domingo, 25 de outubro de 2015

Olhar os invisíveis



Dai-me, Senhor, olhos no coração
para que eu seja capaz de enxergar
os invisíveis espalhados por nossas ruas.
Pessoas. Sim, pessoas!
Apesar das peles ressecadas, das unhas sujas,
das faces transfiguradas, das roupas rasgadas,
e dos sorrisos roubados  numa madrugada qualquer,
pessoas!
Identidades perdidas em meio às feridas do abandono,
vidas sem dono, sem sujeito, sem protagonismo,
espelhos da esquizofrenia social.

Dai-me , Senhor, sensibilidade para trasnpor
a invisibilidade dessa gente encostada nos muros,
no escuro sofrido debaixo do sol.
Dai-me a coragem de me expor
aos medos que a  sociedade derrama em mim,
e faz calar meus gritos
e paralisar meus movimentos.
Que eu saia da comodidade para a ação,
indo ao encontro da realidade imunda
dos submundos que criamos com nosso jeito de viver.

Dai-me, Senhor, a percepção do que sou
e do que não sou,
do que faço
e do que não faço;
e de tudo o que desfaço
com a minha omissão.
Dai-me a coerência necessária
para viver o que eu digo,
para olhar além de meu umbigo,
como o Cristo ensinou com sua própria vida.
Que eu não relativize os mandamentos
nem dê significado menor ao amor;
que eu  seja, de verdade,
fermento e sal,
ultrapassando o  temor do mal
que possa me acontecer.
Amar é mais!

Dai-me, Jesus,
a coragem pra seguir o Seu chamado,
sem impor condições,
sem colocar restrições,
assumindo a cruz que me couber.
Se eu tiver que me machucar, que assim seja,
se eu tiver que correr riscos, que assim seja,
mas que sempre pulse mais forte em mim,
Seu Amor!

O caminho da entrega não pode esperar segurança,
na estrada de quem se doa,  sempre haverá tempestades,
na verdade, é um voo com turbulências
com um pouso garantido,
amor vivido até as últimas consequências,
muito além do cuidado com a autopreservação.
Que eu pague os pedágios de meus medos e inseguranças
e me coloque a caminho,
que eu me alimente da oração
e me abasteça de Seu carinho.

Dai-me, Jesus, a perseverança para ultrapassar as fronteiras
existentes entre as classes.
Que, movida pelo desejo de amá-Lo
em cada um que eu encontrar,
eu tire as vendas de meu olhar
e enxergue os invisíveis,  
seus pequeninos, Senhor!
Que eu pare num canto da rua
ou chegue às periferias,
transformando palavras em atitudes,
cultivando a alegria que nasce do Seu Amor.
E que, assim,
eu redescubra e saboreie, dia a dia,
a gratidão que faz sorrir
e multiplique a experiência desses encontros
que palavra alguma
é capaz de traduzir.


                                    Renata Villela (Outubro/2015)

Um comentário:

  1. É a maior escritora do universo, do planeta, do mundo. Ela é minha filha. Se alguém tem alguma parecida, me avise para que eu possa conferir.

    ResponderExcluir