Inquiete-nos, fazendo-nos mudar nossa forma de ver as coisas. Que demos valor ao que tem valor de verdade. Em vez de supervalorizar o wifi ou a melhor conexão de internet, que enxerguemos o valor de um olhar terno, de um abraço caloroso e de um sorriso verdadeiro.

Inquiete-nos, Menino Jesus, com a espontaneidade de Sua presença entre os doutores da lei e com Sua disponibilidade para servir sem questionar. Ensina-nos a viver desse mesmo jeito.

Meu Deus Criança, Pequenino, inquiete-nos com Sua proposta de misericórdia, que traz o exercício do perdão. Inquiete-nos com Seu testemunho, que nos ensina a transpor todas as diferenças, respeitando-as. Faz com que paremos de olhar para o que nos separa e coloquemos o foco de nossas ações em tudo o que trouxer o gene da integração. Que consigamos nos enxergar como irmãos, independente do lugar onde nascemos, da religião que escolhemos, das verdades que acreditamos ou de qualquer outra diferença que possa nos afastar.

Nasce em nós, Menino Amado, desmonta nossas paredes, desanda as nossas fórmulas e derruba preconceitos e medos. Devolve a todos nós, o desejo de AMAR. Que aprendamos a amar como Você amou, assumindo todas as consequências, sejam elas quais forem. Inquiete-nos, Jesus, e encoraje-nos a mostrar a nossa cara, expressando e testemunhando – com nossas atitudes diárias - o que acreditamos. Inquiete-nos a assumir o Seu projeto, abraçando os pequeninos e exercitando a humildade, a gratuidade e o perdão.

Inquiete-nos, enfim, a transformar todos os meses em dezembro, todos os dias em natal e, acima de tudo, a enxergar Sua face em todas as pessoas de todos os lugares. Que, assim, celebremos cada minuto da vida como um milagre que não se repete.

Que não deixemos para “algum dia”, o bem que podemos fazer a nós mesmos, aos próximos mais próximos e a todos os esquecidos nas “manjedouras” de nosso tempo. Que nossa comunhão seja a nossa força e que, inspirados em Seu Amor, assumamos nossa responsabilidade de mudar esse mundo que está aí.

O lugar é aqui e o tempo é agora!

Amém!
                                                                                                         
                                                                                             

                                                                                                                      Renata Villela – Dezembro/2016

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Inquieta e inconformada



De uns tempos para cá é assim que tenho me sentido: inquieta e inconformada.  É como se o meu canal pessoal não estivesse sintonizado com o canal do mundo, das verdades tidas como absolutas, das regras do jogo.  O interessante é que quanto maior é meu incômodo, maior é a certeza de minha vocação... Quem foi que disse que responder ao chamado de Deus para nossas vidas significa encontrar a paz? Pelo contrário! O único recanto onde encontro paz é no coração dEle... No mais, o que pulsa em mim é a inquietação por tantas injustiças, tantos medos impostos aos mais fracos, tanta liberdade cerceada, tanta verdade camuflada para atender ao interesse de alguns, tanta gente triste, desanimada, frustrada...

Já dizia Santa Teresa de Ávila, “tudo passa”... Eu, em meus momentos de solidão, fico me questionando e buscando o discernimento – em oração – sobre o que devo confiar e deixar passar - sob a ciranda do tempo e da consolação - e o que me é dada a responsabilidade de intervir. Tantas vezes a angústia bate à minha porta, porque sou pequena e falível e, por ser assim, muitas vezes não consigo identificar o momento de me posicionar, tomar atitudes, como fez São Francisco;  ou de calar e guardar tudo em meu coração, como viveu Maria, a mãe de Jesus e Nossa Mãe. Longe, muito longe,  de ser como eles dois, esbarro-me  em minhas vaidades e certezas. Tropeço. Levanto. Sigo. Peço a Deus que não me deixe sair do compasso, que eu dance a música que Ele sussurra em meus ouvidos.

