Novamente chega dezembro, mais uma vez, é tempo
de Natal. Temos, como em todos os anos, diferentes alternativas para viver esse
tempo. Podemos ocupar a maior parte de nossas horas do dia indo aos shoppings
superlotados, comprar, comprar, comprar, fazer dívidas maiores do que nossa
condição de pagá-las e nos deixar levar pela turba contagiada pelo consumismo.
Podemos, por outro lado, simplesmente, aproveitar esse tempo para presentear as
pessoas que amamos, independente do valor material que esses presentes tenham,
apenas como uma forma de materializar nosso carinho. Podemos também não comprar
nada e nos esquivar desse lado que o comércio tanto gosta de explorar. O mais
importante é que, independente de qual seja a nossa escolha, tenhamos viva
dentro de nós a certeza de quem é o dono de quem: temos o dinheiro que compra
ou o dinheiro nos tem com reféns? Reforçarmos ou recuperarmos nosso lugar de
sujeitos da história é o que realmente importa. Não sendo assim, a manjedoura
continuará vazia!
É tempo de Natal! Podemos nos preocupar com a
ceia, para que seja a mais deliciosa possível, perus, leitões, bacalhau,
tender, frutas secas, nozes, avelãs, castanhas, saladas variadas, toalhas
coloridas... Podemos, por outro lado, arrumar a mesa da cozinha e lá colocar
feijão, arroz e carne seca. Podemos, ainda, ter apenas um pedaço de pão... Na
verdade, meu sentimento é de que pouco importa o que está sobre a mesa, importa
quem está em torno dela: que sejam pessoas que partilham seu dia-a-dia com amor
e respeito mútuo, que sejam pessoas dispostas a revisitar seus cantinhos
escuros para, assim, transformarem-se em pessoas melhores para o outro, pessoas
com dificuldades, com espinhos, pecadoras, mas que se esforçam para se entregar
e integrar por causa do Amor que as faz amar. Se não for assim, a manjedoura
continuará vazia!
Podemos tantas coisas...Ir à missa ou ao culto,
ou ao lugar sagrado, seja ele qual for, onde nos sintonizamos com Deus todos os
dias, ou podemos não conseguir ir a
esses lugares, tantas vezes quanto gostaríamos. Podemos fazer novena, retiros
espirituais, silenciar,mergulhar em nossos corações e buscar no silêncio, o Amor que nos renova.
Podemos também exercitar esse amor visitando creches, orfanatos, asilos, na
ânsia de fazer o que desejamos durante todos os meses do ano, mas acabamos nos
deixando levar pelo corre-corre ou pela rotina.
Não importa qual o caminho que
encontramos para desempoeirar nosso desejo de amar nesse tempo de Natal,
importa, sim, que esse desejo se torne realidade e nos faça crescer em
fraternidade...E nos impulsione a multiplicar os momentos de encontro, seja com
nosso eu mais profundo, seja com os pequeninos de Deus, sempre como exercício
de amor porque, se não for assim, a manjedoura continuará vazia.
Podemos encarar o mês de dezembro como apenas
mais um mês do ano, igual a todos os outros. Podemos encarar esse tempo como
oportunidade de fazer o que sentimos vontade durante o ano e não conseguimos.
Podemos chorar de saudade do tempo que se foi ou das pessoas que partiram.
Podemos voltar à infância olhando as crianças diante do Papai Noel. Podemos
tirar um percentual de nosso salário para contribuir com uma dessas campanhas
que sempre acontecem aos dezembros. Podemos armar nossa árvore e arrumar nosso
presépio. Mas se tudo isso for feito mecanicamente, como quem repete a mesma
coisa que faz desde que nasceu... Sinto muito, a manjedoura continuará vazia.
Viver o Natal é se permitir ser a manjedoura
vazia onde Jesus Menino nasce para viver, dentro de nós, durante os 365 dias do
ano. Viver o Natal é faxinar nossa casa, passar a limpo a história que
escrevemos ao longo do ano, revendo tudo o que nos fez sofrer (ou que fez
alguém sofrer), repensando todas as oportunidades de fazer o bem a alguém, que
deixamos passar batidas, por omissão ou
comodismo e, com a casa arrumada, nos predispormos a viver diferente. Viver o
Natal é sentir – de dentro para fora – que podemos ser pessoas melhores sempre,
que Deus nos ama do jeito que somos, pequenos, pecadores, falíveis e faltantes
e espera de nós, quetambém amemos, inclusive quem nos faz mal, doando nossos tesouros a quem cruzar nossos
caminhos.
Viver o Natal é simples, apesar de não ser
fácil, mas não é fácil,justamente, porque aprendemos a complicar tudo, a
transformar supérfluos em primeiras necessidades, a desconfiar de todos, a
pagar por tudo e, assim, desaprendemos a
simplicidade, a gratuidade, o companheirismo e a confiança.
Tudo começa num SIM. E eu acredito que, a cada Natal, menos
manjedouras estarão vazias, por mais que a mídia noticie o inverso.
Tudo começa num SIM. E eu acredito que viver o
Natal não é apenas relembrar o que já aconteceu. É fazer acontecer o que virá,
com AMOR.
Pensando assim ou, mais do que isso, sentindo
assim, que consigamos viver cada Natal e todos os Natais, como a terna
oportunidade que Deus nos dá de acolher o Amor em nossos corações e assumir o
compromisso de, encontrando manjedouras vazias, apontar a estrela que mostra o
caminho ao Salvador.
Renata
Villela - Dezembro/2013
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