sábado, 20 de fevereiro de 2010

Tempo de Transformação

A Quaresma é, verdadeiramente, tempo de reflexão, de transformação interior, de passagem ! É momento de nos permitirmos entrar em nosso casulo interior para que consigamos penetrar na essência mais profunda de nosso ser e, assim, reconstruirmo-nos a partir de cada descoberta.
Tudo deve partir da nossa sede de felicidade enquanto filhos do Infinito ! É impossível experimentar a felicidade verdadeira na superficialidade, no efêmero e, como lagartas presas na terra, rastejar num limitado e obscuro horizonte… Não foi para sermos seres-lagartas que fomos criados ! Não nascemos para rastejar e nos prender ao chão ! Não estamos aqui para cavarmos buracos e nos enterrarmos na escuridão ! Nascemos para a liberdade, para a plenitude, para a luz ! Nascemos para abrir asas e descobrir o infinito de um céu que contagia e emociona ! Nascemos para ser borboletas de Deus !!!
Entretanto, a passagem de lagarta à borboleta não se dá feito num passe de mágica… Precisamos do casulo, precisamos sentir a dor da transformação, redimensionar nossa existência….e isso é um processo lento …. Não dormimos lagartas para amanhecer borboletas… Dormimos e amanhecemos várias vezes até que nos sintamos verdadeiramente “despertados” para a vida nova ! E olha que quando se trata de nossa vida espiritual, corremos o risco de vivenciarmos um processo inverso ! Isso porque Deus é tão bom que nos dá a liberdade de escolher ser quem quisermos ser… Temos sempre a opção de ser lagartas, de desistir da luz, de recolher as asas e acolher os buracos que cavamos como nosso ponto de referência… ou não …. Essa é uma reflexão e uma transformação do dia-a-dia… criamos e rompemos nosso casulo na medida em que nos percebemos únicos na missão que nos foi presenteada e, ao mesmo tempo, parte de um todo que somente existe quando devidamente coeso e interdependente - a humanidade !
Viver a Quaresma em sua totalidade é buscar o porquê da escuridão, é estar consciente da necessidade de cada transformação, é saber “perder”, é acreditar que todo fim é o marco de um novo começo e que a luz só encontra seu valor depois de uma experiência de escuridão !
Não amamos os pregos, os espinhos, a taça de fel… amamos o “depois” do túmulo vazio, a presença em Emaús, o brilho do terceiro dia ! Não amamos a cruz que prendeu o corpo de um homem que pregou o amor e a dignidade… Amamos a significação que essa cruz passou a ter quando se tornou ponte para a Eternidade, consolidando nossos laços de Filhos com esse Deus que, mais do que nunca, se mostra Pai , tendo sido “O Filho” e ficando para sempre presente entre nós, como Espírito Santo !
Não amamos o Deus da morte, do sofrimento, do vazio, do fim ! Amamos o Deus da luz, da paz, da alegria, da ressurreição!
Por tudo isso, o que mais queremos é conseguir aceitar, a cada passo, o peso de nossa cruz, a dor de cada queda e compreender a presença de cada Verônica e de cada Cirineu em nossa caminhada… Simplesmente acreditar ! Ter fé ! Sentir a presença desse Deus que nos acolhe e nos escolhe para perpetuar essa Páscoa a todo instante ! Saber que só se é borboleta, depois de se ter sido lagarta, só se ressuscita depois que se morre, e morrer e ressuscitar pode ser um exercício diário, uma verdadeira experiência de oração e entrega ! Não podemos deixar de saber o que é ser lagarta, conhecer tudo o que o chão tem a nos ensinar para que estejamos suficientemente maduros e convictos da responsabilidade de nos tornarmos borboletas ! Não podemos desprezar a cruz mas compreendê-la como fonte de aperfeiçoamento espiritual, como passaporte para a vida nova, para a felicidade verdadeira, para a luz e para a paz !
A certeza de que somos eternos mutantes é que nos move para a plenitude, nos encoraja a vencer os desafios, comemorar toda e qualquer vitória, por mais pequenina que ela possa parecer, nos impulsiona a partilhar tudo o que foi aprendido em cada experiência e a reconhecer, nessas experiências, a oportunidade de repensarmos nossa vida ! Esse é o exercício da Páscoa ! Essa é a mensagem da Quaresma! Esse é o segredo de nossa transformação … diária, contínua, crescente
Renata Villela

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