Por todas as turbulências do dia a dia, a oração é meu combustível, a Fonte de onde me nutro para não perder o rumo, para buscar viver da forma como Ele espera que eu viva e não do jeito que eu acho que é melhor. São muitos,os apelos do mundo. São muitas informações desencontradas. São muitos anseios e muitas perspectivas diferentes de enxergar a realidade. Somos todos, no mundo de hoje, facilmente influenciáveis. Precisamos ter muito cuidado para não nos deixar levar pela turba... Ou pelas turbas... Daí a sensação de estar em eterna vigília, atenta e desconfiada. Isso inquieta e angustia. Às vezes, traz cansaço também.

Mais acima falei que “quanto maior minha angústia, maior a certeza de minha vocação”, porque é assim que eu sinto... Vem governo de esquerda, vem governo de direita, vem gestão permissiva, vem gestão neoliberal, vem crise, vem pressão, vem maremotos e calmarias, vem metas crueis e luzes apagadas e, no meio de tudo o que vem, uma coisa se enraiza mais profundamente a cada dia: a certeza de minha missão. Tenho certeza de que estou aqui para cuidar das pessoas, para contribuir – através dos dons que Deus me deu – para que o ser humano ocupe seu lugar de protagonista na vida, sujeitos de suas histórias. Quando vejo o desejo humano esmagado pelo rolo compressor das coisas do mundo, meu coração pulsa inquieto. Quando vejo o cuidado com as pessoas ser colocado de escanteio e todas as atenções ficarem voltadas para os cifrões, meu coração engasga, soluça, chora... Ainda que pareça paradoxal, contudo, é  da tristeza que nasce a força que toma conta de mim, trazendo a coragem de lutar, de não me deixar abater. Meu vazio é ocupado pela única “substância” capaz de preenchê-lo:o Amor que me faz amar. Correr riscos, me expor, me indispor, mas amar, amar e amar. Amar com atitides, ações e palavras, mas também com silêncios e oração.

É assim que tenho vivido esses tempos. Assim, acordo todas as manhãs driblando o incômodo  que me desenergiza e transformando-o em inconformismo. Inconformismo movimenta, não abate. Inconformada, peço a Deus que seja a minha força e a minha luz. Quando Ele me abraça na oração, ao mesmo tempo que me consola e acalma,incendeia minha inquietação. Seu Amor provoca em mim, um movimento diferente, que me faz mergulhar e voar. Mergulhada nesse Amor, peço discernimento para não cair nas tentações e nas ciladas da vida. De asas abertas, peço coragem e força para vencer os ventos contrários e chegar aonde for preciso.

Inquieta, inconformada, consolada e impulsionada pelo Amor que dá sentido à minha vida, eu vou... Vou tecendo minha vida.


sábado, 1 de outubro de 2016

Misterio da Fe

  





Vida, morte,
corte que sangra,
mantra que se repete,
parto,parte,
nasce, renasce,
morre, corre,
pulsa,
cursa o rio,
frio e calor.
Amor.
Guerra.
Água e terra,
fogo e ar,
natureza.
Beleza.
Experiência humana,
Deus que se derrama
no inexplicável.

Fé, luz, chuva que cai
no sertão;
sol que ilumina
a escuridão,
união, separação,
renovação.
Noite e dia,
tristeza e alegria,
esperança,
riso que desperta
criança,
pêndulo que balança.
Vida,morte,
corpo, alma,
fim, começo,
mistério.
Lágrima.

Gota de chuva
que pinga do céu,
semente que brota
e rompe o véu
da casca que esconde
o brilho do além.
Mergulhar,
voar,
caminhar,
pousar em algum lugar,
morrer um pouco a cada dia,
viver.

Descanso,
remanso,
e, no contra-ponto,
a ânsia do amanhã.
Manhãs.
Segue a história,
fica a saudade,
memórias e sonhos,
planos, medos,
frustração,
crenças,
laços que tecerão
verdades novas.... Ou antigas...
Cantigas de roda,
prosa e poesia,
alegria sem fim,
convicção além da razão,
inspiração.

A novidade, um dia,
será plena, sim,
e a alma, mesmo pequena,
perceberá
que presenças não passam
nem passarão.

Mistério da fé.

Vida e mistério

    





Vida, morte,
corte que sangra,
mantra que se repete,
parto,parte,
nasce, renasce,
morre, corre,
pulsa,
cursa o rio,
frio e calor.
Amor.
Guerra.
Água e terra,
fogo e ar,
natureza.
Beleza.
Experiência humana,
Deus que se derrama
no inexplicável.

Fé, luz, chuva que cai
no sertão;
sol que ilumina
a escuridão,
união, separação,
renovação.
Noite e dia,
tristeza e alegria,
esperança,
riso que desperta
criança,
pêndulo que balança.
Vida,morte,
corpo, alma,
fim, começo,
mistério.
Lágrima.

Gota de chuva
que pinga do céu,
semente que brota
e rompe o véu
da casca que esconde
o brilho do além.
Mergulhar,
voar,
caminhar,
pousar em algum lugar,
morrer um pouco a cada dia,
viver.

Descanso,
remanso,
e, no contra-ponto,
a ânsia do amanhã.
Manhãs.
Segue a história,
fica a saudade,
memórias e sonhos,
planos, medos,
frustração,
crenças,
laços que tecerão
verdades novas.... Ou antigas...
Cantigas de roda,
prosa e poesia,
alegria sem fim,
convicção além da razão,
inspiração.

A novidade, um dia,
será plena, sim,
e a alma, mesmo pequena,
perceberá
que presenças não passam
nem passarão.

Mistério da fé.

domingo, 18 de setembro de 2016

Sobre a morte de Domingos Montagner



Deixei passar uns dias, a emoção acalmar, a tristeza desafogar o peito e o susto dar lugar à serenidade, para escrever sobre o fato que abalou grande parte dos brasileiros nesses últimos dias: a morte do ator Domingos Montagner.

As primeiras notícias pareciam fake... Nossos corações teimavam em não acreditar! Aos poucos, a incredulidade foi dando lugar à indignação e a nós, coube apenas aceitar o inusitado.

Por que ficamos tão tristes? Ficamos tristes diante da morte que rouba sonhos e planos. Ficamos tristes diante da partida prematura de um grande artista e uma bela pessoa.

É conhecida a afirmação de que “a única certeza da vida é a morte”, mesmo assim, nunca estamos preparados para ela. Sobretudo quando a vida parece pulsar em seu auge, quando saúde, felicidade e sucesso parecem estar de mãos dadas e, repentinamente, uma outra verdade rompe bruscamente o grande espetáculo da existência. Não tem jeito, a morte ignora planejamentos. Somos vulneráveis, frágeis, pequenos demais diante dos mistérios que nos envolvem !

Além disso, não foi a morte de uma pessoa qualquer, foi a morte de um palhaço! Em nossa percepção limitada, palhaços não combinam com lágrimas. Não foi a morte de uma pessoa qualquer, foi a morte de um artista e artistas de verdade sintonizam com o que temos de mais essencial. Não foi a morte de uma pessoa qualquer, foi a morte de um ser humano que honrava valores tão desprezados em nosso tempo.

Morreu um cara diferente, esse é o discurso que se repete a cada pronunciamento. Morreu o “santo” de “sete vidas” que fez tantos se reconhecerem nas dúvidas e na paixão, nos sonhos e nos medos, na coragem, na verdade e na humanidade de seus personagens. Morreu o que, em “Velho Chico”, encarnou a fibra do nordestino que não desiste nunca.

Muitos falaram que o Domingos era um “ser de luz”...Fiquei imaginando a luz que mergulha nas águas do rio. Veio em meu coração, a imagem de um batismo: águas de purificação e renovação. Encontro de luz e água. Fim e começo. Vida, morte, vida.

Foi uma despedida. Sim, uma despedida... Não do jeito que ele ou a Camila imaginaram. Não do jeito que ninguém seria capaz de supor. As gargalhadas despertadas pelo palhaço molharam-se e calaram-se. O São Francisco – tão desprezado, maltratado e esquecido – abraçou o porta-voz de seus ribeirinhos. Um rito de passagem e, como disseram os indígenas, ele não morreu, apenas ganhou mais luz, mais força.

Não foi um evento místico nem uma manifestação holística como alguns disseram. Foi uma fatalidade. De certa forma, foi também consequência da irresponsabilidade dos que não sinalizaram devidamente o local.  Poderia ter sido diferente? Talvez sim, talvez não. Na vida real, “e se” não tem efeito algum. Triste. Surpreendente. Não estava no script. Não foi uma cena. Não foi gravação. Não fazia parte de roteiro algum.
Foi a morte de um artista. Morreu um homem de bem.  Quando artistas morrem levam um pouco de nós, porque são vozes de nossas almas. Quando homens de bem morrem deixam um tanto de si em nossos corações, reforçando nossa esperança  e nosso desejo de fazer diferença nesse mundo tão louco.

O que fica é um imenso silêncio. Silêncio de tristeza, sim, mas, sobretudo de reverência! Obrigada, Domingos Montagner, por sua arte e por sua verdade! Obrigada por sua sensibilidade e por sua alegria! Obrigada por sua luz, por seus valores, por ter compreendido e transmitido com tanta propriedade, as dores e os sonhos dos nordestinos.

 Obrigada por sua vida!

Desejo que seus filhos passem – com amor – por essa turbulência! Que vivam  – em comunhão com tantos que vocês cativou – e possam, daqui a um tempo, celebrar sua vida. Desejo que guardem em seus corações, a honra de serem filhos de uma pessoa que deixa marcas de dignidade num país atolado em corrupção e marcas de sensibilidade num tempo de indiferença  e  desesperança.

Benditos os que mergulham e não voltam, mas ficam no lugar mais sagrado de todas as pessoas: em seus corações. Bendita, a sua vida ! Bendito, o seu legado.



sábado, 3 de setembro de 2016

Divagações de um sábado à noite




O que faz uma pessoa num sábado à noite? Dança? Vai a um restaurante? Degusta um bom vinho? Vai para um luau com amigos? Senta na varanda pra jogar conversa fora? São tantas as opções.... Eu estou no meu quarto, viajando em meus pensamentos.... Surfando nas ondas da vida...


Até bem pouco tempo, eu me sentia uma menina. De uns tempos pra cá, sinto que a maturidade bateu em minha porta. Quando eu falo em maturidade, não estou falando no “peso” da idade, pelo contrário, falo da leveza de começar a olhar a vida, ou melhor, de sentir e viver a vida de um jeito diferente. Descobri que já dei valor a coisas que não tinham valor algum e deixei passar batido, outras tão valiosas. Percebi quanto tempo a gente perde idealizando as pessoas e as situações e deixando de experimentar a vida e amar as pessoas do jeito que elas são. Mas não tem jeito: são coisas que só a sola de sapato gasta traz; é uma paisagem que só vê, quem já escalou alguns metros. Não é prêmio de consolação dizer que cada idade tem a sua graça. É verdade! E eu estou vivendo a graça de ter passado de fase, virado a casa dos cinquenta e já estar usufruindo dela há mais de ano. Não é uma chave mágica, é – com certeza – parte de uma construção que ainda trará outras fases. O fato é que é perceptível a mim mesma, a diferença entre quem eu era há cinco, dez anos e quem sou hoje.  Não sei se é um processo pessoal, creio que não, por isso partilho. Lembro do estudo dos setênios, na Antroposofia e percebo o quanto há de sabedoria nesses estudos. É real.

Mas o que é tão diferente assim depois da quinta década? Não é matemático, claro, mas coisas mudam:  a relação com as pessoas, o amor, a percepção do tempo, o posicionamento diante da vida....

Por um tempo na vida, quando a gente ama alguém, tem várias expectativas. Idealiza. De repente até, amamos quem idealizamos e não de fato quem a pessoa é. Talvez, (quem sabe?) por isso, tantos relacionamentos terminam ou se estremecem: relacionamentos amorosos, amizades, relações familiares.... Quantas vezes já dissemos que nos decepcionamos com alguém? Engraçado, isso. Hoje, quando olho para meus amigos, para minha família, tenho a sensação de conseguir olhar para cada um como cada um é e não mais como quem eu desejei que fosse. E até acreditei que fosse. Não sinto decepção quando algum deles age ou reage de forma diferente da que eu imaginei. Posso ficar surpresa, posso até ficar triste se for algo que tenha me machucado de alguma forma. Parece que – na hora – acende uma luzinha e me diz: “foi você que imaginou diferente”. Em outras situações, me diz “por que ela não pode errar”.. Isso traz uma certa liberdade. Somos livres para ser quem somos. Não precisamos corresponder às expectativas das pessoas.  Claro que isso não sgnifica que não devemos nos preocupar uns com os outros. Devemos, sempre, cuidar uns dos outros, mas só vamos cuidar de verdade se formos quem somos e se enxergarmos o outro como ele é. A grande constatação que faz diferença a essa altura da vida é: somos imperfeitos, falíveis, vulneráveis, aprendizes!  E é assim que precisamos nos amar, sabendo que temos espinhos, além dos perfumes. É bom quando nos damos conta que nossas famílias têm conflitos e não se parecem em nada com aquelas das propagandas de margarina; que o namorado tem chulé, que a melhor amiga às vezes tem reações que nos incomodam, que o professor escreve uma palavra errada, enfim.... Somos lindamente humanos e estamos aqui para errar, acertar, viver, amar, aprender. A vida não é um palco e nossas histórias (graças a Deus) não são contos de fadas. A vida real é assim, cheia de atropelos. E, nos atropelos, vem outra sacada que faz diferença depois dos cinquenta: tudo passa. Mesmo! A gente começa a não mais só falar isso para as pessoas,mas a sentir isso em nossas vidas. Já dá pra olhar pra trás e ver que as coisas passaram: turbulências, alegrias, festas, quedas.... É verdade que, às vezes, ficam cicatrizes, como, às vezes, também, ficam doces lembranças, como caixinhas de música que abrimos de vez em quando para nos reabastecer. Por outro lado, surge uma nova consciência de tempo e espaço. Conseguimos perceber a presença do eterno de uma forma sutil em nossas vidas e somos capazes de sentir a presença viva, em nossos corações, de quem está em outras terras ou dimensões. Também conseguimos perceber a presença de Deus em nossas vidas de um jeito absolutamente pessoal.
                                                                                                   
Passamos a ter outra perspectiva de quem somos, nem mais, nem menos. E do que precisamos também. A saúde emite alertas. A vida aponta sinais. Leituras, filmes, peças de teatro,músicas, jogos de vôlei na televisão, encontros, abraços, conversas, silêncios, tudo nos ensina algo, de alguma forma. É verdade que, alguns desses ensinamentos vão para uma repositório especial, aguardando o tempo de os compreendermos em sua essência. Graças a Deus, nem tudo se sabe, nem tudo se entende aos cinquenta... 

Dentre as tantas coisas que descobrimos, uma delas é que não somos tão sabidos como já pensamos, um dia, que éramos. Mas é bom, também, quando a gente se surpreende ensinando alguma coisa para alguém, muitas vezes, coisas que não estão em livro nenhum, mas são fruto do que aprendemos com nossos passos. É gostoso falar o que você pensa, do jeito que você sente, expondo sua opinião, sem se preocupar se vai quebrar expectativas. Não somos obrigados a concordar com ninguém: cultivando o respeito, a diversidade é super bem vinda. E os conflitos, ainda que amedrontem, desestabilizem, façam aflorar sentimentos incômodos, não são mais o fim do mundo.

Por mais que a gente precise de dinheiro, a gente não vive mais para trabalhar nem trabalha para viver. Trabalha e vive. Melhor ainda quando o trabalho alimenta a vida e a vida alimenta o trabalho. Viver vai ganhando, dia a dia, um significado maior. Parece que, ao sentido da vida, vai se colando a consciência de nossa missão. Sabemos – de dentro pra fora – que não estamos nesse mundo à toa.  A gente se olha no espelho e vê que a pele não é mais a mesma, às vezes nem a voz nem os cabelos. Só que não precisamos do espelho para olhar quem somos. Conseguimos nos reconhecer não apenas nos nossos feitos, em nossas conquistas, em nossas qualidades, nas coisas todas que as pessoas reconhecem de valor em nós. Reconhecemos-nos também na palavra grosseira que escapuliu de nossa boca, na atitude egoísta em determinada situação, nas pisadas de bola, dos trompaços, nos vacilos, nas quedas e em todas aquelas coisas que não são tão bonitas assim, mas fazem parte de nós. Nossas sombras.  Aos cinquenta, sabemos que temos nossos momentos de princesa e de bruxa, de luxo e de lixo, de luz e de sombra, de dias ensolarados e noites chuvosas. Tudo nos constitui. E tudo é oportunidade de nos reinventar, juntando nossas peças, unindo nossos pedaços.  A nossa frente, sempre, infinitas possibilidades. E sempre um convite: viver ! E a gente vai vivendo, tirando da mochila coisas que não trazem benefício algum:mágoas, ressentimentos, travas... Com a mochila mais leve, percebemos que precisamos de muito pouco para ser feliz. E a felicidade fica mais paupável, presente no presente, nas coisas pequenas, na florzinha na beira estrada.



Divagações de um sábado à noite.....

segunda-feira, 11 de julho de 2016

Mergulho em meu Eu



Sou pote vazio
Sedento de amor
A folha em branco
Que sonha com a cor.

O nó apertado
Amarrada estou,
Eu quero ser laço
A unir dom e dor.

Há medos que esmagam
E engasgam minha voz;
Há um choro contido:
“Não há mais heróis!”

Assusta-me a força
Que vem com a ventania
Eu sinto em meu peito
A dor da agonia.

Num porto seguro
Eu quero aportar
Mas nuvens não deixam
Eu achar meu lugar.

Sou vaso rachado
Por causa das quedas
“que eu regue o caminho”
Me diz o poeta.

Eu sei que eu sou
Menor que um grão
Só posso dar flor
Se Deus for meu chão.

Eu quero a paz
De criança dormindo
A graça e a leveza
De um campo florindo.

Só quero o vento
Batendo em meu rosto
Olhar o horizonte
Além do desgosto.

Eu quero um caminho,
Por onde andar
E o calor de um ninho
Onde eu possa pousar.

Quero o Colo de Deus
Para eu recostar
E, sentindo o Amor,
Outra vez despertar.

Calando meus medos,
Deixando brotar
A flor do desejo,
Servir e amar.

No abraço de Deus
Quero me abastecer
Só assim serei  livre
Pra inventar o meu ser

terça-feira, 28 de junho de 2016

Pedro

Há 15 anos escrevi esse texto....Passado tanto tempo e ainda tenho tanto a aprender com ele....



A humanidade de Pedro é algo que contagia !

Pedro não tem nenhuma pretensão em ser um deus, perfeito e superior às fraquezas. Pelo contrário, homem simples no meio de tantos outros iguais a ele, Pedro sintetiza a diversidade dos sentimentos que marca nossas caminhadas.

Se, por um lado, ele foi ousado e se arriscou a caminhar sobre o mar a chamado de Jesus;  por outro, no meio do caminho, ele se acovardou, sentiu medo e afundou.
Se ele seguiu Jesus com a convicção de quem encontrou o Mestre, teve também seu momento de duvidar, de questionar, de não compreender.
Se ele vacilou em jogar a rede ao mar, desconfiando do sucesso de sua pescaria, também ele deixou-se levar pela fé que impulsiona a uma atitude concreta, na busca do que se deseja e presenciou o milagre da rede transbordando de peixes.
Se ele se acovardou diante dos soldados romanos, negando Jesus por três vezes, foi ele o que disse Sim e que viveu o sim ao compromisso de edificar a igreja.

A dignidade de Pedro é que o engrandece : a integridade de um homem que reconhece seus erros  e não tem vergonha de voltar atrás; a simplicidade de um pescador que assume suas dúvidas e incompreensões mas é capaz de superá-las pela força de sua fé. A dignidade de Pedro é que o engrandece: a coragem de um apóstolo que, ainda que tendo momentos de medo e indecisão, levou seu amor a Deus até as últimas conseqüências; a perseverança desse discípulo que, mesmo por vezes vacilando, escorregando, não desistiu, superou-se a si mesmo e cumpriu a sua missão.

Que seja Pedro, para nós, um exemplo de conversão, daquela conversão diária que aperfeiçoa nosso exercício de viver.
Que seja ele, não o exemplo da perfeição, mas o da imperfeição que se corrige a cada instante, que se transforma a cada atitude, que se supera por causa do amor que dá  um novo sentido a cada passo, fomentando a vontade de levantar a cada tropeço e de sempre recomeçar a pescaria, na esperança dos peixes, mesmo após dezenas de redes vazias.


                                                                                  Renata  Villela
                                                                            Grupo  OPA  -   Junho / 2001

quinta-feira, 2 de junho de 2016

Mudar, voar, viver, amar,


 Mudar é possível,
é preciso.
Encarar o imprevisível,
metamorfosear.
Superar medos,
olhar além,
contemplar o desconhecido.
Mudar é necessário,
primário,
da raiz do ventre
ao vento do amanhã.
Mudar,
transformar-se e transformar,
viver experiências novas,
inovar,
desenrolar novelos
e tecer novas manhãs.
Despertar,
acordar o outro lado de nós mesmos,
crescer,
empreender e se desprender,
desapegar, lançar-se ao mar
navegar,  depois voar, plainar no ar
e voltar pra mergulhar.
Quebrar expectativas
sentir viva a chama que alimenta
cada passo
e abraçar as experiências
que se despontam a nossa frente.
Enfrentar resistências
e lançar-se além do que a consciência vê.
Planejar ou simplesmente ir,
 sem pensar,
viver,
respirar.
Saber que quase nada (ou quase tudo?) depende de nós,
eis o eco de nossa voz!
Gritar, cantar, calar.
Mudar de posição,
inventar o tom da canção,
e deixar-se levar
pelos acordes de um violão,
ou violino, o que importa?
 Sentir-se menino
diante de um avião,
abrir a porta do desejo trancado
no sótão.
Viajar,
dançar,
esbaldar-se na pura magia
de uma melodia qualquer.
Quebrar paradigmas,
vencer desertos,
achar oásis
e chegar mais perto do sol,
da lua e das estrelas.
Brilhar!
Ser luz,
contagiar,
acreditar que tudo vale a pena,
a vida é turbulenta
e é serena,
e  viver pode ser sempre
um lindo ato de amor.


                            Renata Villela  -  Junho/2016

domingo, 15 de maio de 2016

Oração do Espírito Santo




Vem, Espirito Santo,
acende a chama desse fogo que queima,
desse amor que teima
em ser maior do que tudo
que se pode sonhar.

Ensina-nos a amar
no Teu Amor
e, assim, recriar a vida,
retomar o rumo da felicidade
e renovar a Terra,
ser o sal da Terra,
ser fermento e luz.

Vem, Espírito de Deus,
abre nossos ouvidos
para que escutemos Tua voz,
abre nossos olhos
para que enxerguemos Tua luz
e conduz nossos passos
aonde nasce o sol.

Consola-nos, Espírito de Amor,
mostra-nos o real valor
de tudo que existe.
Que não fiquemos nem mais alegres
nem tristes
do que devemos ficar;
que sofrimento e esperança
encontrem a temperança
na graça de nosso sorriso,
no brilho de nosso olhar.

Espírito de Deus,
invade nossos corações
com a chama que nos traz calor.
Aquece-nos e ajuda-nos
a não cair em tentações
e a seguir aonde for preciso ir,
sem vacilar.

Espírito que é  luz,
entra pelas janelas de nossas almas,
acalma nossas angústias,
dissipa nossas preocupações !
Ilumina nossos cantos mais escuros
e anima-nos a derrubar todos os muros
que nos afastam uns dos outros.

Espírito de Deus,
desce sobre nós
e envolve nossas vidas
com Teu amor maternal,
afasta de nós, todo mal
e permite-nos viver em Tua paz.
Amém!


https://www.youtube.com/watch?v=26IShEQGc8I


sexta-feira, 6 de maio de 2016

Mães especiais


Mães – quando abraçam a maternidade com o coração – tornam-se pessoas especiais. Independente de idade, cor da pele, nacionalidade, classe social... Ser mãe transcende tudo o que estamos acostumados a rotular e a dividir. Entram numa categoria única: a categoria dos que amam incondicionalmente!
Nesse ano, quero falar das mães e para as mães, trazendo um olhar novo. E para começar, quero lembrar o que os noticiários têm reforçado diariamente, através das campanhas de combate ao mosquito Aedes, sobretudo depois da descoberta das consequências do Zika Virus em mulheres grávidas. O nascimento de centenas de crianças com microcefalia trouxe um susto geral para a sociedade. E isso me fez pensar muito nessas crianças e nessas mães !Somos - como sociedade - responsáveis por tudo o que está acontecendo, seja pela falta de cuidado com o meio ambiente, seja pelo foco deturpado do interesse político... Entretanto, ouvi pessoas dizerem que tudo isso é castigo de Deus...Imagina se Deus castigaria alguém, na relação mais divina que existe?
Sempre achei – desde os primeiros casos – que Deus se serviria, sim,  dessa falha humana para nos fazer amar melhor. Digo isso porque – a meu ver – crianças especiais são anjos que fogem do céu para nos ensinar a ser pessoas melhores, para nos fazer enxergar o que é invisível aos olhos e nos despertar para o que realmente vale a pena na vida.. Não vou diminuir o sofrimento dessas mães...Não sou capaz de dimensionar tudo o que acontece, dia após dia, na vida dessas pessoas que precisam lidar com suas frustrações, superar seus limites, aprender coisas que jamais imaginaram. Mas, apesar disso – ou para além disso – vejo essas mães como pessoas privilegiadas, escolhidas por  Deus para cuidar de seus anjos mais especiais.
Essas mães, que se desafiam diariamente, que eu quero homenagear no dia das mães e em todos os dias de suas vidas. A essas mães que aprenderam – na contra-mão do que a sociedade ensina – o que é, de fato, importante na vida, que eu quero desejar alegrias renovadas. Para essas mães que, diariamente,  dizem sim ao amor e reassumem esse sim a cada minuto, eu peço a Deus que as abençoe com todo Seu amor.
Mães especiais com suas crianças especiais resgatam, em nós, o que há de mais puro e verdadeiro em nossos corações. Num tempo em que tantos se ofendem com palavras e gestos, essas mães com seus filhos nos ensinam uma linguagem que ultrapassa nossa lógica, ao transbordar pelo olhar, ternura e cumplicidade.
Vamos tão longe, corremos tanto em busca do que desejamos quando, o que relamente precisamos está tão perto: um olhar, um sorriso, um abraço que traduz a eternidade do amor. Essa é a lição que as mães especiais nos dão: que olhemos mais nos olhos, que curtamos mais os sorrisos, que vivenciemos melhor cada abraço e resgatemos, em nossas relações, esse “invisível” que vale muito mais do que as tantas cobranças que o mundo nos faz !

Que o dia das mães seja ESPECIAL!


                                                                  Renata Villela